Artigos & Colunas
Motivações para a Bioética – Por Mario Eugenio Saturno
Compartilhe:
Ao final da segunda guerra mundial, ficou exposto um lado cruel do desprezo pela vida humana: a experimentação em prisioneiros, a maioria por motivos raciais, como judeus e ciganos. Foram julgados 20 médicos nazistas, que em sua defesa alegaram não haver uma regulação sobre isso.
O Juramento de Hipócrates existe há mais de 2.400 anos, há fragmentos do ano 275. No Juramento está a promessa de fazer o bem e jamais o mal. A própria Alemanha já fora envolta em debate semelhante com o médico Albert Neisser, descobridor do gonococo, mas que em 1898 publicou ensaios clínicos em que ele injetara células de pacientes com sífilis em pacientes (prostitutas, principalmente) internados por outros motivos, sem o conhecimento, nem o consentimento. Jornais liberais publicaram esses e outros casos, provocando debate público.
Junto com o Projeto Manhattan (da bomba atômica), o governo dos Estados Unidos iniciou testes injetando elementos radioativos em pessoas e crianças. Em um experimento com um cereal famoso, deram a 73 crianças cereais com elementos radioativos, de 1946 a 1957. O primeiro teste de bomba atômica no mar, no Atol de Bikini, os habitantes foram expostos aos rejeitos radioativos.
Aliás, usaram bombas atômicas em duas cidades japonesas que não eram alvos militares, exceto se acabar com os fieis católicos fosse o objetivo. Um crime contra a humanidade, ainda mais que a grande maioria das populações era de crianças, mulheres e idosos. As bombas mataram cerca de 140 mil habitantes de Hiroshima (de um total de 350 mil) e 74 mil em Nagasaki (de 263 mil). Cem mil crianças cruelmente sacrificadas.
A Ética da Ciência e Tecnologia, que já não dava conta nas aplicações militares, piorou ainda mais diante das inovações comerciais na agricultura, meio-ambiente, medicamentos, reprodução humana e eugenia com outros nomes pomposos, como a fecundação in vitro, que fere todos os preceitos morais da geração do ser humano, e a crioconservação, que expõe os embriões humanos a graves riscos de morte ou de dano.
E seguiu a microinjecção intracitoplasmática de esperma (ou Intracytoplasmic Sperm Injection, ICSI) que se tornou a técnica de maior eficácia para superar diversas formas de esterilidade masculina. E a mais abominável de todas, a redução embrionária, ou seja, como diversos embriões são transferidos para a mãe, a gravidez múltipla pode ocorrer e isso representa risco, tendo como resultado uma intervenção cirúrgica para remover (matar) alguns fetos.
Então, a Igreja Católica assumiu seu profetismo com a Instrução Donum Vitae, atualizada anos depois pela Instrução Dignitas Personae, Sobre Algumas Questões De Bioética, desempenhando o papel que o cientista Stephen Jay Gould acreditava ser magistério da Religião (Moral e Ética), diferente do magistério da Ciência que deve definir o mundo natural. Esta é a concepção do NOMA, ou Não Sobreposição de Magistério (Non- Overlapping Magisteria). A bioética precisa evoluir na velocidade da C&T e precisa contar com a classe política para salvar o país, os brasileiros, o mundo e a humanidade.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot. com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano