Um programa inédito de Educação Ambiental está reunindo sessenta e seis professores indígenas e não-indígenas de Juruena e Juara, no Noroeste de Mato Grosso. A expectativa é que a comunidade escolar se envolva na proposição de alternativas de problemas ambientais da região, bem como incentivar a discussão de políticas públicas. Os principais resultados serão divulgados em uma publicação impressa e digital no início do ano que vem.

A proposta do projeto de extensão da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat); ConTextos ambientais Juruena-Juara/MT: formação docente de professores indígenas e da rede pública em Educação Ambiental é trabalhar o tema de forma multidisciplinar na área de atuação do projeto Poço de Carbono Juruena.

Rosalia de Aguiar Araújo, Mestre em Ciências Florestais e Ambientais, professora da Unemat, e coordenadora do projeto de extensão, explica que a forma de trabalhar com os professores de Juara e de Juruena, apesar de diferenciada, comunga da epistemologia da prática e das nuances culturais que permeiam os dois grupos de professores. Entretanto, nos dois casos espera-se que a sensibilização para mudanças de comportamento seja despertada tanto nos professores quanto nos alunos.

Com os professores da Terra Indígena Apiaká-Kayabi, de Juara, são realizados encontros em cada uma das três escolas e em algumas etapas há um encontro coletivo com todos os professores das três etnias indígenas. Duas das escolas elegeram o tema “fogo” para ser trabalhado e a terceira escola escolheu o tema “água”. O risco de grandes incêndios florestais que se originam fora da terra indígena e a perda na qualidade da água pela ocupação no entorno, com cidades e agropecuária são temas urgentes para a comunidade indígena.

“Os professores estão desenvolvendo em sala de aula ações e atividades com os alunos sobre o tema escolhido e a perspectiva é que esse trabalho em sala de aula mobilize toda a comunidade indígena para ações de preservação”, explica Rosalia.

Já com os professores da rede estadual e municipal de Juruena o processo é diferente. Como eles já trabalharam com Educação Ambiental em fases anteriores do projeto Poço de Carbono Juruena, dois ou três professores de cada escola foram selecionados para participar de encontros presenciais que acontecem uma vez por mês. Entre um encontro e outro os professores desenvolvem ações com os alunos e outros professores.

“Esses professores já iniciaram a formação elaborando um projeto para desenvolver com os alunos. Esses projetos orientarão o passo-a-passo e o nível de envolvimento dos alunos”, comenta.

Seminário reunirá professores
Devido a distância entre os municípios, cerca de 350 quilômetros, e a realidade específica das escolas indígenas de Juara e da rede pública de Juruena, todos os professores que participam da formação só irão se encontrar no seminário anual que será realizado no final do ano.

Este será o momento de troca de experiências, apresentação dos resultados dos trabalhos, além da realização de algumas oficinas. “As escolas indígenas de Juara, por exemplo, percebem os impactos do agronegócio e do consumismo urbano, que está resultando em danos ambientais gravíssimos, que podem alterar a dinâmica alimentar e de saúde da população, declara Rosália.

Poço de Carbono Juruena
O projeto Poço de Carbono Juruena, desenvolvido pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena – Aderjur, com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, busca oferecer alternativas sustentáveis de renda aos agricultores familiares e povos indígenas.

“A formação em Educação Ambiental é fundamental para o entendimento de como as proposições trazidas pelo projeto para a comunidade dialoga com muitas das questões que estão sendo trabalhadas pelos professores em sala de aula, resultando em maior empoderamento dos professores e alunos pelas atividades do projeto, seu maior alcance para as famílias e sua sustentabilidade em longo prazo”, explica Paulo Nunes, coordenador do projeto.

O projeto apoia o extrativismo da castanha-do-Brasil em vários municípios do Noroeste de Mato Grosso. Também incentiva a diversificação de cultivos na recuperação de áreas por meio de sistemas agroflorestais em pequenas propriedades de Juruena. Dessa forma, os agricultores têm diversas opções de cultivos e uma renda garantida e melhor distribuída ao longo do ano. Além do benefício econômico, os sistemas agroflorestais “imitam” o comportamento da floresta, armazenando carbono e ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas.