Agronegócios
Produzir Leite pode ser uma atividade lucrativa no atual cenário?
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Quando o preço do leite pago ao produtor está em baixa e o custo de produção em alta, as margens de lucro dos sistemas de produção de leite ficam muito reduzidas, ou até desaparecem. Esse é um importante desafio que o produtor está enfrentando nesse ano de 2020, um ano que jamais será esquecido. E nesse cenário tão desafiador, o que fazer para manter a lucratividade na produção de leite? Isso é possível?
A primeira coisa a considerar é o real impacto do preço do leite sobre a rentabilidade da produção leiteira. Dados do SEBRAE-MG mostram que a correlação entre a margem líquida de fazendas produtoras de leite e o preço recebido pelo produto é muito fraca, como mostra a figura 1 abaixo,
Figura 1. Preço médio do leite (R?/L) X Margem líquida unitária (R?/L)
Essa análise envolve a avaliação do resultado de 467 fazendas no período de fevereiro de 2019 a janeiro de 2020, com dados corrigidos pelo IGP-DI de março de 2020. Apesar de ser uma correlação positiva, a figura mostra que a variação no preço do leite explica apenas 11,02% da variação na margem líquida da atividade. A figura exemplifica então que há muitas fazendas recebendo pouco pelo leite (menos de R? 1,30/litro) e, possuem margens muito positivas, mas, ao mesmo tempo, há números igualmente significativos de fazendas recebendo mais de R? 1,70/litro que estão perdendo dinheiro na atividade. Ou seja, o preço do leite é importante, mas não é a única variável o que define a lucratividade das fazendas.
Essa análise do SEBRAE mostrou também que o fator que mais impacta o resultado das fazendas é o volume total de leite produzido (52,1%). Dentre as fazendas que foram avaliadas na base de dados, o aumento da margem líquida acontecia junto com o aumento na produção total de leite. O gasto com alimentos concentrados gerou impacto de apenas 7,2% na margem líquida, seguido pelo gasto com mão de obra (3,9%) e gasto com alimentos volumosos (2,7%). Ao analisar esses resultados fica claro que o “melhor amigo” da rentabilidade é o volume de produção. Dessa forma, percebe-se claramente que reduzir a produção na tentativa de reduzir custos não é a estratégia mais indicada.
Sempre que a margem aperta, a tendência natural dos produtores de leite é olhar para os custos. E, via de regra, o foco vai para o desembolso com a compra de alimentos, pois normalmente este é o fator de maior peso na planilha de custos da produção do leite. Quando o lucro tende a diminuir, automaticamente a alimentação do rebanho é revista. Mas, reduzir os gastos com alimentação vai fazer com que, ao final do mês, o produtor de fato economize dinheiro? O grande problema é que ao reduzir o gasto com alimentos, sem promover o ajuste adequado na dieta, pode fazer com que o produtor corre sérios riscos de promover queda na produção das vacas, o que pode comprometer bastante a saúde financeira das fazendas, como mostrado na análise do SEBRAE.
Uma análise muito importante a fazer na fazenda é a variação do RMCA (receita menos o custo dos alimentos), indicador que mostra de maneira muito clara a relação entre produção total, custo da dieta e quanto sobra para o produtor depois de pagar o maior custo de produção. Na tabela 1 abaixo podemos ver uma simulação das relações entre produção de leite, custo de alimentação e RMCA. Os dados apresentados são uma simulação de diferentes situações considerando diferentes volumes de leite produzido, diferentes custos de dieta e diferentes preços recebidos pelo leite. As dietas foram formuladas para atender adequadamente os requerimentos nutricionais para cada nível de produção, utilizando-se alimentos comuns nas fazendas e custos dos insumos apurados na região sudeste no mês de maio de 2020.
Quanto maior a produção da vaca, maior o custo de alimentação. No entanto, como fica claro na tabela, quanto maior a produção, maior a RMCA, que equivale ao dinheiro que sobra depois de pago o custo da dieta, independente do preço do leite. Obviamente o produtor deve considerar os demais custos – fixos e variáveis – na avaliação da sua rentabilidade, mas considerando que para uma mesma estrutura, o impacto do volume total produzido será muito grande.
