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PF ainda busca dinheiro que Pezão teria recebido em supostas propinas
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Depois de prender o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, a Polícia Federal tenta identificar onde está o dinheiro que teria sido desviado em um esquema de propinas. De acordo com o delegado federal Alexandre Bessa, responsável pelas investigações que levaram à prisão de Pezão hoje (29), o governador teria recebido propinas de empresas em contratos do governo do estado, mas os policiais federais ainda não sabem explicar onde está o dinheiro ou que vantagens indiretas Pezão teria recebido nesse esquema.
Segundo Bessa, Pezão era um dos beneficiários do esquema de propina supostamente liderados pelo ex-governador Sérgio Cabral, quando ele ainda era vice-governador – de 2007 a 2014 -, e passou a liderar o esquema quando assumiu o governo do estado, a partir de 2014.
As principais provas contra Pezão são delações premiadas, como a do ex-operador financeiro de Cabral, Carlos Miranda, e bilhetes referentes a propinas, encontrados na casa de Luiz Carlos Bezerra, ex-assessor de Cabral, durante as investigações da Operação Calicute, em novembro de 2016.
“Pedimos compartilhamento de informações da Operação Calicute, em que foram identificados alguns bilhetes apreendidos na residência de Luiz Carlos Bezerra (ex-assessor de Cabral preso na Calicute) que identificava pagamentos de propina para vários atores. Um deles [atores] identificamos que fosse Pezão, pelo sobrenome, pelos apelidos que foram dados nesses bilhetes”, disse Bezerra.
O delegado disse que foram identificadas pelo menos 22 anotações relacionadas a Pezão, que totalizaram R$ 2,2 milhões em propinas. Depois disso, para corroborar essas informações, a PF fez, segundo Bessa, análises de caixas de e-mails, de movimentações financeiras e análises fiscais.
“Identificamos que as hipóteses levantadas pelas colaborações premiadas foram corroboradas por elementos externos e independentes. Fizemos cruzamentos de dados telefônicos de conversas do governador do estado com Luiz Carlos Bezerra, pessoa que a princípio não teria nenhuma relação de amizade ou de trabalho, mas que, nas datas que estavam mencionadas nos bilhetes, ele [Pezão] estaria recebendo alguma parcela da caixa de propinas”, disse.
Para a PF, o esquema supostamente capitaneado por Pezão funcionava através da cobrança de vantagem indevida de cerca de 5%, algumas vezes chegando a 8%, sobre contratos de empresas com o governo do estado.
A investigação que resultou na prisão de Pezão identificou o pagamento de propina especialmente em obras de pavimentação, em que empresas ligadas a gestores estaduais eram beneficiadas. De acordo com a Procuradoria-Geral da República, o esquema movimentou, em valores atualizados, cerca de R$ 40 milhões de 2007 a 2015.
Bessa disse que o esquema funcionava pelo menos até junho deste ano, quando começaram as investigações, mas, depois de 2015, com a crise econômica do estado, o volume de dinheiro desviado diminuiu. “Nem sempre eles conseguiam arrecadar o que esperavam”, disse.
Apesar disso, a PF ainda não conseguiu localizar os recursos que teriam sido pagos indevidamente a Pezão. “Uma das razões da prisão do Luiz Fernando Pezão foi a não localização desses valores. Então a gente precisa continuar a investigação e há a necessidade da prisão dele nesse momento”, disse o delegado.
Bessa disse que uma das possíveis vantagens recebidas por Pezão, que ainda está sendo investigada, é a automação do serviço de áudio e vídeo da casa do governador, em Piraí, no interior do estado. “A Polícia Federal está fazendo perícia para saber se, de fato, houve essa instalação, qual realmente era o valor. A gente está apurando se de fato isso era pagamento de propina ou não”.
Segundo o delegado, foi feita a análise das movimentações bancárias de Pezão e constatou-se que ele movimenta pouco sua conta-corrente e faz poucos saques. “Isso chamou muito a atenção da investigação porque é natural que todo mundo faça saques de sua conta-corrente e ele não faz esses saques. Ou ele deve ter dinheiro em espécie guardado ou utiliza a conta de terceiros, de outras pessoas. A gente vai continuar a investigação”.
Além de Pezão, oito pessoas tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça, entre elas José Iran Peixoto Júnior, secretário de Obras, e Affonso Henriques Monnerat Alves da Cruz, secretário de Governo, que já estava preso.
Pezão foi preso no início da manhã de hoje, na residência oficial dos governadores, o Palácio Laranjeiras. A Polícia Federal chegou por volta das 6h ao local, mas Pezão só deixou a casa por volta das 7h30, escoltado por dois carros da PF.
O governador foi encaminhado à Superintendência da PF e deve ficar preso numa sala do Batalhão Especial Prisional (BEP) da Polícia Militar, em Niterói.