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Moradores de Cuiabá passam até 24 horas em fila para garantir ossinhos


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Moradores de vários bairros da grande Cuiabá passam noites a fio acampados ao lado do Atacadão da Carne, no CPA 2, para garantir a doação de ossinhos. Alguns deles chegam a ficar alí até 24h para não correr o risco de perder o benefício.

A recente repercussão do local como ponto de doação, apesar da ação ser realizada há 10 anos, atraiu muitos doadores e voluntários, mas também e, principalmente, pessoas em vulnerabilidade econômica e social.

A aposentada Madalena Rebossa Araújo, de 68 anos, por exemplo, chegou às 10h de quarta-feira (22), para só no dia seguinte, na quinta (23), por volta do mesmo horário conseguir receber a sua tão aguardada cesta de doações, acompanhada dos ossinhos.

Ela, que mora no Bairro Serra Dourada, conheceu a fila dos ossinhos há seis meses, depois de ver uma multidão enfileirada aguardando as doações.

Com uma renda mensal de R$ 1,1 mil por mês, ela, acompanhada do marido, recolhe sucatas para incrementar o orçamento familiar.

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Dona Madalena e uma vizinha, aposentada chegou às 10h do dia anterior

Madalena conta que por pouco ficou sem receber o benefício, pois havia trabalhado a vida inteira sem uma carteira assinada. “Trabalhei a minha vida inteira. Eu criei meus 9 [6 deles ainda vivos] filhos na roça, plantando e colhendo feijão, arroz, milho”.

Ela lembra que nos últimos anos, principalmente depois da pandemia, as coisas pioraram muito e se emociona ao falar sobre a importância das doações para a sua vida.

“No mundo em que estamos vivendo, às vezes, todo mundo fala mal de todo mundo, mas olha aqui [apontando em direção aos sacolões] olha que maravilha, ainda tem gente boa, tem gente que tem Deus no coração”, disse com os olhos marejados.

Pouco atrás de dona Madalena está Dueli Talon, de 73 anos, descendente de ciganos vindo do Acre para realizar um tratamento na laringe (garganta). Ele, que está em Cuiabá há 6 meses, frequenta a fila dos ossinhos há pelo menos 2.

Dueli também passou a noite na fila, chegando uns par de horas depois que a dona Madalena, por volta de 17h. “Aqui o que não é doente está com fome”, disse.

Desde os 7 anos na rua, ele diz que a vida sempre lhe foi difícil e que já fez de tudo um pouco. “Fui trabalhar de frentista, catei latinha, na verdade, até hoje cato latinhas. Acordo às 4h da manhã e ando entre 8 e 10 km por dia”.

Em um cantinho arranjado pelo irmão, Dueli, com o pouco que ganha, ajuda nas despesas. Ele, religiosamente, madruga na fila dos ossinhos e come a iguaria a semana toda.

“Esse casal aí, que organiza”, disse se referindo aos proprietários do açougue. “Eles não são deste planeta não, eles são de outro, nesse planeta não existe gente assim”, afirmou emocionado.

A única reclamação feita por Dueli é a ausência de banheiros químicos no local, que obrigam, segundo ele, os moradores que acampam no local a usar uma região de mata próxima ao açougue.

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Seu Dueli chegou na fila pro volta das 17h do dia anterior

“[Pra ir no banheiro] Tem que entrar no mato, o pessoal usa drogas lá, tem bêbado, tem hora que querem atacar as mulheres”.

De partir o coração

A empresária Samara Rodrigues de Oliveira, de 38 anos, proprietária do açougue, conta que há dez anos o Atacadão da Carne fornece os ossinhos para as pessoas necessitadas.

Com a recente exposição do caso na mídia, o número de pessoas que procuram a empresa para receber o alimento é significativamente maior, quase que o dobro.

“Antes era em torno de 150, 200 pessoas que atendemos por dia. Hoje, entre 350 e 400”.

Segundo Samara, devido à procura, as entregas, que antes eram feitas às segundas, quartas e sextas, passaram a ser às segundas e quintas.

Samara atribuiu o aumento expressivo das filas à exposição na mídia e ao advento da pandemia.

“Pessoas que antes tinham emprego, hoje não tem, pessoas que até tem um emprego mas a renda não dá, tem quem recebe auxílio e aí ou come ou compra remédio. São muitas situações”.

A empresária conta que pede aos moradores que não acampem no local. “Eu venho e falo, pelo amor de Deus, não durmam aí, vocês acabam comigo assim”, disse ela emocionada com a situação.

Pequeno gesto de grande impacto

Ao todo, foram mais de 400 famílias beneficiadas com as doações apenas na última quinta (23). Além dos ossinhos, as famílias receberam cestas básicas, materiais de limpeza e marmitas.

As entregas são realizadas todas as segundas e quintas, por volta das 8h. No final do mês, são entregues também as cestas básicas, conforme as doações chegam.

Devido à quantidade de doações, Samara explicou que neste mês de dezembro, já foram entregues sacolões em três dias diferentes, proporcionando assim um Natal mais farto para as famílias.

O Atacadão da Carne, no CPA, é o ponto de entrega e concentração das doações. Outros parceiros, no entanto, contribuem com doações como o Instituto Canopus, empresários, grupos de amigos que se unem, entre outros.

Midianews.com.br

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