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Cuiabá-MT

Símbolo nacional de obra fantasma, VLT é coberto de grama


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Quatro anos e dois meses após o último jogo da Copa do Mundo em Cuiabá, a prefeitura da capital de Mato Grosso decidiu cobrir as “cicatrizes” de uma obra que prometeu revolucionar a mobilidade urbana local, drenou mais de R$1 bilhão dos cofres públicos, mas que até agora nunca saiu do lugar.

Com a ajuda de caminhões de aterro, rolos de grama, vasos de flores e 160 mudas de palmeira imperial, a administração do município está a transformar em jardins as valetas abertas para a implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).

Por elas, segundo a promessa oficial antes do evento da FIFA, trafegariam modernas e confortáveis composições movidas a eletricidade, na mais cara ação de infraestrutura da história da cidade. A obra, porém, está paralisada há mais de quatro anos, necessita de ao menos mais R$ 1 bilhão para ser concluída e se tornou um nó jurídico difícil de desatar, com troca de acusações entre o governo do estado e o consórcio responsável pela implantação do projeto.

Virou ainda caso de polícia, após o ex-governador Silval Barbosa confessar, em delação premiada ao Supremo Tribunal Federal, uma série de irregularidades e pagamento de propina em diversas etapas da obra. Em meio aos preparativos para outro evento significativo —os 300 anos de fundação da cidade, a serem comemorados em abril de 2019— a prefeitura decidiu que não iria mais esperar. “Não era justo deixar nossas principais avenidas com aquele cenário de pós-guerra, aquela cicatriz terrível”, afirma o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB).

Segundo ele, o plano emergencial de “embelezamento” buscou intervenções de fácil remoção em caso de retomada das obras e, segundo ele, com “custo zero” para o município. “A grama nós conseguimos com uma rede de supermercados. As palmeiras vieram do horto florestal e também de doações. Caso a obra seja reiniciada, vamos retirar tudo e plantar em outras áreas”, disse à Folha.

Questionado se não enxerga a iniciativa como um fim simbólico das esperanças de conclusão da estrutura, Pinheiro foi enfático ao afirmar que não é o seu caso. “Sigo sendo um entusiasta do VLT e acredito em sua conclusão, mas não podemos negar a realidade: o projeto não avançou sequer um passo nos últimos anos. Não era possível esperar mais”, diz.

Pelo projeto original, orçado em R$ 1,4 bilhão, o VLT de Cuiabá e Várzea Grande teria 22 km de trilhos em dois eixos (Aeroporto-CPA e Coxipó-Porto) e 33 estações de embarque e desembarque. As 40 composições, um total de 280 vagões importados da Espanha, foram compradas antecipadamente, trazidas de navio para o Brasil e são mantidas a céu aberto em uma área nas proximidades do aeroporto local.

Em dezembro passado, o governo do Estado rompeu o contrato com o Consórcio VLT Cuiabá (formado pelas empresas CR Almeida, Santa Bárbara, CAF Brasil Indústria e Comércio, Magna Engenharia e Astep Engenharia) e anunciou estudos para uma nova licitação.

Desde então, o consórcio briga na Justiça para reverter a medida, alegando ter interesse e condições de concluir o empreendimento. Mesmo prevendo uma batalha jurídica, o secretário Ciro Gonçalves (Casa Civil) se diz otimista com a possibilidade de retomada das obras sob nova direção. “Estamos analisando se faremos uma licitação apenas para as obras e, em seguida, outra para a concessão do serviço, ou se lançamos uma PPP [Parceria Público Privada] para incluir obras e operação em um pacote só”, relata.

Segundo ele, o formato da concorrência será definido até o final deste mês. “Não existe plano B. O estado já gastou R$ 1 bilhão nessa obra e, em algum momento, terá que encontrar meios de conclui-la e colocá-la a serviço da população”.

Independentemente do modelo da licitação, admite Gonçalves, há uma certeza: se concluído, o novo modal irá operar no vermelho e necessitará de subsídio estatal para se viabilizar —R$ 30 milhões anuais, segundo uma empresa de consultoria contratada pelo governo.

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