Baseado nos dados acima, se considerarmos um rebanho com 100 vacas em lactação, se a média de produção for de 15 litros/vaca/dia e o preço do leite R? 1,20/litro, a receita mensal será de R? 54.000,00. Nesse cenário o custo de alimentação das vacas em lactação será de R? 41.010,00, ou seja, sobrarão apenas R? 12.990,00 para pagar os demais custos. Muito difícil pensar em lucro num cenário desses. Se a produção média das vacas saltar para 20 litros/dia, a receita salta para R? 72.000,00 mensais e o custo da alimentação para R? 47.790,00, e nesse cenário já sobram R? 24.210,00. Com um aumento de 16,53% no custo de alimentação das vacas em lactação, o produtor consegue um aumento de 86,37% na RMCA, ou seja, o ganho em receita em função do aumento no volume de leite produzido é muito maior do que o aumento no custo da alimentação.
A figura 2 abaixo mostra a variação do custo da dieta e do RMCA em relação a diferentes níveis de produção por vaca, considerando o leite a R? 1,20/litro.
Figura 2. Custo da dieta, RMCA e EA em relação ao volume de produção
Percebe-se claramente que o custo total da dieta (linha vermelha) aumenta à medida que as vacas produzem mais leite, o que é óbvio, mas é importante notar como a RMCA (linha azul) aumenta proporcionalmente mais do que o custo. Outro ponto importante é que a Eficiência Alimentar (EA – litros de leite produzidos por kg de matéria seca de alimento ingerida) também aumenta à medida que aumenta a produção da vaca. Ou seja, quanto maior o volume de leite produzido, mais eficientes são as vacas e maior a RMCA, mesmo com o aumento no custo de alimentação.
Como o dinheiro gasto na compra de alimentos sempre é significativo, é natural que se pense em reduzir esse desembolso mensal. A análise proposta neste artigo, demonstra que o produtor deve pensar muito antes de cortar o gasto com a comida das vacas, pois se isso levar a uma redução na produção de leite, o resultado financeiro pode ser desastroso.
É preciso lembrar que nem todas as vacas em lactação estão no mesmo “momento”. Em todo rebanho há vacas no início, meio e final de lactação. As que se encontram no terço inicial da curva produtiva são as mais eficientes, pois comem menos e produzem mais do que as do final da curva. Além da questão produtiva é preciso lembrar que as vaca no início do ciclo estão em período reprodutivo, ou seja, precisam estar muito bem nutridas para que possam emprenhar novamente, o mais rápido possível. Atrasar o estabelecimento de nova prenhez significa gastar mais dinheiro com a vaca e reduzir a sua eficiência produtiva. Dessa forma, pensar em reduzir a produção dessas vacas, diminuindo a oferta de comida ou piorando a qualidade da sua dieta trará impactos negativos duradouros na rentabilidade de propriedade, pondo em risco o futuro da atividade.
Para as vacas já no terço final da lactação de fato cabe uma reflexão: vale a pena mantê-las produzindo, se a margem de lucro está muito apertada? É preciso avaliar qual o ponto de equilíbrio da produção, ou seja, qual o volume mínimo de leite produzido por dia que justifique manter a vaca em lactação. Qual o mínimo que ela deve produzir para, pelo menos, pagar os custos? Essa análise deve ser feita individualmente por cada produtor considerando a situação particular de cada fazenda, analisando os seus custos e RMCA que consegue apurar. Na tabela 1 acima fica claro que quanto menos a vaca produz, maior a chance de que ela não se pague, pois se a RMCA for muito pequena pode não sobrar receita suficiente para pagar os demais custos.
Caso em sua análise seja constatado que algumas não estejam sendo lucrativas, talvez seja o caso de se considerar a secagem das que estiverem no terço final da lactação.
Inegavelmente isso pode ajudar a reduzir os custos e pode fazer sentido se essas vacas não estão apresentando RMCA positivo, mas outro item a ser avaliado é o aumento do risco de desenvolverem mastite em um período seco muito prolongado, então é preciso calcular o custo-benefício dessa prática, pois os prejuízos podem ser ainda maiores se a vaca necessitar de tratamento e, certamente, vai impactar negativamente o seu desempenho no início da lactação seguinte.
