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Opinião: se o futsal (ainda) não é olímpico, azar das Olimpíadas
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Certa vez o grande jornalista Fernando Calazans usou a frase “se o Zico não foi campeão do mundo pela seleção, azar da Copa do Mundo”. Não vou entrar no mérito se eu concordo com ele ou não, mas o fato é que tal pensamento se aplica perfeitamente ao futsal. Como um esporte com tanta qualidade, emoção, imprevisibilidade e audiência pode estar fora das Olimpíadas? A Copa do Mundo da Lituânia, encerrada neste domingo, só reforçou a tese de que, se o futsal ainda não é olímpico, azar das Olimpíadas.
Jogadores de Portugal comemoram o título mundial — Foto: Angel Martinez/FIFA
A frase, aliás, já vem sendo utilizada pelo narrador Daniel Pereira, o nosso Dandan, em algumas transmissões de futsal. Tal posição não é muito difícil de se justificar.
Praticado desde os anos 40 como uma adaptação do futebol de campo e oficializado em 1954 a partir da criação da Federação do Rio, a mais antiga do planeta, o futsal atualmente está em cerca de 180 países com incontáveis praticantes e atletas federados pelo mundo afora.
O futsal tem como uma das suas principais características a emoção e a imprevisibilidade. Partidas de futsal não são produtos da lógica. O jogo intenso e a quadra curta são capazes de transformar um placar de 2 x 0 em 2 x 3 em poucos minutos. Os golaços, as defesas monumentais dos goleiros, os dribles fantásticos e as jogadas de efeito são uma constante no futsal.
No futsal quase sempre há ação do início ao fim. Como na final entre Argentina e Portugal deste domingo, em que os argentinos acertaram a trave no último segundo, o que teria levado o jogo à prorrogação.
Só o futsal é capaz de produzir gênios como Falcão – o maior de todos os tempos -, Manoel Tobias, Amandinha, Ricardinho, Vander Iacovino, Jackson, Javi Rodriguez, dentre outros. O futsal atrai o craque habilidoso. Não é qualquer jogador que se sobressai numa quadra rápida e pequena.
O Mundial da Lituânia foi um dos eventos esportivos com mais exposição de mídia este ano. No Grupo Globo, foram exibidos jogos em TV aberta e fechada, além do tempo real das principais partidas no ge. Em muitos momentos, como na semifinal entre Brasil e Argentina na última quarta, atingimos índices de audiência comparáveis aos do futebol, algo impensável até então.
Ricardinho tem seis prêmios de melhor do mundo da Futsal Planet e uma Bola de Ouro Fifa — Foto: Angel Martinez/FIFA
As grandes rivalidades, por sinal, são mais outro ingrediente que torna o futsal atrativo. São muitas camisas fortes dos gramados como Brasil, Argentina, Portugal, Espanha e Rússia atraindo os holofotes de seus fanáticos torcedores em confrontos entre nações. A vitória da Argentina sobre o Brasil, inclusive, foi alvo de provocação do tradicional jornal Olé.
Faz muito tempo que o futsal deixou de ser subproduto do futebol mesmo sendo um esporte Fifa. O futsal caminha por pernas próprias como qualquer outra grande modalidade esportiva. Assim como o vôlei e o basquete, o futsal tem o seu Mundial de quatro em quatro anos.
Diferentemente do receio que corre nos bastidores da Fifa, a entrada para a Olimpíada jamais “esvaziaria” a Copa do Mundo de Futsal. É questão de ajuste no calendário e bom senso entre as duas entidades. Se o Mundial de Futsal acontece em ano olímpico, não vejo problema algum em passar a faze-lo um ou dois anos mais tarde. Essa pequena mudança faria toda a diferença nessa aproximação.
A Copa do Mundo da Lituânia foi uma das melhores de todos os tempos. Mesmo sendo o primeiro Mundial sem a presença de Falcão, foram muitos golaços, viradas, novos craques surgindo e, é claro, muita emoção. Tenho a certeza de que se COI e Fifa se entenderem um dia não haverá arrependimento de nenhum dos lados. Enquanto isso vou repetindo a frase para não esquecer: “se o futsal (ainda) não é olímpico, azar das Olimpíadas”.
Ge.globo.com