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Mídia e Economia: A mentira política insustentável! – Por Vilmar Berna


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Nas guerras, a primeira vítima é a verdade (lembrando frase de Churchill), e nas crises também.

Crises são fundamentais para produzir mudanças, pois assim como o gato dorme quando está confortável, o povo dorme quando tem pão, circo e mentiras.
Se no passado os poderosos, para dominar as multidões, precisavam de canhões, chicotes, masmorras, hoje, os poderosos dispõem da mídia como instrumento, não da mídia que esclarece, a que explica, a que fala a verdade, mas da mídia comprometida com o espetáculo, com a audiência.

O que fizer a audiência crescer, inclusive a mentira, ou o simples entretenimento, a fofoca, a banalização, será mais importante, como nos espetáculos dos grandes circos romanos, em que pessoas eram trucidadas com muito sangue e brutalidade para o aplauso das multidões.
Não se sabe quem vem primeiro: se é a mídia que é manipulada por que dá audiência ou dá audiência por que é manipulada. Provavelmente, as duas coisas.
A mentira não funcionaria para adormecer o gato se o gato estivesse esperto. A técnica do farol funciona: o que interessa dar divulgação fica sob as luzes dos holofotes e, o que não interessa, fica nas sombras.

Uma das maneiras de adormecer o gato e mantê-lo dormindo é oferecer educação e cultura de nível cada vez mais baixo e superficial.
Tudo o que propor reflexão, aprofundamento, é logo descartado como chato e tedioso. Ler é chato! Escrever, nem se fala, chatíssimo! Pensar, nem pensar!
E quanto mais sonolento, mais fácil fica oferecer falsas ideias para quem tanto faz, tanto fez, por que nada presta mesmo.

Qual é mesmo o problema com o consumismo? ‘Logo agora que eu tenho chance de ascender à classe dos que podem consumir sem limites, graças ao sistema de crédito a perder de vista, vem esses chatos dizerem que o planeta não aguenta?! Logo na minha vez! Ah, vai ter de aguentar, pois estou chegando e quero é mais!’
E, depois, ‘farinha pouca meu pirão primeiro’! ‘Se vai faltar, melhor eu garantir logo o meu quinhão!’ Uma maneira de justificar os que já chegaram antes e garantiram seus quinhões.

Como se a pobreza, o desemprego, a miséria, a fome não fossem o resultado de manobras e políticas perversas de produzir concentração de renda e exclusão social, sob a mentira de que produzirá  progresso e desenvolvimento. Como se a condição de miseráveis fosse uma escolha de preguiçosos e covardes que não querem ou não gostam de estudar nem de trabalhar. Falsas ideias, para gatos e bois dormirem, enquanto os ratos fazem a festa. E os ratos festejam. Muito.

O patrimônio público, os recursos naturais, entregues a preço de banana, o dinheiro público desviado para interesses privados, por exemplo, concedendo licenças ambientais que jamais deveriam ser concedidas, subsídios, desonerações, distribuindo isenções tributárias, benefícios fiscais, empréstimos com dinheiro publico a juros generosos para os mesmos poderosos e ricos de sempre, para que se tornem ainda mais poderosos e mais ricos.

E a cereja do bolo, o pagamento de juros escorchantes, abusivos, indecentes a um sistema financeiro insensível a tragédia humana, muito pelo contrário, que em momentos de crise, quando pessoas, empresas, instituições, países estão mais falidos, é quando esses abutres sorrateiros nos oferecem a mão, emprestando dinheiro que já sabe que não conseguiremos mais pagar o principal, e que mal daremos conta de pagar os juros, estabelecendo-se um sistema de servidão e de escravidão em que não somos mais nós, os devedores, que fazemos as regras, mas nossos algozes e exploradores, que nos emprestaram dinheiro em condições que jamais deveríamos ter aceitado, mas aceitamos, talvez por desespero, talvez por que os abutres mentiram e manipularam a informação financeira, nos fazendo cair numa armadilha.

