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Somos importantes para Deus? – Por Rolf Höneisen


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Deus vê tudo, Deus sabe de tudo… mas ele de fato se importa conosco?

Em nosso planeta vivem bilhões de pessoas que foram criadas, desejadas e que são vistas pelo Criador. Diante dos acontecimentos no mundo e de situações pessoais, muitos se questionam: “Será que temos alguma importância para Deus? Ele de fato se importa conosco?”.

Há muitas centenas de anos, um homem olhou para o céu estrelado. Ao ver aquilo, surgiu nele uma pergunta: “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes?” (Sl 8.3-4).

Enxergar o céu estrelado na Europa deixou de ser algo óbvio. A causa é a crescente “poluição luminosa”. Há pouco tempo, astrônomos apresentaram dados incríveis: na Europa Ocidental quase ninguém consegue observar um céu estrelado claro. 99% da população dos EUA e da Europa Ocidental está impedida de ver o céu estrelado claro por causa da luz artificial ofuscante das cidades, povoados e ruas. A claridade artificial engole a luz das estrelas ao fundo.

A metade dos habitantes europeus e dois terços dos norte-americanos não conseguem mais enxergar a olho nu a constelação junto da Via Láctea por causa da luz artificial. Os habitantes das cidades não conseguem mais ver as estrelas. Painéis luminosos e iluminação pública os atrapalham. Além disso, também lhes falta aquele sentimento de veneração que outrora levou o salmista a ficar extasiado diante do Criador do universo.

Os astrônomos esclarecem que o nosso Sol é apenas um dos cinco bilhões de outros sóis de nossa Via Láctea. As estrelas na verdade são sóis. Nossa Via Láctea não é uma galáxia com grandeza especial. Ela é apenas uma entre 200 bilhões de galáxias. Essas galáxias, por sua vez, também estão repletas de estrelas. – Será que uma pessoa isoladamente, estando num pequeno planeta de um pequeno sistema solar de uma galáxia medianamente suntuosa, pode afinal ter algum significado diante do Criador de todo o universo?

No final do ano 2000 nasceu um bebê nos EUA. Ele foi gerado em laboratório. Nesse embrião gerado, quando ainda estava no estado de célula, foi testada a substância hereditária. Então este foi selecionado, pois era o embrião que tinha o tipo de células da medula óssea mais compatível e que era urgentemente necessário para sua irmã de 6 anos de idade. Esse embrião foi selecionado. Ele pôde continuar vivo e foi implantado em sua mãe.

Um pôde viver; um entre 13, pois preventivamente haviam sido colocados no tubo de reagentes outros 12 embriões para posterior escolha. Eles foram fecundados e então testados – finalmente foram descartados por serem inadequados. Eles não puderam continuar vivos.

O que Deus pensa sobre isso? Deus considera esses embriões apenas como meras células ou elas são importantes para ele – elas não já possuem todo o potencial da pessoa em crescimento que Deus imaginou para as células embrionárias?

Deus criou o homem à sua imagem, é o que lemos no relatório da criação. Em 2013, estima-se que no Brasil foram apagadas entre 687 mil a 860 mil vidas ainda antes de terem nascido, por abortos provocados [Estadão, 21/08/2015]. O que Deus sente por elas? Elas são importantes para ele? Nós somos importantes para ele?

Quando o povo de Israel estava escravizado no Egito e era obrigado a prestar serviços forçados, ficava difícil imaginar que Deus estivesse se importando por eles e que a situação pudesse mudar algum dia. Assim, eles mal tinham forças para acreditar que aquilo que Moisés lhes prometia reiteradamente pudesse realmente se cumprir.

Os amigos de Jó se divertiam com a sua suposição, de que ele pudesse ter algum significado para o Criador do universo.

O autor do livro de Eclesiastes questionou radicalmente se, afinal, haveria algo sob o Sol que tenha algum significado. Ou, no final, tudo é sem sentido?

A minha vida tem algum significado? Afinal, Deus faz o que ele quer… A minha vida de fé tem algum significado… de qualquer modo haverá um golpe baixo depois… O que fazemos com tais sentimentos? O que podemos fazer quando estamos deprimidos, desanimados ou desesperados? Deus nos dá alguma resposta sobre isso?

No antigo livro do profeta Isaías, capítulo 49 versículo 16, consta uma frase que é muito usada em cartões postais e pôsteres: “Veja, eu gravei você nas palmas das minhas mãos”, ou: “Vejam, escrevi seu nome na palma de minhas mãos”.

