Religião
O Deus do Antigo Testamento
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Ouvi tanto dizer que o Deus do Novo Testamento é um Deus de Amor e que o Deus do Antigo Testamento era um Deus do Poder, da Vingança, tão diferente que até acreditei. Mas neste Segundo Domingo da Quaresma, a releitura de Isaac e Abraão deu-me uma nova perspectiva.
A primeira vez que li Gênesis (22,1-2; 9-18) foi quando eu fazia a preparação para Primeira Comunhão e foi um choque assustador: naqueles dias, Deus pôs Abraão à prova. Chamando-o, disse: Abraão! E ele respondeu: Aqui estou. E Deus disse: Toma teu filho único, Isaac, a quem tanto amas, dirige-te à terra de Moriá e oferece-o aí em holocausto sobre um monte que eu te indicar. Chegados ao lugar indicado por Deus, Abraão ergueu um altar, colocou a lenha em cima, amarrou o filho e o pôs sobre a lenha, em cima do altar. Depois, estendeu a mão, empunhando a faca para sacrificar o filho. E eis que o anjo do Senhor gritou do céu, dizendo: Abraão! Abraão! Ele respondeu: Aqui estou! E o anjo lhe disse: Não estendas a mão contra teu filho e não lhe faças nenhum mal! Agora sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu filho único.
Mesmo a catequista repetindo que era um teste da fé, fiquei transtornado por muitos anos por um Deus que se apresenta como Amor, mas faz um teste daqueles.
Agora, finalmente, compreendi: naquela época, os povos acreditavam em muitos deuses, falsos como seus ídolos. Os “sacerdotes” destes deuses exigiam sacrifícios humanos, até mesmo dos primogênitos das famílias. Assim, Abraão não ficou chocado, nem surpreso, era assim mesmo!
O verdadeiro Deus que havia se revelado a Abraão, agora se revela diferente dos outros deuses, não exige sangue humano, muito menos da própria prole. Um Deus de amor. E ainda fez uma promessa: uma vez que não me recusaste teu filho único, eu te abençoarei e tornarei tão numerosa tua descendência como as estrelas do céu e como as areias da praia do mar. Por tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra.
Se Deus não exige o sangue humano para o perdão dos nossos pecados, Deus faz seu próprio filho humano e permite seu sacrifício para salvar a humanidade, ou como escreveu São Paulo aos Romanos (8,31-33): irmãos, se Deus é por nós, quem será contra nós? Deus, que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos daria tudo junto com ele? Quem acusará os escolhidos de Deus? Deus, que os declara justos? Quem condenará? Jesus Cristo, que morreu, mais ainda, que ressuscitou, e está à direita de Deus, intercedendo por nós?
No Antigo Testamento, Moisés e Elias destacam-se porque falaram com Deus no Monte Horeb, a Montanha de Deus. E ainda, Elias foi arrebatado ao céu (2 Reis 2,11) e o corpo de Moisés foi recuperado pelo Arcanjo Miguel (Judas 1,9). Em seu último encontro com Deus (Mc 9,2-10), Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou a uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles. Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar. Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus.
O Novo testamento é a consumação do Antigo Testamento, da criação do ser humano à seleção de Abraão, a preparação deste ser humano e o convite final à salvação gratuita de um Deus de bondade plena.