Agronegócios
Pesquisa da APTA Regional mostra impacto da pandemia no setor de hortaliças e frutas na região de Marília
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Pesquisadores da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Marília da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, desenvolveram pesquisa que analisou as consequências mercadológicas da pandemia de Covid-19 no setor de hortaliças e frutas na região, conhecida como a “Capital Nacional dos Alimentos”. Um novo estudo conduzido pela APTA começará a ser realizado para avaliar os impactos atuais do setor.
A pesquisa, publicada na Revista Internacional de Ciências, avaliou o impacto no início da quarentena no Estado de São Paulo, entre março e abril de 2020, e como produtores rurais e estabelecimentos comerciais se adaptaram para atender os consumidores no período de maior restrição de circulação da população. Ao todo, o trabalho consultou 45 pessoas, entre supermercados de grande e pequeno porte, hipermercados atacadistas, consumidores, produtores rurais e feirantes. A pesquisa foi realizada em conjunto com a Universidade de Marília (UNIMAR).
De acordo com os pesquisadores, a APTA realizará um novo estudo para analisar a atual situação em decorrência na classificação mais restritiva determinada para a região de Marília para o início do ano de 2021. Em 8 de janeiro de 2021, a região foi reclassificada para a fase laranja do Plano SP.
Segundo dados do estudo, na primeira semana de quarentena, quando foi publicado o decreto referente ao isolamento social, em 22 de março de 2020, os consumidores aumentaram de 30% a 40% a compra de hortaliças e frutas nos supermercados. O aumento do consumo, porém, logo se reverteu, em decorrência do fechamento de bares e restaurantes, registrando queda de 45% no volume das vendas. “Nas semanas seguintes, foi observada uma estabilização, dentro dos índices de redução de 32% do consumo total”, afirma Fernanda de Paiva Badiz Furlaneto, pesquisadora da APTA Regional.
As medidas de isolamento social para conter o avanço da doença exigiu uma mudança na forma de comercialização de produtores rurais e comerciantes para reduzir os impactos na venda. De acordo com a pesquisadora da APTA Regional, produtores responsáveis por estabelecimentos agropecuários de grande porte, que entregam diretamente sua produção em supermercado, conseguiram manter o escoamento de forma mais regular e com alguma estabilidade. Já os que dependiam de intermediário ou que comercializavam a produção com empresas de atacado, encontraram dificuldade.
“As cooperativas e as associações de pequenos e médios horticultores bem estruturadas começaram a se organizar para realizar entregas de cestas de hortaliças nos domicílios. No comércio varejista constatou-se que 90% dos supermercados optaram pela entrega de mercadorias à domicílio, sendo que alguns deles isentaram a taxa de serviço e de entrega atendendo, assim, os consumidores que passaram a realizar compras pelos sites dos estabelecimentos comerciais, sites especializados, como o iFood, e até mesmo realizando a compra por meio do uso de aplicativos como o WhatsApp. Houve, também, estabelecimentos que ofereceram serviço de venda de mercadoria pelos sites e retirada pelo sistema drive thru”, conta a pesquisadora da APTA Regional, Anelisa de Aquino Vidal Lacerda Soares.
A pesquisa identificou, ainda, que alguns supermercados (4%) anunciaram produtos pela internet mais caro do que os adquiridos na loja física, tendo um aumento de 2% a 5% dos preços. “Os consumidores relataram, também, que usualmente compram uma quantidade inferior de produtos em relação ao que se adquire normalmente no supermercado. Tal situação pode ser justificada pelo fato da maior disponibilidade de itens na compra in loco. Deve-se considerar, também, que normalmente, costuma-se ir ao mercado com outros membros familiares que acabam sugerindo a aquisição de produtos extras à lista de compras”, explica Fernanda.
O estudo indicou, porém, resistência de compra em ambientes digitais por consumidores idosos, acima de 70 anos. Na prática, um outro familiar realiza a compra in loco ou pela internet para esse público visando evitar a ida dos idosos ao supermercado. “Mas, mesmo com as medidas restritivas, notou-se a presença de pessoas pertencentes ao grupo de risco realizando compras no mercado, em especial, no setor “verde”, de produtos hortifrutigranjeiros. Atentos a isso, muitos supermercados passaram a oferecer horário estendido para esse público”, afirma Anelisa.
O trabalho mostrou que os consumidores optaram por compra de hortaliças não folhosas, legumes e frutas como tomate, abóbora, berinjela, rabanete, mandioca, cenoura, batata, maçã, manga, abacaxi, caqui, maracujá, abacate e laranja. “Notamos que a redução da comercialização das folhosas foi de 37%, enquanto a de não folhosas foi de 28%. “As vendas das folhosas foram mais comprometidas pelo fechamento de parte considerável do setor de alimentação, como restaurantes e lanchonetes. Salienta-se que o setor entregas de alimentos à domicílio não utilizam muitas folhosas em decorrência da perecibilidade”, afirma Fernanda.
Consumo não apresenta risco de contaminação com a doença
A pesquisa desenvolvida pela unidade regional da APTA mostrou ainda que as hortaliças e frutas devem ser minimamente manuseadas e desinfetadas antes do armazenamento de consumo. Seguidos os protocolos sanitários, não há qualquer risco de contaminação dos consumidores com a Covid-19.
Além dos protocolos de higiene, como lavar mãos e uso de álcool em gel 70º pelos manipuladores, deve-se seguir o distanciamento social entre os trabalhadores rurais e rigorosa classificação dos produtos visando evitar a reclassificação nos entrepostos. “Com isso, é possível preservar a saúde dos trabalhadores das centrais de abastecimento e do consumidor final em decorrência da redução do risco de contaminação dos produtos”, diz Fernanda.
Marília: Capital Nacional dos Alimentos
A cidade de Marília, localizada na região Centro-Oeste do Estado de São Paulo é conhecida como o Capital Nacional dos Alimentos. Apesar de ter uma taxa de urbanização de 93%, a região a região possui 881 estabelecimentos agropecuários, em uma área de 105.699 hectares. O valor bruto da produção agropecuária na região foi de R$ 71.296,67 mil em 2018, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“O setor alimentício é responsável por gerar 27,5 mil empregos. Atualmente, Marília produz mais de 32 mil toneladas de alimentos por mês. Os produtos fabricados no município são comercializados em todo território nacional, bem como exportados para diversos países”, explica Anelisa.
Dados da Associação Paulista de Supermercados apontam que região foi responsável por 1,7% do faturamento do setor no Estado de São Paulo, o que equivale a R$ 1,8 bilhão, e gerou nove mil empregos.
Ações de Governo em prol dos produtores
De acordo com as pesquisadoras, neste cenário de crise vivida em todo o mundo é necessário o suporte de Governo e ações para evitar o desabastecimento de várias mercadorias, além de ações que auxiliem os pequenos produtores, mais afetados pelos impactos da pandemia.
Neste contexto, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo realizou diversas ações ao longo de 2020, como o programa Compre do Produtor Local, que incentiva a compra de produtos produzidos localmente pela população e o AgroSP, canal que conecta pequenos produtores rurais e rede varejista para venda direta de produtos agropecuários.
Outra ação foi a compra de produtos de pequenos produtores para a distribuição de 428 mil cestas de 10 kg para a população em vulnerabilidade social, por meio do programa PAA – Cesta Verde.
Assessoria