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Procura por emigração aumenta até 15 vezes após vitória de Lula


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O resultado da eleição presidencial de domingo (30/10) provocou agitação nas agências e consultorias de migração para fora do Brasil. O Metrópoles conversou com empresas de assessoria de emigração, e as expectativas são de aumento da procura para viagens ao exterior.

As 24h após o resultado do segundo turno, em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito pela terceira vez, foram de intensa atividade nos canais de contato da Aquila Global Group. O escritório de consultoria, geralmente, recebe cerca de 100 ligações e mensagens diárias. Somente no primeiro dia após o resultado, a quantidade de contatos saltou para 1 mil no dia. Na sexta-feira (4/11), esse numero subiu até 15 vezes mais que a média, para 1.500 no dia.

Esse salto superou a alta que já se via após o primeiro turno. No início de outubro, a primeira votação indicou a disputa do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra Lula. Após aquele resultado, a média de 100 mensagens já se quadruplicava no dia seguinte ao pleito.

“Após as eleições, percebemos uma vontade mais acentuada do que vinha acontecendo”, afirma Lucas Lima, especialista em Mobilidade Internacional da Aquila Global Group. “Foi um ‘boom’. Recebemos ligações e mensagens pela madrugada após os resultados. Foi um movimento maior do que em 2018, a eleição passada”, explica.

Eduardo Flit, fundador da agência de intercâmbio Canada Com Vc, também aponta aumento consistente. “A quantidade de pessoas procurando a gente cresceu cerca de três vezes a média diária. Só no Instagram ganhamos, em 24h, pouco mais de 1 mil seguidores. Isso em um dia em que muitos relatavam bug que fez influenciadores e outras empresas perderem público”, conta.

Perfil dos migrantes

Nas eleições de 2018, também houve aumento na procura por informações sobre sair do país, mas, neste ano, os clientes têm um perfil diferente. Na eleição passada, em que Bolsonaro se elegeu, quem procurava migração eram pessoas LGBT, mulheres e profissionais como professores, que se viam ameaçados pelo iminente governo.

Neste ano, a característica mudou. Houve muita procura por parte de empresários, proprietários de terras, pessoas ligadas ao agronegócio e herdeiros buscando vistos e cidadania europeia. Os destinos mais procurados são Portugal, Itália e Estados Unidos.

Portugal não exige visto para boa parte de benefícios e é considerado uma porta de entrada para a União Europeia. Da Itália, é cobiçada a cidadania concedida a descendentes de italianos, porque, com essa nacionalidade, o acesso a diversos países fica mais fácil. Um exemplo é a entrada nos EUA.

O Canadá é destino bastante comum para os brasileiros, mas o público é diferente. As oportunidades no país são mais voltadas a profissionais para trabalho, não exatamente empresários. Mesmo assim, Flit denota que essa polarização política influencia o aumento da procura. “A polarização já nos rende clientes há pelo menos um ano. Emigração é um projeto de futuro, de longo prazo. Mas, realmente, o que aconteceu na segunda foi extraordinário”, avalia.

Impulsividade

Gustavo Freitas, consultor de migração da Integrative Immigration, também está esperançoso quanto ao aumento das buscas pela emigração de brasileiros. “Até as eleições, não havia maior procura”, contou. Ele afirma que, com a eleição de Lula, a procura aumentará. “Temos clientes que nos disseram estarem temerosos com a vitória do petista e falaram que queriam sair do Brasil a qualquer custo se ele ganhasse”, explica.

O cientista político da Fundação Getulio Vargas (FGV) Leonardo Paz aponta que esse período eleitoral aflorou emoções; por isso, essa resposta de buscar oportunidade em outro país é uma reação emocional. “Ainda estamos passando por um momento muito tribalizado e marcado por extremos. A expectativa e o resultado da derrota de um candidato geram frustração e vontade de deixar o país”, destaca.

Ele alerta que o processo de migração é longo, custoso e exige certeza, não é algo que se resolve em uma ligação para uma consultoria.

Victor del Vecchio, advogado e consultor em migração e direitos humanos, aponta que essa procura maior após as eleições é recorrente e que há muitas pessoas que concretizam a migração. Entretanto, reconhece que, geralmente, há “impulsividade” entre quem procura sair do país após o período eleitoral.

“Tem um certo impulso de ir atrás do processo de migração, de fato. Mas, quando o indivíduo se depara com os custos envolvidos, com a burocracia, com a estruturação de uma vida nova, aluguel de casa, reinserção no mercado de trabalho, muita gente se desencoraja. Muita dessa procura não vai se concretizar”, ressalta.

Dolarização

Um serviço muito procurado, além da migração, é a conversão do patrimônio da família em dólar. Empresários de direita têm procurado essa dolarização após a eleição de Lula. O medo de uma crise econômica e motivos ideológicos de aversão a um governo do Partido dos Trabalhadores (PT) encabeçam a decisão.

O cientista político Leonardo Paz aponta que esses indivíduos, muitos eleitores do presidente Bolsonaro, podem fazer parte de uma tendência em pequena escala. “Não se trata de uma tendência muito abrangente porque tanto dolarizar como emigrar do país exigem recursos. Quem tem dinheiro vai dolarizar, em grande parte, por questão ideológica”, diz.

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