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Mato Grosso e União tentam evitar colapso diante de incêndios e perda de verba internacional
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No mês em que os olhos do mundo se voltaram ao Brasil, mais especificamente para a região Amazônica, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles veio a Mato Grosso verificar in loco o avanço das queimadas. O Estado lidera o ranking de incêndios florestais, em 2019, e deverá ser afetado também pela suspensão de recursos, por parte da Alemanha e da Noruega, ao Fundo da Amazônia. Os governantes evitam falar em “colapso”, mas já articulam saídas para a crise.
Esta semana o Governo Federal anunciou a criação de um Gabinete de Crise para lidar com a questão. O governador de Mato Grosso, por sua vez, informou que já estão no radar pelo menos duas viagens internacionais a países com quem o Estado detém relações comerciais consideradas cruciais.
“Esse momento que nós estamos vivendo, tenho certeza que será ultrapassado, porque nós temos consciência ambiental e vamos demonstrar isso ao mundo. Eu fui eleito para governador Mato Grosso, não tenho que falar da agenda brasileira, mas em Mato Grosso nós iremos tomar todas as medidas para preservar e combater qualquer desmatamento ilegal. Não iremos pactuar com nada às margens da lei. Precisamos de recursos, porque tudo que se faz ainda é pouco, temos demandas, mas eu também acredito que com os recursos que nós temos – humanos e matérias -, com boa vontade e com parcerias, nós podemos ser mais eficientes e dar bons resultados”, amenizou Mauro Mendes (DEM)
Os incêndios florestais são comuns esta época do ano, em razão da estiagem e do forte calor. No entanto, dados – divulgados inclusive pela Agência Espacial dos Estados Unidos (Nasa) – revelaram um aumento significativo das queimadas, que já varreu cerca de 20.000 hectares de vegetação.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora o desmatamento por meio de imagens de satélite no Brasil, mostram que o país registrou, entre janeiro e o último dia 19 de agosto, um aumento de 83% das queimadas em relação ao mesmo período de 2018, com mais de 72 mil focos de incêndios.
Mato Grosso lidera o ranking de queimadas na região da Amazônia, com mais 14 mil focos de calor acumulados até este momento, neste ano, segundo levantamento feito pelo Inpe. A situação é de alerta ambiental, com várias regiões do Estado registrando a temperatura de 38° nos últimos dias.
“O Governo Federal, em todos os estados da Amazônia, está colocando suas equipes do PrevFogo e do ICMBio em campo. No caso aqui de Chapada [dos Guimarães] foram 69 brigadistas do Ibama, mais 20 membros do Corpo de Bombeiros do Estado, quatro aeronaves utilizadas e o fogo foi extinto neste domingo [18]”, declarou Ricardo Salles.
O ministro sobrevoou áreas afetadas ao lado do governador Mauro Mendes e da secretária de Meio Ambiente, Mauren Lazaretti, e prometeu empenho do Governo Federal para que o trabalho de combate às queimadas não seja afetado pelo bloqueio de R$ 280 milhões, por parte da Alemanha e da Noruega, ao Fundo Amazônia.
Aportes bloqueados
O Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é responsável por captar doações para investimentos não reembolsáveis em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, e de promoção da conservação e do uso sustentável das florestas no Bioma Amazônia.
Em Mato Grosso, por exemplo, parte da verba do Fundo – R$ 12,5 milhões – foi utilizada na aquisição de equipamentos e veículos. Além da montagem de todo o batalhão de emergências ambientais, dois aviões já foram comprados com o dinheiro e mais um estava previsto para ser adquirido nos próximos meses, além de mais carros para deslocamento de pessoal e equipamentos de resgate e combate ao fogo.
Conforme o comandante-geral do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso, Alessandro Borges, as ocorrências estão sendo “escolhidas” de acordo com critérios técnicos estabelecidos pela corporação. Além disso, todo o efetivo foi colocado em campos.
“Nesse período cancelamos nossas férias, licenças, fechamos a parte administrativa, justamente para potencializar todo esse efetivo no Estado. Na área urbana nós damos preferência àquele local que coloca em risco o patrimônio ou a vida, porque são dezenas de queimadas urbanas todos os dias e obviamente não vamos conseguir atender todos os chamados. Na área rural a preferência são os parques e as unidades de conservação. Fizemos também o treinamento com pilotos de aeronaves agrícolas, para que cada propriedade tenha sua capacidade de combate se tiver um incêndio em suas fazendas. A sociedade precisa colaborar conosco, porque o fogo dificilmente ocorre de maneira espontânea”, destacou.
Ricardo Salles afirmou, ainda, que analisa um pedido do Corpo de Bombeiros mato-grossense para que o Governo Federal incremente os recursos para a compra de equipamentos no Estado. Além disso, disse que as regras do Fundo Amazônia estão em negociação.
“Por enquanto nós temos muito trabalho para fazer com aquilo que já temos aqui. Mas eles [outros países] têm o dever de ajudar na saúde e na preservação ambiental de todo o planeta, porque isso eles prometeram em tantas reuniões internacionais. O corte afeta, mas não num curto prazo, porque temos aqui projetos que já estão em curso e iremos fazer com o dinheiro deles ou sem o dinheiro deles. Agora, queremos, e eles têm o dever de ajudar, porque pactuaram isso nas grandes conferências sobre o clima”, pontuou o governador Mauro Mendes.