Agronegócios
Robustas finos chegaram para ficar – Por Artigo por Enrique Alves
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Até pouco tempo considerados cafés de segunda linha, daqueles que serviam apenas para baratear blends ou matéria-prima para a indústria de solúveis, os novos Robustas chegaram pra ficar!
É uma nova forma de enxergar o Coffea canephora (conilon e robusta), e essa transformação não veio ao acaso. Se deve, basicamente, aos produtores pioneiros que começaram a adotar novas tecnologias do plantio à pós-colheita. No campo, as grandes inovações passam por seleção genética, novos arranjos espaciais, irrigação e podas de renovação.
O produtor de Robusta também aprendeu a valorizar o fruto do seu trabalho. Colheitas cuidadosas e secagem lenta têm feito a grande diferença. Há ainda cafeicultores que têm investido em técnicas de processamento via úmida e processos fermentativos diversos.
Esse conjunto de mudanças deu origem a um tipo de grão que a cadeia de transformação do café ainda não conhecia. Esqueça os cafés neutros e cereais! Os Robustas agora são achocolatados, frutados, amendoados e exóticos. Se você gosta de um café fino, mas não abre mão de uma bebida forte e encorpada, este é o seu café!
Quem provou um, viu todos! Errou! Os Robustas agora são amazônicos, capixabas, baianos e, pasmem, até mineiros. É uma infinidade de aromas e sabores que chegam a desconcertar os degustadores mais preparados. Os mais incautos chegam a se confundir e dizem, de forma tímida e insegura: é arábica?
Mas, para os produtores dos novos Robustas, a comparação com os cafés arábicas ficou no passado. São cafés novos, diferentes com características organolépticas únicas. Inclusive existe até um Protocolo de Degustação de Robustas Finos que foi lançado em Uganda no ano de 2010. São cafés em que os açucares e a acidez são mais sutis e o corpo mais pronunciado, mas isso só o deixa mais equilibrado. A cafeína, que costuma ser o dobro da espécie arábica, deixa um certo amargor, mas que lembra o do chocolate. Essa é apenas uma definição protocolar dos novos Robustas, porque o sabor e o aroma deles vai muito além.
São cafés que podem ser servidos puros ou em blends, com arábicas igualmente finos. E o retrogosto, esse é o ponto forte! São cafés densos, licorosos e marcantes. Os novos Robustas vieram pra ficar e, agora, querem andar bem acompanhados em misturas com Gueixas e Bourbons, e eu recomendo!
Além de originarem bebidas excelentes, os cafés Robustas são plantas fascinantes. São altas, vigorosas e crescem em multicaule, ao contrário do arábica, que tem um formato de pinheiro. São plantados via semente ou propagação vegetativa (clonal). E, esta tecnologia clonal é a principal razão da verdadeira revolução que acontece no campo. Os cafeicultores cultivam linhas intercaladas de seis ou mais clones, cada um com a sua característica de porte, produção, tamanho de frutos e ciclo de maturação. São materiais genéticos extremamente responsivos aos tratos culturais e irrigação, em lavouras bem tratadas e tecnificadas, não raro, ultrapassam 150 sacas por hectare.
Uma curiosidade dos cafés Robustas é que a sua fecundação é cruzada, são plantas alógamas. Ao contrário dos cafés da espécie arábica, que tem índice de autofecundação superior a 90%. Os da espécie canéfora necessitam que ocorra a troca de pólen entre plantas que possuem ainda o fenômeno da autoincompatibilidade. Isto quer dizer que existem 3 grupos de compatibilidade e as plantas, além de não se autofecundarem, também não fecundam as plantas do mesmo grupo. Por isso, nas lavouras de conilon e robusta, é comum o plantio de vários clones, para garantir a troca de material genético entre plantas de grupos diferentes.
Mas, o que pode parecer uma limitação, frente à simplicidade de autofecundação do arábica, na prática pode ser um grande trunfo. A troca necessária de material genético das plantas de canéfora acaba criando uma grande variabilidade no campo. Isso significa que existe uma grande paleta de genes de resistência a pragas e doenças, maior plasticidade genética para adaptação a ambientes e, o melhor de tudo, uma infinidade de aromas e sabores.
Com o reconhecimento e valorização dos cafés Robustas, ganham os produtores, oPaís e, principalmente, os consumidores. O Brasil é uma terra que produz CAFÉS. O Robusta é uma nova variável nessa complexa equação que faz um café de qualidade. São portas e janelas de um novo mundo a ser explorado.
A cafeicultura no Brasil ganha por ser, ao mesmo tempo, grande e padronizada pelas comodities e diversa e única pelos cafés especiais que produz. É uma complexidade que confunde, seduz e que nos faz evoluir. O mundo atual é plural, diverso e a cada dia que passa mais eclético. Assim deve ser a nossa cafeicultura.
Os novos Robustas chegaram pra festa e em ritmo de Rock and Roll.
*Enrique Anastácio Alves é doutor na área de Engenharia Agrícola e, desde 2010, atua como pesquisador A na Embrapa Rondônia, nas áreas de Colheita, pós-colheita do café e qualidade de bebida. Contato: enrique.alves@embrapa.br.