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Gestão da qualidade em bancos genéticos da Embrapa é modelo para instituto internacional de pesquisa agrícola na Índia


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 Os bons resultados alcançados pela Embrapa desde 2011 na implementação de normas e requisitos de qualidade em seus laboratórios, casas de vegetação, campos experimentais e, mais recentemente, em bancos e coleções de plantas, animais e microrganismos despertaram o interesse do Instituto Internacional de Pesquisa Agropecuária para o Trópico e Semiárido (ICRISAT), um dos centros internacionais do CGIAR (Grupo Consultivo em Pesquisa Agrícola Internacional) localizado na Índia. Os bancos vegetais mantidos no Instituto atuam como base genética em prol da segurança alimentar atual e futura dos povos do semiárido africano e asiático e, por isso, é muito importante que estejam de acordo com as normas de qualidade nacionais e internacionais.

A convite do ICRISAT, a pesquisadora Clarissa Castro, da Secretaria de Desenvolvimento Institucional, e a técnica Zilneide Amaral, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, estiveram no Instituto no período de 23 de novembro a 11 de dezembro de 2018, onde realizaram um diagnóstico da situação atual dos bancos vegetais em relação às boas práticas de qualidade, sensibilizaram as equipes e recomendaram ações relacionadas a essas práticas.

A necessidade premente de adequação do banco às normas de qualidade foi identificada pela pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Vânia Rennó, que há um ano atua como pesquisadora chefe desse espaço no ICRISAT. Ela foi selecionada em um concurso internacional para trabalhar por três anos como Head do Banco de Germoplasma deste centro do CGIAR. “Apesar da vasta experiência do ICRISAT na caracterização, conservação e uso sustentável de plantas de interesse para agricultura e alimentação, notei que as boas práticas no manejo desses recursos precisavam ser modernizadas e adequadas às normas internacionais de qualidade. Pleiteei a vinda das especialistas da Embrapa e fui atendida”, explicou a pesquisadora.

Banco internacional é importante para a segurança alimentar da África e da Ásia

O banco de Germoplasma do ICRISAT é utilizado como repositório mundial de seis culturas mandatórias – sorgo, pearl millet, finger millet, grão de bico, pigeonpea e amendoim – e cinco pequenos milhetos (foxtail millet, proso millet, little millet, kodo millet e barnyard millet). Possui mais de 126.830 acessos de germoplasma oriundos de 144 países por meio de doações e missões de coleta. O Banco de Germoplasma do ICRISAT conta também com coleções regionais em Niamey, no Níger onde mantem mais de 44.000 acessos e em Bulawayo, no Zimbábue com mais de 20.000 acessos das culturas alvo do ICRISAT.

Assim como a Embrapa, a maior parte da coleção está armazenada a logo prazo na forma de sementes a 20°C abaixo de zero como uma garantia para a coleção ativa e programas de melhoramento genético. Também depositou acessos (111.000) no Banco Global de Sementes de Svalbard Global, na Noruega, como backup de segurança.

A coleção ativa está armazenada a 4°C e 30% de umidade relativa e é a fonte básica para distribuição e utilização. Entre os anos de 1975 e 2018, foram distribuídas mais de 792.000 amostras para usuários de 148 países, além de 697.000 amostras para cientistas dentro do Instituto.

Ao longo de seus 45 anos de existência, repatriou mais de 55.000 acessos para nove programas nacionais na Ásia e na África (coleções perdidas devido a calamidades naturais, conflitos civis etc.), promoveu testes e lançamento de 104 cultivares em 51 países e liberou 1019 variedades em 81 países.

Segundo Vânia, a atuação do Instituto em prol da segurança alimentar atual e futura dos povos do semiárido africano e asiático é extremamente importante. O ICRISAT tem como focos principais a redução da pobreza, fome, subnutrição e degradação ambiental. O banco de germoplasma é o cerne de todo esse trabalho, já que garante a base genética para as pesquisas de ponta nas áreas de biotecnologia e genômica. “Por isso, é fundamental investir na gestão da qualidade. É isso que vai garantir às coleções níveis de excelência e adequação às normas nacionais e internacionais, regulamentações de biossegurança, acessibilidade e harmonização dos procedimentos e processos”, afirma.

