Medicina
Reduzir a radioterapia em duas semanas assegura a eficácia e segurança para pacientes com câncer de mama
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Estudo apresentado em outubro na ASTRO 2004, maior congresso do mundo de Radioterapia, mostra que a redução do tratamento convencional de cinco semanas (25 sessões) para três semanas com hipofracionamento moderado de doses (16 sessões) apresenta segurança e efetividade similar para pacientes com câncer de mama que foram operadas e passaram por reconstrução. Menos dias de tratamento representa também menor necessidade de deslocamento das pacientes e maior adesão, ressalta a Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT)
Ao longo da campanha Outubro Rosa, mês de conscientização sobre câncer de mama, assim como é importante falar sobre prevenção e acesso ao diagnóstico, também é essencial dar ênfase para as estratégias que proporcionam às pacientes o maior acesso ao tratamento. A Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) reforça o movimento Radioterapia para Todas, que almeja o cenário em que todas as pacientes diagnosticadas com câncer que recebam a indicação deste tratamento, de fato o recebam o hipofracionamento moderado de doses, que reduz para três semanas (16 aplicações), ao contrário das convencionais cinco semanas (25 aplicações), diminui também um dos maiores gargalos do acesso à radioterapia no Brasil, que é a necessidade de percorrer longas distâncias para receber o tratamento diário. No Brasil, a média de deslocamento para um procedimento de Radioterapia é de 76 quilômetros. Por sua vez, a desigualdade de acesso escancara uma distância média que varia de 33 km no estado de São Paulo há 1605,5 km, que é a distância média que precisa ser percorrida por um paciente que reside em Roraima, por exemplo.
Em levantamento feito pela SBRT em 126 serviços de Radioterapia do país, observou-se que o hipofracionamento é o modelo de tratamento mais frequente no Centro-Oeste, com 8 dos 9 serviços (88,9) realizando este procedimento. Na sequência, as regiões Nordeste (16 de 20 serviços – 80%), Norte (4 de 5 – 80%), Sudeste (52 de 66 – 52%) e Sul (18 de 26 – 69,2%). As principais indicações/localizações para hipofracionamento são para pacientes com diagnóstico de câncer de mama, metástase óssea, metástase cerebral, assim como pele, próstata, sistema nervoso central e reto.
Duas semanas a menos, com a mesma eficácia e segurança
Para as pacientes submetidas à mastectomia (cirurgia para retirada de tumor na mama) com reconstrução mamária com expansor, implante de silicone ou de tecido autólogo, realizar apenas três semanas de radioterapia é tão eficaz e seguro quanto receber o tratamento por cinco semanas. Essa redução, que representa fazer 16 aplicações diárias ao invés de 25, chamada de hipofracionamento moderado, foi avaliada no estudo de fase III de não inferioridade apresentado no Congresso da Sociedade Americana de Radioterapia (ASTRO 2024), realizado de 1 a 4 de outubro, em Washington, nos Estados Unidos.
O estudo RT CHARM – Alliance A221505, disponível na revista científica International Journal of Radiation Oncology, da ASTRO, reuniu 898 mulheres com câncer de mama invasivo unilateral, inscritas em 209 centros médicos dos Estados Unidos e Canadá. As taxas de toxicidade aguda e tardia não foram estatisticamente diferentes entre os braços (hipofracionamento moderado e convencional), bem como a taxa de controle local tumoral. Recorrências locais ou regionais em 36 meses ocorreram em 1,5% das pacientes hipofracionadas e 2,3% das pacientes convencionais. “É um estudo que reforça o hipofracionamento moderado como mais uma opção efetiva de cuidado clínico para as pacientes com câncer de mama que tiveram suas mamas reconstruídas na mastectomia”, ressalta a radio-oncologista Nilceana Maya Aires Freitas, membro da diretoria da SBRT, médica dos serviços de radioterapia do Hospital de Câncer Araújo Jorge da Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG), do CEBROM grupo Oncoclínicas e do IMO em Goiânia.
CÂNCER DE MAMA E RADIOTERAPIA EM NÚMEROS
A projeção do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para 2024 e 2025 é que 73.610 mulheres, em cada um destes anos, devem receber o diagnóstico de câncer de mama. Deste total, ao menos 60% destas pacientes devem receber a indicação de radioterapia em algum momento do tratamento.
Nilceana Freitas chama a atenção para o fato de haver falta de equipamentos de radioterapia no país, bem como defasagem do repasse do ticket médio do SUS, por paciente. “Há mais de 10 anos não se tem um reajuste. Os equipamentos destinados ao tratamento de radioterapia em sua maioria são importados e estão com a cotação dolarizada e a maioria dos serviços de radioterapia não está conseguindo sequer pagar a manutenção dos equipamentos, que é caríssima. Para que consigamos fazer o uso pleno das máquinas e reduzir o tempo de tratamento dos pacientes é necessário que possamos contar com a sensibilização e ajuda do governo, no sentido de se oferecer máquinas mais modernas e principalmente melhorar a tabela do SUS”, alerta.
O relatório RT2030, da SBRT em parceria com a Fundação Dom Cabral, destaca que o país tem cerca de 409 equipamentos de radioterapia. A recomendação da Organização Mundial da Saúde é de um acelerador linear para 250 mil a 300 mil habitantes e, para isso, seriam necessárias 708 máquinas em operação no Brasil.
Sobre a Sociedade Brasileira de Radioterapia
A Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), fundada em 1998, é uma associação civil, brasileira, associativa e científica de direito privado, sem fins lucrativos, que reúne e representa os médicos radio-oncologistas, legalmente registrados no Brasil. Mais informações: https://sbradioterapia.com.br/
SENSU Consultoria de Comunicação