Essa frase consta na lista de versículos bíblicos favoritos. No entanto, ela adquire sua força somente quando compreendemos para quem Deus disse essa frase e em que situação se encontravam essas pessoas: Deus falou essas palavras para o povo de Israel quando este estava no pior estado – em depressão. A terra de Canaã estava destruída. Os soldados babilônicos haviam invadido o santuário. O templo foi profanado, a capital arrasada, a terra incendiada. As pessoas com capacidade produtiva foram levadas, em grupos acorrentados, para a Babilônia. – Era o período do cativeiro babilônico.

O Salmo 137 descreve o sentimento das pessoas naquela ocasião: “Junto aos rios da Babilônia nós nos sentamos e choramos…” (v. 1). Havia uma grande questão atormentando o povo de Israel em prantos: “Ainda temos alguma importância para Deus?”. – “Isso é a consequência de pertencer ao povo de Deus, esse é o resultado quando se crê em Deus?”

“Não se vendem cinco pardais por duas moedinhas? Contudo, nenhum deles é esquecido por Deus. Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Não tenham medo; vocês valem mais do que muitos pardais!” (Jesus Cristo).

Em todos esses séculos da história da igreja as pessoas crentes estavam e estão constantemente diante dessa questão: os huguenotes da França, os anabatistas à época da Reforma, os cristãos sob o comunismo, no Sudão, na China, no Afeganistão, nos países árabes, etc. Para esses, a questão era e é de cunho existencial: somos importantes para Deus? Ele ainda se importa conosco?

A constante pressão sobre os israelitas era tão imensa na Babilônia que eles haviam perdido todas as esperanças. “Não!”, diziam eles: “O Senhor me abandonou, o Senhor me desamparou” (Is 49.14). Esse é o fim de um relacionamento. É catastrófico precisar afirmar: “Sim, há anos eu imaginava que conhecia a Deus. Agora, porém, nessa situação, quando estou há anos pedindo a ajuda de Deus, sem êxito, preciso dizer: Deus se esqueceu de mim”! Isso significa rendição espiritual. Isso é o vazio total, escuridão amedrontadora, desesperança opressora, profunda decepção. Ali houve uma ruptura no relacionamento.

A partir desse ponto, em Babel, num momento determinado por ele, Deus começou novamente a falar com seu povo. Após o “não” de Israel, Deus primeiramente lhes formula uma pergunta retórica com uma figura baseada na criação: “Haverá uma mãe que possa esquecer seu bebê…?” (Is 49.15a). Uma mulher consegue algum dia esquecer alguém nascido dela? Pode-se rejeitar um filho, expulsá-lo de casa, romper o contato com ele reciprocamente – sim, isso é possível –, mas, mesmo assim, uma mãe não esquecerá de seu filho. Usando esse sentimento, Deus compara perguntando: “Embora ela possa esquecê-lo, eu não me esquecerei de você! Veja, eu gravei você nas palmas das minhas mãos; seus muros estão sempre diante de mim” (Is 49.15b-16a).

Deus não quer (!) esquecer seus filhos. Para reforçar sua decisão e torná-la compreendida, ele usa essa figura impressionante: se uma pessoa se tornou filho de Deus mediante a fé e teve um novo nascimento de espírito graças ao perdão recebido em Cristo, então ela pertence a Deus da mesma maneira como os traços pertencem a uma mão. E isso não ocorre por mero acaso, mas pela vontade de Deus, por meio da sua intervenção ativa: Deus grava na palma das mãos dele aqueles que nele creem, confiam e obedecem. Sua vida está nas mãos dele.

Essa ação de Deus é uma expressão da sua graça. Uma pessoa crente pertence a ele mesmo se ela não sentir a presença dele. “Que aquele que anda no escuro, que não tem luz alguma, confie no nome do Senhor e se apoie em seu Deus” (Is 50.10). Deus está presente, mesmo no vale das trevas, da aflição, de não ver saída.

Na época da escravidão na Babilônia, sem qualquer perspectiva para Israel, Deus começou a dar uma resposta para o povo com relação à salvação. Ela aparece como um facho de luz penetrando na escuridão. Deus anunciou algo novo. Ele falou que viria um “servo de Deus”. Essas profecias aparecem concentradas nos capítulos 42 a 53 do livro de Isaías. É profecia divina de alto quilate. Ela aponta para a vinda do Messias. É a resposta de Deus para aqueles que o procuram.

