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Malaquias não é o nome do profeta
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Em 15 de fevereiro passado, adquiri uma Bíblia Septuaginta e comecei a ler, original, em grego, claro. Já tinha o Novo Testamento original em grego. O que muda? Nada e tudo! Nada para quem saiba pouco e nem domine o português, tudo para o resto, por exemplo, a percepção muda: não existe Tiago no original, muito menos James da versão inglesa.
Outro exemplo, Jesus não foi a primeira pessoa a receber este nome, aliás nem era nome até que Moisés renomeou (como Deus fazia) Oseias, descendente de Efraim, aquele neto que Abraão adotou e deu a bênção dos primogênitos (nem era o primogênito de José). A palavra cristo (ungido em grego) também é obra de Moisés que ungiu com óleo santo seu irmão Aarão e os filhos deste como sacerdotes. Cristo ainda está associado a Saul e depois a Davi e os demais reis muito antes de Jesus Nazareno.
Quanto a Malaquias, seu livro não deveria ter nome, foi chamado assim porque Malaquias em hebreu é meu mensageiro, como nessa epícope: mandarei o “meu mensageiro” para preparar o meu caminho. E imediatamente virá ao seu Templo o Senhor que buscais, o anjo da aliança que desejais (Ml 3,1). Na Septuaginta está: άγγελόν μου, aggelon mon, meu anjo ou meu mensageiro.
Neste livro há dois grandes temas: (1) As faltas cultuais dos Sacerdotes e também dos fieis: O filho respeita seu pai e o servo, seu senhor. Ora, se eu sou Pai, onde estão as honras que me são devidas (1,6)? Porque não guardastes os meus mandamentos e fizestes acepção de pessoas na aplicação da lei (2,9). Pode o homem enganar o seu Deus? E ainda perguntais: Em que vos temos enganado? No pagamento dos dízimos e nas ofertas. E vós, nação inteira, procurais enganar-me (3,6-12).
E ainda (2) o escândalo dos casamentos mistos e o divórcio: Judá cometeu uma infâmia, amou e desposou a filha de um deus estrangeiro. Eis ainda outra maldade que cometeis: inundais de lágrimas, prantos e gemidos o altar do Senhor, porque o Senhor não dá atenção alguma a vossas ofertas. E dizeis: Mas por quê?! É porque o Senhor foi testemunha entre ti e a esposa de tua juventude. Foste- lhe infiel, sendo ela a esposa de tua aliança. Quando alguém, por aversão, repudia (a mulher) cobre de injustiça as suas vestes – diz o Senhor dos exércitos.
O Anjo da Aliança é interpretado como um anúncio da vinda de João batista por Mateus: É dele que está escrito: Eis que eu envio meu mensageiro diante de ti para te preparar o caminho (Ml 3,1). E foi interpretado como anúncio do próprio Jesus, o Deus feito homem: Virei ter convosco para julgar vossas questões e serei uma testemunha pronta contra os mágicos, os adúlteros, os perjuros, contra os que retêm o salário do operário, que oprimem a viúva e o órfão, que maltratam o estrangeiro e não me temem – diz o Senhor (Ml 3,5).
E pode-se dizer quando foi escrito Malaquias: é posterior à reconstrução do Templo (515 a.C.) e anterior à proibição dos matrimônios mistos no tempo de Neemias (445 a.C.), mais próximo desta data provavelmente. Este último livro do Antigo Testamento promete o Salvador para logo. Esse “logo” de Deus demorou só 450 anos…
Mario Eugenio Saturno (fb.com/Mario.Eugenio.Saturno) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano