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Mato Grosso

MT: Extrativistas inauguram unidade de beneficiamento de castanha


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Realização de um sonho. A expressão é a escolhida de forma uníssona entre os coletores de castanha-do-Brasil de Cotriguaçu, município mato-grossense a 1,2 mil quilômetros de distância de Cuiabá, presentes na inauguração do barracão de beneficiamento e armazenamento do produto no último sábado (17).

Uma idealização que nascera ainda quando as reuniões da Associação de Coletores e Coletoras de Castanha-do-Brasil do PA Juruena (ACCPAJ) eram feitas nas calçadas das ruas da cidade, localizada na região amazônica.

Época em que, resultantes de um árduo trabalho de abertura de trilhas na floresta amazônica, identificação, coleta e quebra dos ouriços, as castanhas eram vendidas em estradas, postos de gasolina ou mesmo nas fazendas onde eram coletadas.

“Para a gente, estar aqui é um sonho. É fruto do trabalho, educação, companheirismo agora termos uma garantia de indústria”, comenta Veridiana Vieira, presidente da associação desde 2015.

O espaço de mais de 800 m² será usado nos processos de descascamento, tratamento, seleção e embalagem da castanha-do-Brasil coletada pelas cerca de quarenta famílias extrativistas integrantes da organização.

A construção é uma realização do Redes Socioprodutivas, projeto implementado pelo Instituto Centro de Vida (ICV) com financiamento do Fundo Amazônia/BNDES desde 2018 com apoio às organizações comunitárias das cadeias de hortifrutigranjeiros, café, leite, babaçu e castanha-do-Brasil.

Na inauguração, os coletores também receberam duas motocicletas para a coleta das castanhas, que integram cinco doadas pelo projeto, e uniformes.

Com valor agregado, o produto beneficiado irá garantir acesso a novos mercados.

É o que afirma Benedita Mendes, técnica do Programa de Negócios Sociais do ICV, ao destacar que os benefícios excedem as expectativas iniciais dos extrativistas.

“No início, muitos projetavam um barracão apenas para estocagem da castanha. Isso tomou outra dimensão, fruto de um trabalho coletivo de muito empenho”, avalia.

Trabalho que abre portas para uma nova forma de viver dos recursos naturais na região.

Vivi em lugares desmatados, participei desse processo. A gente precisava sobreviver e era empregado. Hoje não sou mais empregado, hoje eu mando no meu negócio. Colho e tiro renda da floresta.

Manejo sustentável e qualidade de vida

Na inauguração, o coordenador do Programa de Negócios Sociais do ICV, Eduardo Darvin, relembrou a trajetória da instituição com a associação.

“Nós acreditamos e temos a visão de que é possível manter a floresta em pé com desenvolvimento socioeconômico para a região”, disse no evento, que contou com representantes do Executivo e do Legislativo do município.

Cotriguaçu é um dos municípios que integram a região conhecida como “Arco do Desmatamento”.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de 2018, o município, que tem sua economia baseada na pecuária extensiva e exploração madeireira, teve 22% de sua área florestal total desmatada até o ano de 2015.

Demarcado em 1997, o Projeto de Assentamento (PA) Juruena tem cerca de 500 famílias estabelecidas em 30 mil hectares no município. Um estudo do ICV realizado em 2009 mostrou que mais de 40% dessa área havia sido desmatada apenas nos primeiros 10 anos de abertura dos lotes.

O coletor de castanhas Sílvio da Bragança foi um dos que vivenciou as diferentes realidades no local.

“Vivi em lugares desmatados, participei desse processo. A gente precisava sobreviver e era empregado. Hoje não sou mais empregado, hoje eu mando no meu negócio. Colho e tiro renda da floresta”, afirma o extrativista, que será o próximo presidente da associação.

A construção da agroindústria é a continuidade de diversas frentes de trabalho da associação em busca de melhorias para consolidação do extrativismo sustentável do produto e aumento da qualidade de vida para os moradores da região.

Anos atrás, relembra Sílvio, os coletores recebiam oito centavos no quilo da amêndoa. Hoje, o valor chega a 11 reais.

Por vezes, compradores iam buscar o produto no estado do Pará. “Cada um coletava em um lugar e era disperso. Era um trabalho difícil. Com a associação, nos organizamos e estamos conquistado tudo isso”, diz.

Com apoio do ICV e da ONF Brasil, a associação foi responsável pelo lançamento do Plano de Manejo Sustentável da Castanha-do-Brasil, o primeiro plano de manejo florestal não madeireiro do estado de Mato Grosso.

Entre os objetivos, o plano visa a melhoria da identificação das áreas de coleta da castanha, o reconhecimento de padrão de produção da espécie, a melhoria no acesso às áreas e estimativa da produtividade dos castanhais.

A meta é obter a certificação orgânica para as castanhas beneficiadas na agroindústria pelo sistema participativo de garantia. “Assim ampliar ainda mais a comercialização chegando ao mercado com um produto diferenciado e com maior valor agregado”, constata Eduardo.

Atualmente, a ACCPAJ realiza a coleta da castanha em 22 propriedades da região por meio de acordos formais com uma média anual de 150 toneladas de castanhas.

“O que aprendi no passado, que era desmatar para plantar soja e milho, estou fazendo ao contrário. A gente ama a floresta. É prazeroso para mim trabalhar nela, na sombra e sem poeira. É uma riqueza”, conclui o extrativista.

 

Midianews.com.br

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