Deus descreve esse Salvador como sendo um “homem de dores”, desprezado e rejeitado pelos homens. Assim como foi naquela época, ainda hoje isso continua sendo incompreensível para muitos. Em todo o caso, Deus coloca em jogo seu atributo de ser onipotente. Nessa ocasião, Deus revelou um plano para Isaías e Israel que contém muito mais ânimo, mais criatividade e mais disposição de sacrifício do que uma pessoa possa ter. É um plano que liquida com nossa capacidade de imaginação. Ele nunca poderia ter sido planejado por pessoas: há 2.700 anos, quando Israel se lamentava na Babilônia, Deus declarou estar disposto, algum dia, a viver entre os homens.

Deus se importa pelos que estão dedicados à morte. A mensagem de Natal é atual. Deus se tornaria homem. Ele assumiria nossas enfermidades e levaria sobre si as nossas dores. Ele seria traspassado e moído por causa de nossa culpa. Essa foi a resposta de Deus para o sofrido Israel.

Como Deus viria? Isaías 7.14: “A virgem ficará grávida, dará à luz um filho e o chamará Emanuel [Deus conosco]”. Deus não viria até os homens na forma de tornado ou tormenta de fogo, mas na forma humana mais indefesa possível: como célula, embrião – como feto que cresce, célula por célula, no ventre de uma mulher e finalmente abandona o seu corpo na forma de um bebê, para compartilhar a vida com os moradores da terra nesse minúsculo planeta.

O Filho de Deus viveu na terra entre nós durante 33 anos, tendo a experiência do que significa ser uma pessoa. Uma pessoa como nós, para que “libertasse aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte” (Hb 2.15).

“Somos importantes para Deus?” Jesus respondeu claramente a essa pergunta, uma vez por todas, com sua vida e morte. Ele é – conforme Colossenses 1.15 – a imagem do Deus invisível. Por meio do Filho podemos ver o Pai.

Como Jesus descreveu a Deus:

Certa vez Jesus comparou Deus a um pastor que deixa 99 ovelhas no curral e vai incansavelmente à procura de um único animal errante.

Outra vez Jesus comparou Deus a um Pai que não desiste de pensar de seu filho ingrato, mesmo que ainda tivesse um filho bem-sucedido em casa (ver Lc 15).

E outra vez Jesus comparou Deus a um rico hospedeiro, que não se envergonha em receber um grupo de figuras degradadas no seu salão de festas (ver Lc 14.21-24).

Com esses exemplos, Jesus nos mostra o caráter do Deus invisível: Deus não ama as pessoas em função da sua raça, reconhecimento ou aparência, mas porque são suas criaturas. As pessoas são importantes para Deus. Deus nos trata com tanta consideração que ele demonstra toda a sua atenção pessoal. Ele submeteu seu amor à comprovação. Por isso ele se empenhou ao máximo, primeiramente nas colinas e estradas da Galileia e finalmente no madeiro da cruz, em Jerusalém.

Jesus personifica aquilo que o profeta Isaías profetizou: Jesus veio ao mundo como servo. Não havia lugar para ele. Ele foi rejeitado e abandonado por todos. E foi justamente com isso que ele consegue nos demonstrar que mesmo a pessoa mais insignificante da terra não se perde se, pela fé, ela estiver assinalada na palma da mão de Deus. O seu nome então estará gravado em um dos traços da mão de Deus.

No Salmo 102.16-23, lemos: “Porque o Senhor reconstruirá Sião e se manifestará na glória que ele tem. Responderá à oração dos desamparados; as suas súplicas não desprezará. Escreva-se isto para as futuras gerações, e um povo que ainda será criado louvará o Senhor, proclamando: ‘Do seu santuário nas alturas o Senhor olhou; dos céus observou a terra, para ouvir os gemidos dos prisioneiros e libertar os condenados à morte’. Assim o nome do Senhor será anunciado em Sião e o seu louvor em Jerusalém, quando os povos e os reinos se reunirem para adorar ao Senhor. No meio da minha vida ele me abateu com sua força; abreviou os meus dias”. O plano de salvação de Deus trata da vida de cada pessoa individualmente, mas também das nações do mundo. Ele pretende originar uma nova geração de pessoas, que vive e age a partir do relacionamento com Deus.

O plano de salvação de Deus trata da vida de cada pessoa individualmente, mas também das nações do mundo. Ele pretende originar uma nova geração, que vive e age a partir do relacionamento com Deus.

