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Sequelas graves em pacientes curados de Covid-19 preocupam cientistas


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POR MATHEUS MEIRELLES (matheus.meirelles@cbn.com.br)

Pacientes que se recuperaram da Covid-19 podem ter sequelas graves de médio e longo prazo. É o que indica pesquisa feita por cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dos 500 pacientes que participaram do estudo, 70% ainda enfrentam sintomas.

As consequências, porém, são mais graves para pessoas que tiveram quadros avançados de coronavírus. A avaliação é que 20% dos contaminados apresentem algum tipo de complicação.

A infectologista do Instituto Emílio Ribas, Elisa Aires, presenciou um cenário crítico ao entrar na equipe de cuidados paliativos, que atende pacientes em recuperação.

“Nós temos visto muitos pacientes com fibrose pulmonar, que não conseguem sair da ventilação mecânica. Pacientes que ficam dependentes de diálise por lesão renal. E temos visto também pacientes com problemas cardíacos graves”, disse Elisa.

Vítima de complicações causadas pelo coronavírus, a chefe de cozinha Cláudia Kojima ficou 48 dias em coma. Ela acordou sem os movimentos do corpo e hoje faz reabilitação.

“Eu entrei em pânico. Porque minhas pernas elas mexiam muito pouco e depois de um tempo, só. Meu tronco, eu não sustentava. Meus braços, eu não mexia. E eu sai do hospital com tetraplasia, né”, contou Cláudia.

Outro problema que tem aparecido é a trombose, como a que levou à morte o jornalista, escritor e cantor Rodrigo Rodrigues, que desenvolveu coágulos nos vasos cerebrais. No caso do empresário Felipe Zillo, de 36 anos, houve uma tromboembolia pulmonar, com inflamação na artéria que leva sangue do coração ao pulmão. Ele não tinha comorbidades anteriores e agora tem dificuldades de voltar a fazer exercícios.

“Por seis meses eu estou tomando o anticoagulante ainda, que é o tratamento para o tromboembolismo, e estou fazendo fisioterapia. Como eu era um cara muito esportista, eu não estou podendo voltar literalmente para a prática esportiva. Então, estou tendo que ir aos poucos, indo bem devagar, até meu pulmão voltar a se acostumar, meu corpo voltar a se acostumar”, relatou Felipe.

Estudos alemães publicados nesta semana na revista Jama Cardiology alertam que, mesmo após a cura, a Covid-19 pode afetar o tecido do coração. Cerca de 60% dos pacientes que participaram das pesquisas tinham complicações cardíacas mesmo após a cura do coronavírus.

O presidente do Conselho Diretor do InCor, cardiologista Roberto Kalil Filho, explica que quadros como esse também estão presentes em fases iniciais.

“A doença, na verdade, é predominantemente pulmonar. Mas, o que vimos no decorrer dos meses é uma agressão ao coração, causando uma doença grave chamada miocardite. Aliás, os primeiros estudos da China, em Wuhan, mostraram que 7% das mortes foram por miocardite. E processos inflamatórios no músculo do coração também, numa fase inicial, e estudos recentes mostram que até para uma fase tardia”, destacou.

Para o diretor-científico da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Fernando Bacal, os resultados dos estudos são um alerta para que médicos investiguem outros riscos da Covid-19.

“Também não é para gerar um alarde, mas é justamente para o clínico, o cardiologista, o médico infectologista que cuidou desse paciente durante a internação tenha ideia de que tem que fazer um eletro, um ecocardiograma mais tardiamente, da mesma forma que se faz exame de imagem no pulmão, para ver se o paciente passou pela Covid-19 sem uma agressão que vai gerar um dano pra frente, que vai precisar de algum tratamento”, afirmou.

Outras sequelas mais brandas podem permanecer no médio e longo prazo. É o que explica a médica hematologista Indianara Brandão.

“Há pacientes que tiveram dor de cabeça que não cessa, uma fadiga, aquela indisposição no corpo. Antes conseguia fazer atividade física normalmente e hoje não consegue retomar as atividades por conta de dor no corpo, dores articulares”, destacou Indianara.

A Organização Mundial da Saúde alerta que a chance de sequelas aumenta em pacientes que tiveram permanência longa em Unidades de Terapia Intensiva e usaram aparelhos respiratórios.

CBN

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