Claro, não estiveram nisso sozinhos. Contaram com a ajuda de todos os que tomaram dinheiro emprestado não para criarem condições econômicas estruturais que produzissem o auto sustento econômico e o pagamento dos empréstimos, mas para gastar no consumismo, para fazer gentilezas com o chapéu alheio, para fazer populismo assistencialista barato em troca de se perpetuar no poder, como se a conta não tivesse nunca que ser paga.

Nunca os bancos e as instituições financeiras, por exemplo, lucraram tanto, nunca tão poucas famílias tiveram tanto dinheiro quanto hoje, a ponto de suas fortunas superarem a das riquezas somadas de nações inteiras.
De tão ricos e poderosos, são uma espécie de assassinos econômicos que não se submetem a leis ou limites territoriais, pois migram com seu dinheiro volátil para onde lhes for mais favorável, promovendo a quebra de bolsas de valores e de economias de países inteiros da noite para o dia e, como se não bastasse, corrompem e compram consciências e leis que favoreçam seus interesses, elegem e derrubam governantes, promovem guerras, armam minorias revolucionárias para que derrubem seus governos quando estes não lhes são servis.

Às vezes alguns desses ratos poderosos são pegos, mas muito mais por que se tornaram abusados e vieram para as luzes, que pela competência de nossas instituições.
E assim que esses ratos são capturados, os outros que continuam nas sombras tratam logo de ocupar territórios ao mesmo tempo em que seus sistemas de mídia e propaganda colocam os holofotes sobre os que foram capturados, para que a opinião pública seja conduzida a pensar que o problema acabou.
Entretanto, a história mostra que às vezes o gato acorda, quando o desconforto de sua cama de pregos incomoda demais. Mas como quer logo voltar a dormir novamente, escolhe algum salvador da pátria para transferir seu poder de mudanças, e surgem os algozes (como Hitler), por exemplo.

 Adoraria que me dissessem que estou errado, pessimista, enganado. Hoje, minha mais difícil tarefa é ajustar meu tempo de mudança, que é individual e o tempo histórico. O Brasil e o mundo vão mudar sempre, para pior ou para melhor, só que não mudam no meu tempo.

No meu tempo, vi o Brasil e o mundo mudarem, num momento para avante – quando progredimos, por exemplo, na existência de uma legislação ambiental que não existia antes, e num momento seguinte, para trás, quando as conquistas socioambientais passaram a ser moeda da troca num presidencialismo de coalizão em que o poder executivo fica na mão das bancadas majoritárias do poder legislativo, trocando cargos e abrindo mão de direitos e de interesses públicos por interesses privados.

E assim, o Brasil, retrocede, nos envergonha, por exemplo, tributando os mais pobres e a classe média no consumo ou na fonte, enquanto libera as grandes fortunas de pagarem impostos.

Vivemos três realidades: a utópica, do Brasil “país do futuro” “deitado eternamente em berço esplêndido”; o Brasil das classes A, B e C, para as quais a justiça é lenta, os políticos corruptos, a democracia e a mídia são manipulados e o Brasil do salvem-se os que puderem das classes da D para baixo, onde nem adianta buscar a justiça, onde a palavra de pobre, preto, drogado não tem vez, onde o Estado do direito foi substituído pelos tribunais do tráfico.

Sim, o nosso buraco é bem mais embaixo. E cada vez mais esses tantos brasis se afastam uns dos outros, brasis partidos, e irreconciliáveis, que falam linguagens diferentes, culturas diferentes, mas pertencem a toda mesma estrutura piramidal de poder e exploração. O totalitarismo e a ignorância nos unem a todos.

*Vilmar Berna é escritor e jornalista. Fundou a REBIA – Rede brasileira de Informação Ambiental. É editor deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente. Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas.

Foto ilustrativa Google

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