Rondônia
Museu da Memória conclui catalogação de 250 fósseis com idade até 29 mil anos e está aberto para visitação
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Ao todo, a ciência já conta com 250 peças de fósseis identificadas e fotografadas em Rondônia, um feito inédito desde os anos 1980, quando iniciava a pesquisa e a descoberta de vestígios de animais gigantes que habitaram a região há milhares de anos.
Pesquisadores das Universidades de Sergipe e do Recôncavo Baiano visitam desde o final do ano passado o Museu da Memória Rondoniense. Concluída a catalogação de ossos, crânios e outros fósseis de três espécies de mastodontes com idade avaliada em 29 mil anos, na próxima sexta-feira (5) a Fundação Cultural do Estado de Rondônia (Funcer) reúne-se para definir a terceira licitação das obras de reforma necessárias ao Palácio Presidente Vargas.
O projeto arquitetônico prevê o resgate da cor original rosada para o prédio, e todas as melhorias em móveis, instalações elétricas, audiovisuais e outros serviços essenciais ao funcionamento regular do museu. Duas licitações anteriores foram anuladas por discordância de preços dos interessados na execução das obras.
Ednair e duas alunas do curso de biologia verificaram idade, espécie animal, local onde foi encontrada e quem coletou. Nas peças entregues por último não constam nomes. Em sua maioria, elas procedem dos garimpos de Araras, Periquitos e Taquara.
“Fósseis de ossos longos [fêmur, por exemplo], crânios e dentes, são os que mais chamaram a atenção dos garimpeiros. Há também alguns fragmentos de costelas de mamíferos”, informa a diretora do museu, Ednair Nascimento.
“São dois milênios a mais do que a idade do rio Madeira, estimada em 27 mil anos”, observou a diretora. Ela acredita que a Universidade Federal de Rondônia (Unir) participará do projeto se a Fundação de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa (Fapero) lançar editais de chamadas públicas, pelos quais se consolidaria a parceria com o museu.
“Trabalhamos para verificar a parte anatômica, que osso era, a quem pertenceu, e depois preenchemos formulários com a identificação; tudo está encaixotado e armários protegidos com plástico bolha”.
Os próximos estudos irão detectar a dieta dos animais, o que indicará a vegetação existente na era em que viveram na região.
O crânio de um mastodonte identificado pela mandíbula e pela dentição é do primeiro adulto encontrado na Amazônia Brasileira. Até então, os únicos registros foram do Estado do Acre, mesmo assim, apenas de fragmentos. “Nós o identificamos pela mandíbula e pela dentição; já o preguiça gigante, pelas características cranianas”, explicou a diretora.
ARTISTA PLÁSTICA QUE DOOU TODO ACERVO AO MUSEU ESTÁ ANSIOSA
Rita Queiroz trocou a vida confortável do apartamento na Rua Farm de Amoedo, em Ipanema, no Rio de Janeiro, para retornar a Porto Velho em 1980. Era casada com o segundo marido, o maranhense Barros Coelho, e conforme conta, voltou para reencontrar suas raízes.
Há dois anos e meio ela doou todo o acervo pessoal ao museu, mas se confessa apreensiva com a demora na instalação dos equipamentos necessários às salas onde estão seus quadros e o acervo amazônico de lendas e histórias.
“Não é uma exposição, é sala de estudos”. Com a instalação de um aparelho de TV, o museu poderá exibir documentários com diversos temas regionais.
O espaço permanente para exposição e preservação do patrimônio histórico e cultural da artista plástica foi cedido pelo governo estadual pela Lei nº 3.964, de 21 de dezembro de 2016. No alto da parede, a pintura a óleo sobre tela ensina: “Na mata, tudo é mistério”.
Atualmente, a artista nascida no Seringal Santa Catarina, no Baixo Madeira, se esforça até financeiramente para pôr em ordem tudo o que foi levado ao palácio. Já carregou cavaletes nas costas, fez almoço para colaboradores e desembolsou dinheiro para aquisição de peças essenciais.
Às 9h30 da manhã de segunda-feira (1º) ela chegou ao prédio manifestando a vontade de ver tudo funcionando rigorosamente bem. Procurava nos armários e nas estantes com coleções, quatro exemplares de jornais portugueses que relataram o seu trabalho. Rita divulgou no mundo história e lendas amazônicas. Tem um baú cheio de documentos dos lugares por onde passou, mostrando a Rondônia cabocla.
“A nova geração vem aqui e aprende quem foram e o que fizeram essas pessoas”, assinalou. Óleos, ervas para diversos chás, e garrafadas, entre elas a do casamento, ali estão. Segundo Rita, essa cultura se perdeu ao longo dos anos. “Minha babá Raimunda morreu em 2017, depois de inteirar cem anos, e tinha muito a contar”, lembra.
Em frente à máquina de tecelagem, uma pintura mostra a poluição atacando peixes e a mãe d’água querendo cuidar. “Descamação celular”, produzido a partir de roupas e lençóis da pintora, é o grito de alerta da natureza com esperança de renovação. Estas e outras peças fazem parte da exposição Andando pelas picadas.
Para editar Lendas da Amazônia e Contadoras de História, Rita obteve recursos do Banco da Amazônia (Basa). Quando alcançava o público infantil dos beiradões do rio Madeira, o programa Ponto de Cultura, Arte e Vida do Rio Madeira foi paralisado em sua terceira versão, entristecendo a artista. “Mães mães, pais e crianças haviam visitado o seringal Santa Catarina e aprenderam muita coisa boa, até vitral e mosaico”, conta.
Detidamente, Rita mostra a rendeira, o boi de caixa, as meninas vestidas de chita e renda, a fogueira com bambus –também custeados, recentemente, com seus próprios recursos. “Visitei escolas públicas, cativando diretores, professores e alunos, e muitos aqui já vieram”, diz quando ao chegar perto da mandala “que dá volta ao mundo e faz a volta às raízes”.
Mística, ela retira dois livros do chão da canoa denominada SOS Ribeirinhos do Rio Madeira e os presenteia aos repórteres: O fim da Atlântida, de Otto Muck, e Os Essênios e os Manuscritos do Mar Morto), de Fernando Moretti.
Atrás de cada árvore existe um ser extraordinário. A floresta amazônica e seus rios, igarapés, lagos, bamburrais, igapós, vêm formando o cenário perfeito para emoldurar essa fantástica diversidade do imaginário – está escrito em letra de mão numa tela de natureza morta.
Quando para em frente ao óleo sobre tela com o seringal Santa Catarina, Rita elogia a paciência e a resignação dos ribeirinhos que enfrentaram a cheia de 2014, a maior em 30 anos. “O caboclo está acostumado, todo ano fica um pouco embaixo d’água”.
O Museu da Memória Rondoniense está localizado na antiga sede do governo estadual, no Palácio Presidente Vargas, Rua Dom Pedro II, 1600 – Centro. As visitas podem ser realizadas de segunda à sexta, das 9h às 17h.