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Música pode potencializar o desenvolvimento dos recém-nascidos


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Inteligência musical pode ser trabalhada desde a vida intrauterina, afirmam pesquisas.

Mesmo com diversos aplicativos existentes que guardam o histórico de músicas que escutamos, é impossível saber quantas canções e quais sons escutamos desde que começamos a existir, ainda mais pelo fato de a audição ser um dos primeiros sentidos a serem desenvolvidos, isto entre a 14ª e 17ª semana de gestação. O som inicial que curtimos são os produzidos internamente pela mãe, como o batimento do coração. Entre a 27ª e 30ª semana, o bebê já identifica e distingue os sons do corpo materno e os do exterior e reage em função do que ouve. E, com este estímulo musical, ele nasce com capacidade ampliada para desenvolver suas habilidades cognitivas e físicas.

Em “A Abordagem Cognitiva em Música”, a educadora e psicóloga Esther Beyer, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que “o bebê já está em interação com seu meio externo desde suas vivências uterinas, o que lhe permite trazer uma bagagem significativa de conhecimentos quando nasce”. E este desenvolvimento se expande no pós-natal, como atesta a mestre em música, Maíra dos Santos Jaber, que, em sua tese de pós-graduação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), intitulada “O Bebê e a Música”, declara que a música é capaz de auxiliar no desenvolvimento motor.

“A vivência e compreensão do ritmo em música só é possível através da percepção do movimento em nosso próprio corpo. As crianças precisam ser estimuladas a se movimentarem continuamente, de forma livre e flexível, afinal só assim conseguirão reproduzir ‘padrões rítmicos com flexibilidade e fraseado’. O ritmo não pode ser ensinado de forma puramente cognitiva, é preciso que a criança, antes, o perceba em seu próprio corpo e possa experimentá-lo. Conforme ela vai desenvolvendo sua consciência corporal, passa a responder à música coordenando movimento e respiração de forma natural, adquirindo consciência rítmica”, explica a mestre.

Maíra afirma ainda em sua pesquisa, que “existe uma ampla gama de potencialidades humanas inatas, dentre as quais se encontra a inteligência musical. E tais potencialidades precisam ser estimuladas para que possam ser desenvolvidas. Ainda que um bebê seja capaz de reconhecer música e viva em um ambiente impregnado por ela, apenas ouvir não o torna capaz de desenvolver sua inteligência musical. É preciso que ele experimente, cante, toque, batuque, ou seja, produza música e, assim, aprenda a decifrar seus códigos”. Trocando em miúdos, é possível desenvolver a inteligência musical do bebê e esta, ao mesmo tempo, auxilia no desenvolvimento cognitivo e motor do pequeno.

E, neste caso, muitas vezes, filhos de musicistas são contemplados, como é o exemplo do músico, professor e youtuber, Heitor Castro, 49 anos, que organizou “exercícios musicais” para seu o filho Heitor Victor, de 8 meses. As atividades possuem como base as “músicas não-previsíveis”, que não significam necessariamente músicas eruditas, mas sim as que o próximo compasso seja imprevisível. “Fiz uma série mensal para o meu filho de uma hora diária de música não-previsível e, entre uma canção e outra, apresento as notas, falando que ‘este é um dó ou um ré’, por exemplo, para o desenvolvimento de ouvido absoluto”, que é a capacidade de identificar ou recriar determinada nota musical em qualquer som, conta o músico, que tem quase 1 milhão de inscritos em seu canal no Youtube.

O exercício de Heitor é confirmado pela tese de mestrado de Maíra, em que ela afirma que “sobre a habilidade de reconhecer o contorno de uma melodia, já se sabe que bebês tão jovens quanto dois dias de vida pós-natal são capazes de perceber as diferenças no contorno melódico, a ponto de identificar se uma sequência de notas é tocada de forma ascendente ou descendente”. Por isto, Heitor coloca seu filho para ouvir músicas de artistas consagrados, como Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti e Bach, justamente pelo fato destes músicos utilizarem as 12 notas cromáticas em suas músicas. Além da inteligência musical, Heitor ressalta que a música também é importante para a autoestima das crianças, pois, no contexto emocional, especialmente o canto, é um ótimo ingrediente para a desinibição, pois, segundo o músico, “atrai a atenção dos coleguinhas para a criança que canta, o que reforça a autoestima do pequeno”.

Assim, além da questão genética tão abordada, é possível observar a importância dos responsáveis pela educação e desenvolvimento musical da criança. Como uma planta, as crianças precisam ser “regadas” com música de qualidade estética, lírica e teórica para, então, se conhecerem e descobrirem o mundo que os cerca. Ao mesmo tempo, ela é uma aliada no desenvolvimento de outras áreas, como o motor e o cognitivo, além, é claro, de favorecer a sensibilidade, criatividade, senso rítmico, etc. Talvez, este “empurrãozinho” caseiro seja o que a cultura e até mesmo a indústria fonográfica, através de seus vários ritmos e estilos, estejam precisando para voltar aos tempos áureos. Quem sabe em sua casa esteja “brotando” o novo Tom Jobim? Só o futuro poderá dizer, mas o presente, com introdução musical à criança, com certeza, já dará frutos.

Dicas de Heitor Castro para utilizar a música para o desenvolvimento do bebê:

1) É preciso manter a mesma série de músicas por, pelo menos, um mês. Não se deve mudar a série antes deste período, pois a criança recém-nascida precisa gravar, mesmo minimamente, aquelas músicas e notas;

2) As músicas devem usar o máximo possível da escala cromática, que começa com Dó, passa pelos sustenidos e termina novamente em Dó. São músicas com melodias avançadas e que não se limitam apenas às notas do tom original, passando por notas que se percebe que não são tão óbvias. Um exemplo que todos temos referência é o Hino Nacional. Na sílaba “Plá” do trecho “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas”, se encontra uma dessas notas, que foge da escala do tom original;

3) É muito importante haver algum envolvimento emocional. Para isto, você pode mover o bebê como se ele estivesse dançando ou, então, toque no corpo dele em determinados momentos do ritmo da música. Isso ‘liga’ a criança à música.

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