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História de Rondônia: Frederico Trotta, o 3º governador, ficou menos de um ano no cargo e apoiou a educação
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Em 274 dias, pouco mais de oito meses no cargo, o militar e escritor carioca Frederico Trotta pouco pôde fazer no curto mandato exercido no Governo do Território Federal do Guaporé.
Terceiro na lista de governadores escolhidos por presidentes da República, o coronel Trotta veio nomeado por Eurico Gaspar Dutra Dutra – o mesmo que anteriormente escolhera Joaquim Vicente Rondon. Governou de 31 de outubro de 1947 a 9 de junho de 1948.
Veio para Porto Velho procedente do Território Federal do Iguaçu [desmembrado temporariamente do Estado do Paraná], onde exerceu o cargo de governador durante 223 dias, de sete de fevereiro a 18 de setembro de 1946.
O intelectual Trotta substituíra em Foz do Iguaçu ao paranaense João Garcez do Nascimento, outro militar de carreira amigo de Vargas, do qual fora ajudante de ordens desde 1930.
Pouco mais de duas décadas antes do fenômeno migratório em Rondônia, ele antecedeu a vinda em massa de famílias procedentes do oeste paranaense, entre os anos 1970 e 1980.
A Constituição de 1946 extinguiu os territórios federais de Iguaçu e Ponta Porã, por isso Dutra o transferiu das Três Fronteiras [Brasil-Paraguai-Argentina] para Porto Velho, a 2.920 quilômetros de distância. Um ano depois, ele dava prioridade a relatórios das necessidades básicas da região – educação, saúde e comunicações –, fazendo a sua parte para a criação do estado 33 anos depois.
CRIADOR DO CURSO NORMAL
Trotta apoiou a antiga Colônia Agrícola do Iata [no município de Guajará-Mirim], que abastecia Porto Velho, constatou a carência de estradas e pontes, e indicou projetos para sua melhoria, entretanto, sua mais notável incursão se deu no campo educacional.
“Ele foi o criador do Curso Normal Regional do Território Federal do Guaporé Carmela Dutra, pelo Decreto nº 047, de 19 de dezembro de 1947”, lembra o professor e historiador Abnael Machado de Lima.
O curso era administrado pelo Colégio Maria Auxiliadora. Foi aí o apogeu da professora paraense Marise Magalhães da Costa Castiel, então assessora da diretora da divisão de educação [equivalente a secretaria], professora Laudímia Trotta, primeira-dama do território e há muitos anos nome de escola municipal no Rio de Janeiro.
“Em janeiro de 1948, Laudímia instalou o curso, assumindo cumulativamente a sua direção, porém, quem o dirigia de fato era a sua assessora, passando a responder oficialmente a partir de nove de junho de 1948”, diz Abnael.
Segundo ele relata a 1ª e 2ª séries inicialmente funcionaram num pavilhão anexo ao Grupo Escolar Duque de Caxias. Numa casa residencial cedida pela Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, na Avenida Farquhar, funcionava o internato para moças vindas, entre outras localidades, das barrancas do rio Guaporé, em Guajará-Mirim, Fortaleza do Abunã, e do Baixo Madeira. Posteriormente, a escola foi transferida para o prédio atual, construído pelo governador Ênio dos Santos Pinheiro (1953-1954).
No biênio 1948-1950 lecionaram voluntariamente os professores Enos Eduardo Lins, Cléa Bringel Guerra, José Augusto Câmara Leme, José Leôncio Cunha, Marise Castiel, Maria do Carmo Ribeiro, Nélio Lins Guimarães, e Stela de Oliveira Paes. Entre esses voluntários, os médicos Antônio Lourenço Pereira Lima, Ary Tupinambá Penna Pinheiro, Ernesto Laudelino de Almeida, Frederico de Moura Marinho, e José Cerqueira Coutrim; os advogados Fouad Darwich Zacarias e José Melo e Silva; os engenheiros e arquitetos Carlos Afonso e José Otino de Freitas; o padre salesiano Henrique Fiorane; o jornalista Oderlo Beleza Serpa; e o geógrafo e estatístico Antônio Freijar.
