Agronegócios
Vai para a China e não é grão: conheça o pão de queijo feito com arte
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A receita é mineira; as mãos que produzem, mato-grossenses; e o destino final é a China. Ao levar o pão de queijo que é produzido pela empresa Pão e Arte, o mineiro Rodrigo Nogueira rompe a tradição de que apenas produtos do agronegócio mato-grossense ganham destaque no mercado mundial.
Poderia ser incomum um produto tipicamente mineiro ter tanta aceitação na China. Mas até conquistar o território chinês, Rodrigo teve que percorrer um longo caminho, de quase 20 anos. A Pão e Arte surgiu de uma receita familiar, já que os pais de Rodrigo trabalhavam com panificação em Minas Gerais.
De uma pequena cidade que já teve por nome “Ventania” – hoje Alpinópolis, com quase 20 mil habitantes –, Rodrigo resolveu em 1997 fazer as malas e vir para Cuiabá. A forma de se sustentar na capital mato-grossense foi com o pão de queijo. Assava o produto às 5 horas da manhã e, nos horários de grande movimento, ia para região central da cidade, muitas vezes vendendo em praças e também de porta em porta.
O produto foi tão bem aceito que em 2000 Rodrigo abriu uma pequena fábrica no bairro Tijucal, com apenas três funcionários. Depois de dois anos de operação, sentiu a necessidade de expandir sua atividade, mudando a fábrica para o Distrito Industrial, onde está até hoje.
Dos três funcionários da pequena fábrica aos 500 empregos diretos e 200 indiretos, muita coisa mudou. Rodrigo percebeu que deveria investir em matéria-prima de qualidade e na confecção de outros produtos, como o pão francês, por exemplo.
Por dia, são produzidas cerca de 150 toneladas de pão francês na fábrica, uma média de 3 milhões de pãezinhos diariamente. Deste montante, 70% da produção atende oito estados brasileiros.
À receita do sucesso Rodrigo atribui a qualidade da matéria-prima. Ele traz de fora o que há de mais saboroso: o queijo, da Serra da Canastra, em Minas Gerais; o polvilho, do Paraná; a manteiga, de São Paulo; e o trigo, da Argentina. Com esse olhar diferenciado e o cuidado com a confecção de cada produto, Rodrigo despertou o interesse do mercado mundial.
Negócio da China
A ideia de desbravar o mercado chinês surgiu da realidade econômica e política do país. “Nós estamos tendo dificuldade desde o ano passado no mercado interno, devido a esses altos e baixos no país. Então, estamos mirando neste mercado de fora, para ver se conseguimos um certo equilíbrio”, contou o empresário.
Rodrigo e outros comerciantes embarcaram rumo à China para participar de uma feira que, ao invés de promover os produtos do próprio país, fazia o caminho inverso: abria as portas para os produtos de outros lugares do mundo.
Assim, Rodrigo percebeu que o Breadzilian – a linha de pão de queijo premium produzido por sua empresa – poderia ser um “negócio da China”.
Este foi o primeiro contato com o mercado. Agora Rodrigo está em processo de abertura de uma filial da empresa em Pequim e da assinatura de contrato para exportação do produto. A expectativa é exportar de 20 a 30 contêineres de pão de queijo por mês para o país asiático.
O mercado chinês, de acordo com Rodrigo, tem potencial para ser explorado. “A China possui 37 zonas francas e eu estou falando somente de uma em que entrei. Olha a possibilidade que temos neste país”, pontuou.
O apoio da Desenvolve MT, agência de fomento do Governo de Mato Grosso, foi importante para a conquista deste novo mercado. De acordo com o empresário, a consultoria da agência tem aberto as portas para o mercado internacional e estimulado algo que até então Rodrigo não valorizava tanto: as vendas pela internet.
De acordo com o diretor-presidente da Desenvolve MT, Levi Sallies, a consultoria está sendo disponibilizada para oito empresas neste primeiro momento. O projeto ainda está em fase de concepção, mas já deu sinais de que deve ser ampliado para beneficiar mais empresas.
“Além da consultoria e da inserção destas empresas no mercado internacional, a Desenvolve MT também oferece linhas de crédito para fomentar estes negócios, estimulando a produção mato-grossense. Além do pão de queijo, produtos como o açúcar mascavo e a rapadura produzidos aqui também estão sendo exportados para a China”, contou Levi.
Dificuldades
A logística é um dos grandes entraves encontrados pelo empresário, tanto para exportação dos produtos já prontos, quanto para a importação da matéria-prima. Estar longe dos grandes centros e a má qualidade das estradas dificulta todo o processo. Dependendo do local, o produto só chega um mês depois de ser produzido.
“Nós produzimos aqui e mandamos para outros lugares. O lugar mais difícil de chegar é Manaus (AM), que demora 20 dias na época da cheia e 30 na época da seca. O meu produto demora 45 dias para chegar na China e confesso que está sendo mais fácil mandar para China do que para Manaus”, afirmou.
Outra questão defendida pelo empresário é com relação aos incentivos fiscais. Uma possível diminuição na concessão dos incentivos faria muitas empresas deixar Mato Grosso, gerando então mais um entrave para os empresários. Atualmente, a empresa possui 100% de incentivo para a importação de matérias-primas.
“Hoje nós temos o Prodeic, que nos ajuda muito. Mas se não tivesse esse incentivo hoje, nosso custo subiria demais. No meu caso, eu compro a maioria dos produtos de fora do estado, então a gente já tem tudo incentivado, o que é ótimo para produzir”, destacou o empresário.