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Mais um satélite argentino – Por Eugenio Saturno
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A Argentina nem parece que vive há quase dez anos uma profunda crise econômica.
O presidente Mauricio Macri anunciou dias atrás o lançamento do satélite SAOCOM 1A ao espaço. Lançamento a ser feito por um foguete Falcon 9 da empresa SpaceX, no próximo 29 de setembro próximo na Base Vandenberg, Califórnia, Estados Unidos da América,
Este satélite é tido como um passo importante que a Argentina dá no campo da observação científica. O SAOCOM 1A é um de dois satélites idênticos (o próximo será lançado no ano que vem) desenvolvidos e fabricados pelas Comissão Nacional de Atividades Espaciais (CONAE), Comissão Nacional de Energia Atômica (CNEA) e empresas como a INVAP em que trabalhei por quase dois anos.
Dentro do Plano Espacial Nacional, foi projetado simultaneamente em Córdoba, Buenos Aires e Bariloche com a finalidade de detectar a umidade do solo e fornecer informações independentemente da iluminação do sol, já que utiliza micro-ondas que enxergam através das nuvens. A faixa de frequência necessária implica em um satélite muito grande, chegando 10 metros de comprimento e a 3 toneladas de peso. Em outras palavras, é um satélite que tem como carga útil um radar chamado de abertura sintética.
Os dados enviados pelo satélite serão recebidos no Centro Espacial Teófilo Tabanera da CONAE, que fica localizada em Falda de Cañete, na província de Córdoba. Aí também serão processados para montar as imagens do satélite e que, depois, serão distribuídos para os usuários na Argentina e no mundo. Serão mais de duzentas fotos por dia em preto e branco apresentando uma resolução de dez e cem metros. Imagens em 3D também são possíveis de serem produzidas.
Isso permitirá obter mapas de umidade do solo, mapear a topografia de áreas selecionadas e monitorar florestas, mapas de declive, identificar pontos de acúmulo de água, umidade na superfície e até dois metros de profundidade, o que permitirá estimar com mais precisão quando usar fertilizantes e agroquímicos.
E ainda detectar mudanças nas estruturas urbanas, observar o risco de inundação, incêndio, invasão de insetos, pragas, alertas de doenças endêmicas, erupções vulcânicas, quantificação de danos causados pelo deslocamento de terras.
Ou como destacou o presidente Macri, o SAOCOM 1A permitirá melhorar a competitividade de setores importantes da sociedade como o agronegócio e logística. E ainda salientou o trabalho conjunto de cientistas de todo o país e os esforços conjuntos entre os setores público e privado. Foram mais de dez anos de trabalho que envolveu cerca de 900 especialistas. E isso tudo é parte que se realiza na direção para tornar possível o sonho de uma nação melhor. Reforçando essa ideia, a cerimônia aconteceu no Museu da Casa Rosada.
Se os deputados e senadores brasileiros não sabem, a Argentina tinha um PIB de 546 bilhões de dólares em 2016, enquanto que o do Brasil era de 1,8 trilhão de dólares. Para se ter uma ideia, o PIB da Rússia era de 1,3 trilhão de dólares e estima-se que investem certa de 10% desse PIB na área espacial. Por que o Brasil não vê utilidade no espaço?
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano