Direto de Brasília
Senado expõe primeira obra de arte restaurada, após depredação em atos golpistas
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Peça ‘Trigal na Serra’, de Guido Mondin, estava encharcada, continha fungos, arranhões, fragmentos de vidro, entre outros danos. É a primeira entre 14 obras que estão sob processo de restauração na Casa.
O Senado Federal voltou a expor, nesta segunda-feira (30), o quadro “Trigal na Serra”, de Guido Mondin. A obra, depredada durante os atos golpistas cometidos por bolsonaristas radicais em 8 de janeiro, foi a primeira restaurada na Casa e voltou a ser exibida na Sala de Recepção da Presidência do Senado.
Ao todo, 14 obras de arte foram danificadas durante a invasão ao Congresso Nacional. O quadro de Mondim, em acrílico sobre eucatex, mede 92 por 112 centímetros e foi pintado em 1967.
Segundo o Senado, após os ataques, a tela foi encontrada no chão, separada da moldura, molhada e arranhada.
“Fragmentos de vidros quebrados durante a invasão e outros estilhaços provocaram arranhões e perda de policromia (várias cores). A obra estava encharcada e empenada pela umidade, depois que os vândalos acionaram mangueiras e hidrantes de combate a incêndio”, informa a Casa.
Restauração
O conservador do Laboratório de Restauração do Senado, Nonato Nascimento, foi o responsável pela recuperação da obra, que começou logo após os ataques.
À Agência Senado, ele disse que o primeiro passo foi a retirada dos primeiros fragmentos de vidro com uma trincha macia, seguida de uma série de medidas para devolver o quadro ao estado original.
“Como ele ficou muito encharcado, no dia seguinte já tinha muito fungo. Borrifei uma mistura de álcool e água no fundo da tela, onde estava a maior parte dos fungos. Removi os esporos com um aspirador e uma escova macia. Coloquei a tela entre papéis mata-borrão para retirar a umidade e, depois, em uma prensa para planificar. Fiz a reintegração cromática nos locais onde houve danos e perda de policromia”, conta Nonato.
Nonato também comenta sobre a sensação de ver a obra destruída e, enfim, restaurada: “Quando percebi o estado em que ela estava, foi chocante. É de arrepiar. Mas, quando terminei o trabalho de restauração, foi uma alegria no laboratório. Ela ficou linda de novo, está perfeita”, diz.
Restauração de outras obras
A coordenadora do Museu do Senado, Maria Cristina Monteiro, conta que a recuperação de outra peça danificada pelos invasores está prestes a ser concluída: uma cadeira do século XIX, usada no Salão Nobre para a recepção de autoridades estrangeiras.
Segundo Monteiro, ainda não há um cronograma definido para a restauração e a entrega de todas as obras danificadas. O custo total dos reparos pode chegar a R$ 1 milhão.
“Vai depender da avaliação de cada peça. A tapeçaria de Burle Marx será restaurada em São Paulo. O painel vermelho de Athos Bulcão pode levar de três a quatro meses. Fizemos uma parceria com a Secretaria de Cultura do Distrito Federal, que deve ceder servidores para auxiliar o restauro. O quadro de Gustavo Hastoy, ‘Ato de Assinatura do Projeto da 1ª Constituição’, vai precisar de um projeto específico, porque é muito grande, muito pesado e está chumbado na parede. Vamos precisar contratar um guindaste específico para retirá-lo. Cada peça tem uma história”, diz.
Quem foi Guido Mondin
Guido Fernando Mondin nasceu em Porto Alegre (RS), em 1912. Foi pintor, economista, empresário, professor e político, fundador da Associação Rio-Grandense de Artes Plásticas e membro da Academia Brasileira de Belas Artes.
O pintor produziu mais de 4 mil telas e doou vários de seus quadros ao Senado. Além de “Trigal na Serra”, compõem o acervo da Casa as seguintes obras:
- “Família de Retirantes”
- “Frei Franciscano”
- “Panorama Mineiro”
- “Barcos”
- “Marina em Capri”
- “Figueira”
- “Retrato do Dr. Isaac Brown”
- “Os Arcos do Rio de Janeiro”
- “Velha Roma”
Na vida pública, exerceu cargos de senador por dois mandatos (1959 a 1975), deputado estadual e federal, vice-prefeito de Caxias do Sul (RS) e ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Mondin morreu em 2000, aos 88 anos.
G1