Pelo que foi abordado até aqui conclui-se que o melhor caminho para manter a lucratividade na fazenda leiteira é buscar a máxima eficiência das unidades de produção, no caso, as vacas. O grande “combustível” para a produção é a comida, e por isso é fundamental avaliar a RMCA permanentemente. Mas outros aspectos também contribuem decisivamente com a eficiência. Os pontos destacados abaixo devem ser igualmente monitorados e avaliados para que se consiga trabalhar com alta eficiência:
• Garanta conforto para os animais: falta de conforto impacta de forma brutal a produção de leite e o desempenho reprodutivo. Quanto mais tempo as vacas passam descansando, maior sua eficiência alimentar e RMCA. Para vacas em início de lactação mais conforto significa maior pico de produção e retorno mais rápido à atividade estral, o que significa melhores índices reprodutivos.
• Avalie o número de animais em recria: muitas fazendas trabalham com recrias “inchadas”, mantendo um número de novilhas maior do que sua necessidade de reposição. Mesmo podendo ser uma fonte extra de receita, a criação de um número de novilhas além do necessário representa um custo adicional significativo para a fazenda. Em momentos de ajustes de custos, a venda das novilhas excedentes é indicada.
• Cuide com rigor da sanidade do rebanho: qualquer doença ou enfermidade, mesmo que seja subclínica, reduz a eficiência produtiva dos animais. No caso das vacas em lactação, a mastite e os problemas de casco são as ocorrências mais comuns e mais fáceis de serem identificadas e representam perda muito significativa de eficiência. Em cenários desafiadores é preciso redobrar a atenção e cuidados para evitar esses problemas e até aproveitar o momento para descartar animais com problemas graves ou crônicos.
Considerando todos os aspectos discutidos aqui podemos dizer que o cenário atual está impondo um desafio grande aos produtores de leite, mas que a atividade pode sim ser lucrativa, desde que o foco seja pela busca da eficiência de produção. É fundamental entender que, como em qualquer negócio, é importantíssimo controlar os custos. O que se deve ter em mente é que, em momentos difíceis, os primeiros custos a serem cortados deveriam ser os que não trazem receita para o negócio.
Já os custos relacionados à geração de receita, como os custos de alimentação das vacas em lactação, devem ser revisados com muito cuidado e com a ajuda de profissionais especializados, para evitar ou minimizar impactos sobre a produção do leite. Deve-se ter sempre em mente que, como mostram claramente os dados do SEBRAE, o volume de leite produzido é o fator de maior impacto sobre a rentabilidade.
Sobre a Nutron
A Nutron, marca de nutrição animal da Cargill no Brasil, é especialista e líder em soluções inovadoras de produção animal, por meio de desenvolvimento de núcleos, premixes e especialidades para os segmentos de aves, suínos, peixes, pets, bovinos de leite e de corte, além de suplementos para criação de gado a pasto. Há mais de 20 anos, a marca sempre atuou próxima ao produtor para atender sua demanda com conveniência, qualidade e segurança, contribuindo com a prosperidade nos negócios de cada cliente. A companhia também promove ações socioambientais nas comunidades onde está inserida, pois considera ser seu dever atuar de maneira responsável para o desenvolvimento e crescimento sustentável de toda a cadeia produtiva do agronegócio. http://www.nutron.com.br.
Sobre a Cargill
Os 160 mil funcionários em 70 países trabalham para atingir o propósito de nutrir o mundo de maneira segura, responsável e sustentável. Todos os dias, conectamos agricultores com mercados, clientes com ingredientes e pessoas e animais com os alimentos que precisam para prosperar. Unimos 154 anos de experiência com novas tecnologias e insights para sermos um parceiro confiável aos clientes dos setores de alimentos, agricultura, financeiro e industrial em mais de 125 países. Lado a lado, estamos construindo um futuro mais forte e sustentável para a agricultura. No Brasil desde 1965, somos uma das maiores indústrias de alimentos do País. Com sede em São Paulo (SP), estamos presentes em 17 Estados brasileiros por meio de unidades industriais e escritórios em 147 municípios e 11 mil funcionários. Para mais informações, visite http://www.cargill.com e a central de notícias .
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