Gestão da qualidade agrega valor às coleções genéticas

No dia 06 de maio de 2019, Clarissa e Zilneide apresentaram um seminário no auditório Biomas, no qual expuseram os resultados da visita à instituição parceira internacional localizada na Índia. De acordo com elas, houve muita receptividade por parte do diretor do ICRISAT, Peter Carberry, e de toda a equipe envolvida na gestão do banco de germoplasma, especialmente pelos benefícios que a gestão da qualidade pode impactar não apenas no dia a dia dos empregados, como também para a melhoria dos serviços e intercâmbios prestados pelo Instituto a parceiros nacionais e internacionais, no que se refere à padronização, rastreabilidade e confiabilidade.

As boas práticas compartilhadas tiveram como base os seis requisitos corporativos de qualidade utilizados na gestão das coleções vegetais da Embrapa, que são: documentos (externos e internos, com destaque para a padronização de procedimentos); registros (impressos e eletrônicos); pessoal (capacitação e supervisão de empregados e colaboradores); instalações de campo e laboratoriais (adequações, manutenções e padronizações); condições ambientais (adequações e controles); equipamentos e rastreabilidade de medição (manutenções, verificações e calibrações).

Segundo as especialistas em gestão da qualidade, o diagnóstico do banco de germoplasma do ICRISAT incluiu: visitas às áreas, entrevistas, análise de documentos e registros, avaliação da infraestrutura, acompanhamento da rotina de trabalho, reuniões, coleta de evidências objetivas, apresentações orais e relatórios.

Durante o diagnóstico, elas deram início às ações de sensibilização das equipes e recomendações técnicas para garantir a implementação dos requisitos de qualidade e do Programa 5S (iniciativa baseada em cinco conceitos – utilização, organização, limpeza, padronização e disciplina – para melhorar o ambiente de trabalho e a produtividade).

Entre os pontos positivos apontados pela análise no banco de germoplasma do Instituto, destacam-se a proatividade das equipes, que são motivadas e têm responsabilidades bem definidas e a elaboração de POPs (Procedimentos Operacionais Padrão) para coleta, conservação e caracterização de recursos genéticos vegetais. Outro ponto muito elogiado pelas especialistas da Embrapa é a manutenção do banco.

Há vários POPs gerenciais, técnicos, e de equipamentos, instrumentos e máquinas em vigor no ICRISAT. Segundo Clarissa, foram dadas orientações para todos os documentos elaborados relativas a: sumário, cabeçalho, rodapé, introdução, histórico de revisão, junção e separação, equipamentos, saúde e segurança ocupacional, e treinamento.

A pesquisadora apresentou à direção e equipe do instituto internacional a experiência de sucesso na implementação da gestão da qualidade nos bancos e coleções de plantas, animais e microrganismos da Embrapa, que começou em 2016 com a execução dos projetos QUALIVEG, QUALIANI e QUALIMICRO. As ações envolvem 20 coleções de microrganismos de 17 UDs; seis BAGs (arroz, feijão, Capsicum, abacaxi, mandioca e caju); Banco Genético (coleções de recursos fitogenéticos, Banco Brasileiro de Germoplasma Animal, Banco de DNA e de Tecidos de Animais, coleção backup de microrganismos); e o Banco de Tecidos da Embrapa Caprinos e Ovinos. No total, foram realizadas 1311 ações de qualidade de um total de 2119 (62%) previstas até 2020.

Modelo deve ser estendido aos outros institutos do CGIAR

O ICRISAT abrange 15 institutos de pesquisa e mais de 8.000 cientistas de vários países. Clarissa acredita que as ações de implementação da gestão da qualidade sejam estendidas aos demais componentes do Grupo.

O ICRISAT é uma organização sem fins lucrativos, não política que conduz a pesquisa agrícola para o desenvolvimento na Ásia e África Subsaariana, com um vasto leque de parceiros em todo o mundo. Está sediado em Hyderabad, Índia, Telangana, e conta com duas unidades regionais e quatro escritórios em países na África Subsaariana.

Segundo as especialistas da Embrapa, esse foi apenas o primeiro passo para a implementação da gestão da qualidade no instituto indiano. As próximas etapas preveem novas visitas ao ICRISAT e, possivelmente, também treinamento das equipes envolvidas no banco de germoplasma na Embrapa, no Brasil.

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