Agronegócios
Pela pecuária contra a ditadura do Bradesco
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Mato Grosso nasceu da grilagem internacional da Coroa Portuguesa. A busca desenfreada pelo ouro arrastou bandeiras e entradas para o centro do continente, com destaque para Pascoal Moreira Cabral, que em 8 de abril 1719 fundou Cuiabá. A esse crime somava-se outro, ainda pior: a captura de índios para o trabalho escravo. Mas, não foi essa associação criminosa que garantiu o povoamento e o consequente crescimento da região. Quem deu o verdadeiro sopro de cidadania brasileira ao rincão grilado foi a pecuária bovina, que ora está na mídia com a realização de churrascos de protestos contra o Bradesco em Cuiabá, Água Boa, Rondonópolis, Canarana, Barra do Garças, Novo São Joaquim, Juína e outras cidades mato-grossenses e em outros estados.
O vazio demográfico mato-grossense aos poucos foi ocupado principalmente graças aos pecuaristas. Nos dois primeiros séculos da presença humana na zona rural, nas vilas e cidades, a pecuária foi decisiva, muito embora alguns ciclos de garimpagem nesse período tivessem se destacado, mas passada a febre do ouro ou a exaustão do diamante para o garimpo, as invernadas nativas garantiam a integração do descomunal Mato Grosso ao país.
Da terceira década do século passado até os anos 1960, em algumas áreas o diamante ditou regras econômicas e sociais. Guiratinga, Poxoréu, Tesouro, Alto Paraguai, Nova Marilândia, Paranatinga, Ponte Branca, Araguainha, Torixoréu e outras cidades viveram aquele ciclo no todo ou em parte, mas sem que a pecuária fosse abalada.
Na década de 1960, o fazendeiro que tivesse um reprodutor gir com o caranguejo da ABCZ era homem respeitado. No mesmo período, no Pantanal o gado curraleiro avançada em todas as direções. Comitivas de boiadas cruzavam pra lá e pra cá. Ainda naquela fase, mato-grossenses se juntaram a pecuaristas de outros estados na criação do nelore. Os neloristas foram muito importantes. O choque sanguíneo melhorou o rebanho genética e comercialmente. Em meio a tudo isso nas principais cidades as pecuárias como eram chamadas as exposições agropecuárias movimentavam a população, aqueciam e economia e lançavam as bases do esporte mais popular do Brasil interior: o rodeio.
A pecuária ganhou verticalização – talvez inspirada por seus pioneiros que exportavam charque para a Europa pelo rio Paraguai a partir de Cáceres. Frigoríficos, laticínios com variada produção de lácteos, curtumes, transporte rodoviário, assistência veterinária, precocidade pra abate, melhoramento de carcaça, cruzamento industrial, transferência de embriões, confinamento, semiconfinamento, leilões e vacinação incorporaram-se à atividade da porteira da propriedade para dentro e para fora.
O terrível inimigo da cadeia pecuária, a aftosa, foi erradicada. As gôndolas dos supermercados mundo afora estão abertas à carne bovina mato-grossense produzida pelo maior rebanho brasileiro.
Citar nomes de figuras que contribuíram para tanto seria cometer injustiça com tantos outros excluídos do rol mencionado. A ocupação populacional e o desenvolvimento mato-grossenses passa pelo pecuarista.
Quem tanto fez e faz por Mato Grosso merece respeito, porém, o Bradesco não tem essa visão. Sua recente campanha Segunda Sem Carne, por suposta razão ambiental provocou reação Brasil afora. O banco emitiu nota desculpando-se e seu presidente Octavio de Lazari Júnior informou à ministra Tereza Cristina (Agricultura) que a peça foi um erro operacional. A pecuária não engoliu a mea culpa e reagiu com notas de repúdio, cancelamento de operações bancárias e churrasco em portas de agências.
Mato Grosso tem que estender as mãos aos pecuaristas contra o Bradesco. É preciso firmar posicionamento ao lado de quem faz e não se deve esquecer que banco é exercício legal da agiotagem e que uma instituição bancária do porte dessa ora em atrito com pecuaristas jamais lançaria uma campanha de mídia sem que a analisasse sob todos os ângulos. Quando o conselho bradesqueano foi ao ar seguramente ele estava recheado por uma provocação para testar a capacidade ou não de reação dos atingidos.
Fiquemos com a pecuária que está em cada palmo desta terra. Tenhamos em conta que o Bradesco tem relação de impessoalidade com Mato Grosso. Fica onde é lucrativo. Depois de muitos anos ganhando dinheiro em Poxoréu aquele banco deu um pontapé no traseiro daquela cidade, que atravessava crise com o fim do garimpo do diamante. São José do Xingu, Rondonópolis e tantas outras cidades nasceram de pecuaristas e não de banqueiros. Quem garante o abastecimento interno da carne, leite e lácteos, e quem exporta esses mesmos produtos é a pecuária.
O churrasco denominado Segunda Com Carne merece um brinde e um pedido aos pecuaristas para que não recuem, que enfrentem o poderio financeiro do Bradesco e que esse ato seja um grito de alerta ao Brasil para uma mobilização nacional contra a ditadura bancária com seus juros abusivos, suas taxas imorais e sua prepotência sobre quem produz.
Eduardo Gomes de Andrade edita o blog
Blogdoeduardogomes.com.br