O salmista, já em sua época, previu a futura salvação dos infelizes. As futuras gerações louvariam ao Senhor quando ouvissem de como ele olha a partir do céu (o santuário no céu) e ouvisse o choro de seu povo sobre sua situação lastimável. Em vários salmos é ressaltado que Deus, em sua onipotência, dirige o olhar sobre seu povo. Esse fato confirma o quanto Deus se importa pelo seu povo. O Senhor com frequência interferiu para salvar aqueles que estavam próximos da morte. Como consequência dessa salvação, o nome do Senhor seria exaltado quando todas as pessoas se reunissem em Sião para louvá-lo.

Jesus nunca tentou explicar filosoficamente o problema do sofrimento humano. Ele também não esclareceu por que ocorrem determinados acontecimentos graves. Uma coisa, no entanto, podemos aprender dele – isto é, saber o que Deus sente e pensa sobre acontecimentos graves. Jesus também personifica o Deus invisível – quando em sua face surgem lágrimas diante da culpa dos homens.

Isaías profetizou isso: “Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças; contudo nós o consideramos castigado por Deus, por Deus atingido e afligido. Mas ele foi traspassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados” (Is 53.4-5).

É a morte sacrificial de Jesus que perdoa nossa culpa, que derruba o muro que nos separa de Deus. Nada além da sua graça nos justifica. O perdão da culpa novamente nos torna “inteiros” diante de Deus.

O texto de Isaías 49, que trata da aceitação e restauração de Israel e Jerusalém, nos versículos 16-17 diz: “Veja, eu gravei você nas palmas das minhas mãos; seus muros estão sempre diante de mim. Seus filhos apressam-se em voltar, e aqueles que a despojaram afastam-se de você”.

A uma pessoa que aceitou o perdão e que crê em Cristo, Deus considera como “inteira”, como restaurada, como salva, como curada, como nova. Os “muros estão sempre diante de mim”… reconstruídos com novas forças, repletos com o Espírito de Deus. Ali onde a Palavra e o Espírito de Deus governam, aquilo que é destrutivo precisa ceder. É esse o processo da cura, da santificação, porque Deus gravou você na palma de suas mãos.

A conturbada história do povo de Deus nos ensina: Deus não se afasta dos seus filhos. Somos nós mesmos que nos afastamos de Deus…

… por culpa não resolvida

… por relacionamentos tratados sem amor

… por falta de fé

… por esperteza de nossa parte

… por impaciência

… por desconfiança

Antes que possamos experimentar a nova força recebida de Deus, precisamos novamente nos conscientizar sobre quem é nosso Deus. Precisamos nos examinar. Dependendo do caso, é necessário confessar culpas, esclarecer falhas, acertar os relacionamentos em qualquer nível, reconhecer a hipocrisia e falsas concepções – em sinal de veneração diante de Deus e por amor ao próximo.

Desconfiança e incredulidade revelam uma falsa imagem do Onipotente. As palavras que Deus falou para Israel foram dramáticas: “Quando eu vim, por que não encontrei ninguém? Quando eu chamei, por que ninguém respondeu? Será que meu braço era curto demais para resgatá-los? Será que me falta a força para redimi-los?” (Is 50.2).

Jesus nos revela o caráter de Deus. Ele veio para dar sua vida por nós. Nós não estamos sós, muito menos somos esquecidos. Quem está disposto a receber a Palavra de Deus e o seu amor? Eu agora posso confiar que sou importante para Deus. Posso dirigir-me confiadamente a ele – para longe de mim, de minhas fraquezas e minhas impossibilidades, ao Deus com ilimitadas possibilidades.

Jesus veio para libertar as pessoas da prisão da morte. Ele se importa conosco muito além da vida cotidiana. Por isso ele pôde dizer aos seus discípulos: “Eu digo a vocês, meus amigos: Não tenham medo dos que matam o corpo e depois nada mais podem fazer. Mas eu mostrarei a quem vocês devem temer: temam àquele que, depois de matar o corpo, tem poder para lançar no inferno. Sim, eu digo a vocês, a esse vocês devem temer. Não se vendem cinco pardais por duas moedinhas? Contudo, nenhum deles é esquecido por Deus. Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Não tenham medo; vocês valem mais do que muitos pardais! Eu digo a vocês: Quem me confessar diante dos homens, também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus. Mas aquele que me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus” (Lc 12.4-9).

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