Mato Grosso
Polícia Federal mapeia 16 fazendas do tráfico e uma delas chama “Branca”, em alusão à “coca”
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Organização criminosa liderada por um dos maiores traficantes da América do Sul, Luiz Carlos da Rocha, o “Cabeça Branca” tinha uma mega estrutura em Mato Grosso.
Investigando a atuação dele, a Polícia Federal identificou pelo menos 16 fazendas utilizadas para pousos de aeronaves carregadas de cocaína, vinda da Bolívia, Colômbia e Peru. Um total de 40 mil hectares.
Segundo a PF, um núcleo atuava em Mato Grosso e outro no Paraná.
“Cabeça Branca” foi preso em Sorriso (a 290 km de Cuiabá) em 2017 na Operação Spectrum.
A Spectrum chegou à quarta fase, denominada Sem Saída, desencadeada na quinta (22), envolvendo o ex-prefeito de Brasnorte.
Organização extremamente respeitada no mundo do crime”, afirmou o delegado Roberto Biasoli, durante coletiva de imprensa na sede da PF em Curitiba.
De acordo com o delegado coordenador da Operação, Elvis Aparecido Secco, que também participou da coletiva, em Mato Grosso, a maioria dos mandados foi cumprida em fazendas. “Um mar de terras”, comenta.
Fazendeiro do pó
Dos cerca de R$ 665 milhões apreendidos do tráfico pela Polícia Federal em 2017, metade era de Cabeça Branca. O traficante tinha mansões com vista para o mar e carros luxuosos em vários estados, além de fazendas em Mato Grosso. As propriedades rurais ficavam em nomes de laranjas e eram usadas para lavar o dinheiro do crime.
“Um mar de terras”
Delegado da PF, Elvis Secco
Uma de suas fazendas fica em Tapurah (a 431 km de Cuiabá). Tem cerca de 2 mil hectares de soja. Outra está localizada em Marcelândia (524 km). Também produz soja e, mesmo com o traficante preso, já foi arrendada para outros produtores. Uma terceira propriedade, chamada de Por do Sol, foi abandonada logo após sua prisão, em julho de 2017.
Meses antes de ser preso, o traficante tentou comprar uma propriedade em Campo Novo do Parecis (404 km). O local se chamava “Branca” e já era utilizado como ponto do comércio de drogas. Pilotos que traziam a cocaína da Bolívia de avião passavam pelo local e lançavam os pacotes, que eram recolhidos por uma equipe em terra.
Em maio deste ano a PF deflagrou a operação Efeito Dominó, após a deleção de Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como “Ceará”. Ele atuava na Lava Jato com o doleiro Alberto Youssef e firmou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Segundo as investigações da polícia, Cabeça Branca, era “cliente vip” dos doleiros.
PM
Aeronave do narcotráfico flagrado pela Polícia Militar em fazenda de MT. Em muitas delas tem pista de pouso. Em outras, a aterrizagem é feita no pasto
De acordo com a PF, a investigação policial apontou uma “complexa e organizada estrutura” destinada à lavagem de recursos provenientes do tráfico internacional de entorpecentes.
As pessoas presas nesta quinta formam o “núcleo principal” da organização ligada ao Cabeça Branca. Quase todos os presos tinham acesso ao criminoso e que o contato com ele era restrito. Os presos, segundo a PF, são doleiros e lavadores de dinheiro.
Ainda de acordo com a PF, Ceará e Cabeça Branca passaram a atuar juntos a partir de 2016. Antes, em 2013, Ceará já trabalhava para traficantes.
2 núcleos
A Sem Saída investiga dois núcleos ligados diretamente ao Cabeça Branca. Um núcleo atuava em Mato Grosso e outro no Paraná. Movimentaram R$ 100 milhões. Delegado Secco afirma que, do total, a maioria é representada por propriedades rurais.
“Apreensão de drogas, por si só, não causa o impacto que a PF deseja”, explica o delegado. Para desmobilizar a criminalidade financeiramente, segundo ele, é preciso atacar a força da organização, que são as fazendas.
Ao longo das etapas da Operação Spectrum, foram apreendidos R$ 600 milhões. O delegado afirmou que a Operação é a maior da história da PF em relação à desarticulação patrimonial de organizações criminosas com atuação no tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro.
Alvos
Dois dos alvos presos nesta quinta foram identificados por meio de imagens feitas em um shopping em São Paulo, meses antes da prisão do Cabeça Branca. Na época, investigadores chegaram a acreditar que eram seguranças do Cabeça Branca.
A PF admite que a organização criminosa ainda não foi desmantelada no todo, mas está abalada, com o impacto causado com as prisões efetuadas ao longo das quatro etapas e com a desarticulação financeira. Além disso, perdeu o líder, já que Cabeça Branca está preso.
Sem Saída
Nesta nova fase, a Sem Saída, foi marcada pela prisão do ex-prefeito de Brasnorte (a 585 km de Cuiabá), Eudes Tarciso de Aguiar (DEM), do irmão dele, Alessandro Rogério de Aguiar, e do empresário Mauro Laurindo da Silva, sócio da Fama Serviços Administrativos, empresa em Mato Grosso investigada pelo suposto pagamento de propina a políticos e que recebeu repasses de doleiros ligados ao traficante. A Fama está envolvida no esquema de corrupção no Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MT).