O curso de educação de adultos, incentivado por Trotta, funcionou no período noturno no Grupo Escolar Barão de Solimões. Ele também reativou a Escola Jacy-Paraná, que já fazia dois anos estava fechada por falta de professor. Criou, ainda, a Casa do Menor Trabalhador do Guaporé, com a participação dos seringalistas, financiada pelo Banco da Borracha, que determinava desconto de 2,5% sobre o valor líquido da venda dos produtos, quantia destinada a casa onde se abrigavam os filhos dos seringalistas, seringueiros, agricultores e operários.
FIM DO MAGISTÉRIO, FIM DO INSTITUTO
Em termos de financiamento, o artigo 50 da Lei nº 8.530 instituía, em 1948, que os poderes públicos tomassem medidas com objetivo acentuar a gratuidade ao Ensino Normal, destinando bolsas a estudantes de zonas que mais precisam de professores primários.
No Guaporé, a contratação dos docentes ocorria precariamente. Por meio de decretos recorria-se aos tarefeiros numerários mensalistas.
Abnael de Lima se queixa da desativação dos cursos de habilitação de magistério de nível médio nos institutos de educação, ocorrida em 1996, bem depois do curto mandato de Trotta: “Foi um ato impensado daqueles descompromissados com a educação e que desconhecem os interesses maiores da comunidade”.
A Lei n° 9.394, de 20/12/96 instituiu novas diretrizes e bases da educação nacional, entretanto, em vez de transformar o Instituto Estadual de Educação Carmela Dutra e os demais existentes em centros de ensino superior, preservando os cursos de habilitação de professores do nível médio, desativou-os.
“Ou seja, a inoperância causou a redução ao mercado de trabalho para expressivo percentual da população”, lamenta Abnael. “O tradicional e histórico núcleo de ensino deixou de ser Instituto de Educação ou Escola Normal, e não passa de ser uma simples escola de ensino fundamental, indevidamente ostentando o título de Instituto de Educação”, acrescenta.
A extinta Maternidade Darcy Vargas em Porto Velho fora inaugurada com o nome de Laudímia, entretanto, com a mudança de governo – na sequência veio Joaquim Araújo Lima –, as obras de ampliação atrasaram e o nome fora trocado. Darcy era esposa do presidente Getúlio Vargas e primeira-dama do País por dois períodos.
ESCRITOR
Além de militar, escritor, poeta e governador, era também advogado, formado pela Faculdade de Direito de Niterói.
Em Curitiba (PR), colaborou com os extintos Jornal da Manhã e foi diretor-secretário de A Tarde, em 1932. Em 1950, escreveu coluna para o também extinto Diário do Povo. Morreu aos 81 anos no Rio de Janeiro.
Suas obras:
Breviário do Recruta (de infantaria) – (No Comando da 4ª. R.M., em 1940)
História do Duque de Caxias (Editora Imprensa militar, 1956)
O Talismã do Cabo Pierre (Editora Vecchi, 1957)
Mãe! (Antologia sentimental – Vecchi, 1957)
Meu Pai, Meu Bom Amigo (Antologia sentimental – Vecchi, 1957)
Um roseiral para alegrar a vista (Vecchi, 1957)
A Fundação da Cidade do Rio de Janeiro (Editora Prefeitura do Distrito Federal, 1957)
O Sistema Parlamentar Brasileiro (Vecchi, 1961)
Poetas cariocas em quatrocentos anos (Vecchi, 1966)
Manual de Política Contemporânea (Editora Leitura, 1967)
DEPUTADO
Entre as décadas de 1970 e 1980, durante o mandato de deputado estadual pelo extinto Estado da Guanabara (Rio de Janeiro), Trotta obteve a aprovação de projetos de lei instituindo o Dia do Jornalismo [em 7 de abril]; Dia do vendedor de jornais e revistas [1º domingo depois da Páscoa]; Dia Comércio no Estado do Rio de Janeiro [terceira segunda-feira de outubro de cada ano]; Dia da Igualdade da Mulher [em 26 de agosto]; Dia da Domadora [28 de setembro].