Medicina
Pesquisadores encontram o ‘elo perdido’ entre estresse e infertilidade
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Pesquisadores da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, afirmam ter descoberto o “elo perdido” entre estresse e infertilidade. Publicada no fim de 2020 no The Journal of Neuroscience, e liderada pelo professor Greg Anderson, do Center for Neuroendocrinologia, a pesquisa confirmou, por meio de testes de laboratório, que uma população de células nervosas, perto da base do cérebro – os neurônios RFRP -, torna-se ativa em situações estressantes e, então, reprime o sistema reprodutivo.
Os pesquisadores lembram que um passo revolucionário, que se tornou disponível para os neurocientistas nos últimos anos, é a capacidade de controlar a atividade de grupos selecionados de neurônios – para silenciar ou aumentar a atividade e, em seguida, monitorar os resultados. Eles usaram técnicas transgênicas de ponta para mostrar que, quando a atividade das células RFRP é aumentada, os hormônios reprodutivos são suprimidos – de maneira semelhante ao que acontece durante o estresse, ou durante a exposição ao cortisol, o hormônio do estresse.
Para surpresa dos pesquisadores, quando usaram o cortisol para suprimir os hormônios reprodutivos, também silenciaram os neurônios RFRP, mas o sistema reprodutivo continuou a funcionar, como se o cortisol não existisse – provando que os neurônios RFRP são uma peça crítica do quebra-cabeça na supressão da reprodução induzida por estresse. Segundo eles, a reação foi mais evidente nas mulheres. O professor Greg Anderson começou a pesquisar o papel dos neurônios RFRP no controle da fertilidade em mamíferos há cerca de uma década. Ele conta que ficou interessado em saber se esses neurônios podem ser os causadores da supressão da fertilidade durante o estresse crônico, depois de ler que essas células se tornam ativas durante o estresse. Porém, esta é uma questão que permaneceu teimosamente sem resposta nas últimas décadas.
Embora se saiba que os esteroides do estresse – como o cortisol – provavelmente fazem parte do mecanismo envolvido, também se sabe que as células cerebrais que controlam a reprodução são incapazes de responder ao cortisol, então, parecia haver um elo perdido no circuito em algum lugar. “Agora mostramos que os neurônios RFRP são de fato o elo perdido entre o estresse e a infertilidade. Eles se tornam ativos em situações estressantes – talvez por sentir os níveis crescentes de cortisol – e então suprimem o sistema reprodutivo”, apontaram os pesquisadores.
A partir desta confirmação, é possível que drogas possam ser usadas para bloquear as ações dos neurônios RFRP, e isso será o foco de futuras pesquisas. A intenção é verificar se é possível superar a infertilidade induzida pelo estresse usando drogas que bloqueiam as ações dos neurônios RFRP, o que pode se tornar uma nova terapia para mulheres que lutam contra a infertilidade. Os pesquisadores acreditam, pelo que sabem sobre os neurônios, que essas drogas não teriam nenhum efeito colateral. Elas estão disponíveis, porém, não são aprovadas para uso humano, por enquanto.
“Um estudo feito anos atrás, por cientistas norte-americanos, já apontava que o estresse pode dobrar o risco de infertilidade nas mulheres. Ele foi publicado na revista Human Reproduction e realizado com mulheres com idade entre 18 e 40 anos, que não tinham problemas conhecidos de infertilidade, e haviam começado a tentar engravidar, mas que não obtiveram sucesso após 12 meses. Eles mediram os níveis de alfa-amilase, uma enzima na saliva que indica estresse”, aponta Arnaldo Cambiaghi, especialista em ginecologia e obstetrícia com certificado de atuação na área de reprodução assistida e responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO.
O médico acrescenta que mulheres com níveis elevados de estresse, segundo pesquisas, têm 29% menos probabilidade de engravidar se comparadas às demais. A pesquisa dos norte-americanos foi a primeira vez que se mostrou clinicamente, e de forma significativa, como o estresse é associado a um risco maior de infertilidade entre as mulheres. Agora, a pesquisa da Nova Zelândia além de confirmar a pesquisa anterior, joga luz sobre o tema, trazendo respostas.
Laura Juarez/Pixabay
“O conselho dos cientistas, da primeira pesquisa, e que serve para agora, enquanto não temos uma forma medicamentosa segura de conter o estresse, foi muito simples: que as mulheres conseguissem de 20 a 30 minutos no dia a dia para fazer algo simples, como caminhar ou mesmo praticar ioga ou meditação, para relaxar”, finaliza o médico.
Fonte: Arnaldo Schizzi Cambiaghi é responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO, ginecologista obstetra com certificado em reprodução assistida. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros na área médica como Fertilidade Natural (Ed. LaVida Press), Grávida Feliz, Obstetra Feliz (LaVida Press), Fertilização um ato de amor (LaVida Press), Manual da Gestante (Ed. Madras) e Os Tratamentos de Fertilização e As Religiões (Ed. LaVida Press). Criou também os sites: www.ipgo.com.br; www.fertilidadedohomem.com.br; www.fertilidadenatural.com.br, onde esclarece dúvidas e passa informações sobre a saúde feminina, especialmente sobre infertilidade. Apresenta seu trabalho em Congressos no exterior, o que confere a ele um reconhecimento internacional.
Assessoria