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Fé e esperança: Os soldados da borracha esperam mão amiga de Jair Bolsonaro
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Além de terem dado a parte maior de suas vidas como esforço de guerra durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), soldados da borracha da Amazônia admitiram, no último dia 31, que o reconhecimento como combatentes pode vir acontecer no governo de Jair Bolsonaro.
Convocados e recrutados no Nordeste com a missão de explorar látex nos seringais nativos amazônicos no governo Getúlio Vargas, eles foram atraídos pela propaganda militar do período sob a promessa de emprego, casa, atendimento de saúde, educação para os filhos e indenização pelos anos trabalhados para suprir a indústria pneumática americana e aliados.
Terminado o Grande Conflito, “os que resistiram às mortes por malária, animais peçonhentos e selvagens (cobras, onças e outros), ao final da extração do látex, Getúlio os mandou em navios até a cidade de Belém do Pará”, atesta o vice-presidente do Sindicato da categoria, em Rondônia, George Teles (Carioca).
Praticamente jogados nas ruas das cidades (Manaus, Porto Velho e Belém do Pará), “ficamos à deriva, como uma nau sem comandante”, afirma José Romão Grande, 96, presidente do Sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros da Amazônia.
Segundo ele, “temos tudo gravado em nossa memória como em um filme sobre se fosse uma película sobre uma Brigada esquecida no front dos campos de batalha da Itália”, assinala Romão.
– Estamos a setenta e três anos, após o fim do Grande Conflito, esperando o cumprimento das promessas de Getúlio Vargas e seus sucessores na Presidência, “que ainda não pagaram o que a nós é devido”, completa ele.
Para José Romão Grande, “somos injustiçados até hoje”. “Agora, com as palavras ditas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, de que irá estender as mãos aos seringueiros da Amazônia, o sonho voltou a ser acalentado de um dia virmos a ser reconhecidos como combatentes de guerra”.
Além da promessa mantê-los esperançosos até últimos dias de vida, soldados da borracha e seringueiros aguardam que o novo presidente autorize “atendimento de saúde nos hospitais das Forças Armadas, salários iguais aos dados aos Pracinhas e a prometida indenização correta pelo esforço de guerra a que foram protagonistas nos seringais no combate ao nazismo e fascismo ítalo-germano”, afirma Carioca.
ENTENDA O CASO – Cerca de 3.944 soldados da borracha ainda estão vivos no Brasil, distribuídos entre Rio de Janeiro, Bahia, Ceará, Amazonas, Rondônia, Pará e Amapá. Sem ocupação e salário digno, a maioria passa necessidade financeira gravíssima, sobretudo se a reforma da Previdência for concretizada, pois, “não há mais como serem absorvidos no mercado de trabalho”, assinala Carioca.
Convocados e recrutados nos estados nordestinos para suprir a falta de mão de obra seringueira nos seringais amazônicos, o governo Vargas criou, instalou e fez funcionar o Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores Para a Amazônia (SEMTA) nos idos de 1943, com sede em Fortaleza (CE).
A atração dos nordestinos deu-se em função da seca que castigava a população e os animais no Nordeste. Levados de suas regiões por comboios ao Ceará sob uma fortíssima escolta policial-militar até mesmo dentro dos barcos que iam à Amazônia (Belém, Manaus e outras regiões), enfrentando duras condições de sobrevivência.
À época, a SEMTA funcionou com uma espécie de empresa terceirizada no governo Vargas. Nos contratos assinados com os soldados da borracha e seringueiros, a empresa ficava com 60% dos valores pagos advindos do fábrico (produção) da borracha entregue aos norte-americanos em Manaus e Belém do Pará.
Em nome do governo brasileiro, Getúlio Vargas assinou o Acordo de Washington (EUA) para fornecer o látex (borracha) às indústrias pneumáticas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45). De lá pra cá, muitas têm sido as lutas do Sindicato dos Soldados da Borracha para que a categoria seja indenizada, vez que mais de 35 mil deles morreram em decorrência da malária, febre amarela e outras ocorrências. Além de devorados por animais selvagens enquanto trabalhavam na Floresta Amazônica.
Enfim, os dirigentes do Sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros da Amazônia (SINDSBOR) com sede, em Rondônia, informa que “o Processo de número 0000073-74.2010.4.01.4100, de autoria da entidade, tramita desde 2010, no Tribunal Regional da Primeira Região, no Distrito Federal”, buscando fazer a reparação do que é devido aos soldados da borracha, arremataram José Romão Grande e George Telles (Carioca).