Saúde
Erotomania: O que é? Quais as causas? Como são o diagnóstico e o tratamento?
Compartilhe:
O que é erotomania?
Erotomania, também conhecida por Síndrome de Clérambault, consiste na convicção delirante de uma pessoa de que outra pessoa, geralmente de uma classe social mais elevada — frequentemente uma pessoa ou celebridade importante — está secretamente apaixonada por ela. Em geral, a pessoa em quem o erotômano se fixa é rica e/ou tem dotes morais, físicos ou intelectuais especiais.
Embora por vezes a erotomania tenha sido descrita brevemente como incluída sob o pensamento obsessivo, ela, no entanto, contém elementos significativos de pensamento delirante: irrealidade, convicção plena, inamovibilidade, incorrigibilidade por meio de argumentos lógicos, etc.
Quais são as causas da erotomania?
A causa da erotomania, como de outros distúrbios psiquiátricos semelhantes, não é claramente conhecida. Ela depende de fatores psicogenéticos predisponentes, apresentando-se como reação anômala da personalidade ou aparecendo secundariamente a certos quadros psicóticos.
A erotomania pode ser primária ou secundária a psicoses, sobretudo a esquizofrenia, ou a estados orgânicos agudos ou crônicos, como infecção pelo HIV, traumatismo cranioencefálico, atraso mental, gravidez, alterações endocrinológicas, uso de anfetaminas, abuso de álcool, demência de Alzheimer, convulsões e hemorragia subaracnoidea, dentre outros.
Qual é o mecanismo psicológico da erotomania?
Do ponto de vista psicodinâmico, Freud encarava a erotomania como uma manifestação de conflito paranoico resultante de processos de negação, deslocamento e projeção que atuariam em defesa contra desejos homossexuais.
Outros autores também implicaram o processo de afastamento de impulsos homossexuais nas causas da erotomania e ainda de uma tentativa de diminuição da inferioridade em doentes pouco atraentes fisicamente e sexualmente inexperientes, ou de compensações psicológicas, projetando-se em pessoas mais valorizadas socialmente. Além dessas, outras teorias psicológicas e psicodinâmicas vão no mesmo sentido ou em sentidos aproximados.
Quais são as principais características clínicas da erotomania?
Essa forma delirante é muito mais comum em mulheres que em homens, embora também exista neles. Esse delírio muitas vezes se desenvolve lentamente em pessoas predispostas, induzido por certos fatores ambientais que podem favorecer o lento desenvolvimento da síndrome, como nos casos de erotomania que se desenvolve nos meios teatrais ou de rádio, em que determinado espectador se enamora patologicamente pelos artistas, julgando que a vítima se acha também enamorada dele, julgando a música e os gestos e as atitudes teatrais como sinal de correspondência de seu amor imaginário.
Quase sempre o início do delírio amoroso se faz por via platônica. No entanto, geralmente o erotomaníaco não se limita a viver o seu desejo imaginário, mas tenta realizá-lo, perseguindo o escolhido, sob todos os modos imagináveis, escrevendo, telefonando ou procurando pela vítima, podendo mesmo chegar à agressão física. Por isso, a intervenção policial ou jurídica pode ser necessária para garantir à vítima os meios legais de proteção.
A erotomania pode apresentar-se de (1) forma primária, independentemente; ou ter uma (2) forma secundária, associada a quadros psicóticos como esquizofrenia, doença bipolar ou outros transtornos. Pode ser ligeira e pouco precisa, confundindo-se com casos “compreensíveis”, ou apresentar-se como casos intensos, claramente anormais. Não raro, o despertar inicial de tais sentimentos amorosos se faz sem que sejam percebidos pela vítima.
A erotomania se revela mais no domínio do amor-sentimento, diferente da ninfomania e satiríase, que representam excitação sexual, embora possa haver casos menos puros. Nela, em geral, não existem preocupações de ordem sexual, havendo mesmo casos de erotomaníacos que são impotentes.
Henri Claude, eminente psicopatólogo francês, escreveu que “a erotomania é uma deformação de sentimentos de amor, assumindo um caráter passional, o resultado de uma fixação obsessiva em uma pessoa, na forma usual de um apego sentimental, mais ou menos livre de qualquer caráter físico”. Contudo, não se relata casos de erotomania em homossexuais.
Como o médico diagnostica a erotomania?
O diagnóstico da erotomania depende basicamente da avaliação clínica dos relatos feitos pelo paciente, o que comporta sempre certo grau de subjetividade. Não existe nenhum exame capaz de oferecer dados objetivos. Alguns casos se tornam claramente anormais, enquanto outros ficam num limbo duvidoso.
Como tratar a erotomania?
As tentativas de tratamento da erotomania devem ser, associadamente, farmacológicas e psicoterápicas.
Os medicamentos usados na maioria dos casos são os antipsicóticos. Quase sempre, eles apresentam uma resposta terapêutica apenas modesta através da redução da intensidade do delírio e das ideias de referência que o acompanham. São um pouco mais úteis no controle do comportamento, permitindo um funcionamento mais adequado do indivíduo na comunidade.
Relativamente às terapias psicológicas, vários autores defendem que a psicoterapia individual não é eficaz neste tipo de doentes. Terapias de suporte, tais como intervenções familiares, sociais e ambientais, parecem apresentar maior benefício. Alguns doentes necessitam ser temporariamente separados dos seus objetos de amor. Esta separação do objeto do delírio amoroso pode constituir o único meio terapêutico eficaz. Tradicionalmente, a erotomania é descrita como uma condição crônica e refratária ao tratamento.
Como evolui a erotomania?
Embora rara, essa forma de delírio resulta tanto em violência quanto em homicídio contra o interesse amoroso ou contra outras pessoas que sejam percebidas como rivais do perseguidor.