Agronegócios
Produtores têm prejuízo com excesso de chuva e atoleiros na BR-158 atrasam escoamento da safra em MT
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Com muita chuva, máquinas não conseguem entrar na lavoura para a colheita de soja em Mato Grosso. É o caso da fazenda da família da agricultora Karine Souza, em Ipiranga do Norte, a 439 km de Cuiabá.
O excesso de umidade também está fazendo a soja brotar ainda na vagem e alguns grãos estão podres. Nessas áreas, o pouco que ainda pode ser colhido não deve ter valor comercial.
Para a agricultora, a opção é utilizar a soja na ração do gado.
“A gente pretende não desperdiçar, pretende usar para ração do gado na propriedade, mas é claro que tem que ver se não tem nenhum efeito toxicológico pro gado. As últimas cargas foram de 17% a 20% de ardidos e avariados, um desconto imenso. O que a gente estima é que não vamos ter lucro da propriedade, mas deu pra cumprir contratos e compromissos, contratos assinados a R$80 a saca, estamos cumprindo, mas o lucro está indo embora”, conta.
De acordo com Loinir Gatto, que é produtor de soja e presidente do Sindicato Rural do município, a instabilidade do clima também vai afetar muito a safra de milho, que é plantada logo depois da colheita da soja.
“A safra como um todo foi tumultuada, atrasou o plantio em setembro e outubro. A colheita era para o começo de fevereiro, mas de 15 de fevereiro até agora não se produziu nada. Tem muita chuva, difícil para fazer tanto a colheita da soja quanto o plantio do milho”, ressalta.
Essa chuva toda não causa problemas só dentro das propriedades. Uma das principais rotas de escoamento dos grãos, a BR-158, está em condições precárias.
A rodovia tem um trecho de 120 km sem asfalto. Vários atoleiros se formaram causando uma fila enorme de caminhões e paralisando o trânsito em diversos pontos da estrada. Em alguns, máquinas do Dnit iniciaram a manutenção.
Segundo o caminhoneiro Thiago Nogueira, os prejuízos são grandes para o setor.
“As condições são precárias e a gente es tá gastando 12h, 13h, para atravessar e o prejuízo é muito grande. Alguns empresários estão levando os caminhões para o Maranhão porque não tem condições de trafegar aqui. É só atoleiro, atoleiro, atoleiro”, diz.
Muitas vezes, os caminhões não conseguem chegar até as fazendas e fica impossível retirar os grãos. Em uma propriedade em São Félix do Araguaia, no leste do estado, a colheita ainda está em andamento e, como os carregamentos estão abaixo do normal, a estratégia foi comprar silos, que têm a capacidade de armazenar três mil sacas de soja.
Conforme o técnico agrícola Ronivon Bezerra Rocha, a alternativa ajuda a amenizar as perdas.
“Nós compramos o silo bolsa para tentar amenizar essa perda. A função do silo bolsa é armazenar e, como a gente está colhendo bastante, tem um horário para gente colher, tem que estar bem sequinho e nós não estamos conseguindo esperar porque se a gente esperar mais acaba perdendo. Então colocamos no silo bolsa e, em no máximo 3 dias, temos que tirar.”
Mas as bolsas não são garantias de que a produção esteja salva. Os grãos mais escuros já estão estragados e não servem mais para o comprador. Por isso devem ser descontados no armazém. É mais prejuízo para o produtor.
Até agora, a colheita de Mato Grosso foi feita em quase 85% da área plantada de soja, nesta safra. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), essa é a colheita mais atrasada dos últimos 5 anos.
Apesar de ainda ser cedo para estimar as perdas, a Associação de Produtores de Mato Grosso acredita que a produção de soja nesta safra será menor.
Segundo Fernando Cadore, da Aprosoja, com o tempo o grão pode apodrecer.
“Uma colheita precisa de no mínimo para ser dado início depois do período de chuva de 5h a 6h de sol. Como isso não acontece, e quando se entra, se entra com condição alta de umidade, isso gera desconto para o produtor que não tem armazém e custo maior, bem como com o passar do tempo esse grão vai perdendo qualidade e apodrecendo, vai ficando avariado e aí chega em um ponto que ele não pode mais ser utilizado”, explica.
Ainda segundo ele, apesar da área plantada ter tido aumento, a produção deve ser menor.
“A gente acredita que mesmo tendo aumentado 3% a área, a gente ainda vai ter uma produção menor. Então, a gente deve ter uma perda de 3% a 5%. Mas isso só vai ser possível de precisar com o término dos trabalhos de colheita”.
G1