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Em Cruzeiro do Sul, preconceito ainda é obstáculo no tratamento da hanseníase; município notificou 10 casos em 2022


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O aposentado Manoel Gomes é de Cruzeiro do Sul e tem 72 anos. Aos 13 anos, ele descobriu, no seringal onde morava, que tinha hanseníase. Ele conta que, na época, se isolou para não sofrer preconceito pela população, mas era quase impossível não ser notado.

“Nós não podíamos subir em casa de ninguém, não podia subir descalço, não deixavam”, relembra.

Por conta do preconceito, ao final da década de 1960 a Igreja Católica iniciou um trabalho com as pessoas que tinham a doença e foi criado o leprosário, onde funciona atualmente o hospital dermatológico. O dermatologista Francisco Albino explica que no início a doença foi muito atrelada à religião, o que dificultou a descoberta de tratamentos.

“Primeiro se tinha a ideia que a doença era resultado do pecado. Logo, se é resultado do pecado, quem tem autoridade pra curar é Deus. Naquela época não houve avanço na medicina, foi atribuída à igreja a responsabilidade pra cuidar”, aponta.

As marcas deixadas pela hanseníase vão além das mutilações causadas pela doença. Em Cruzeiro do Sul, os pacientes eram isolados no bairro Telégrafo. A história de perseguição e preconceito era tão surreal, que é difícil pensar que as vítimas da hanseníase, naquela época sem tratamento, sofreram até a década de 80 até que fossem ressocializadas.

Com os devidos aparatos médicos, atualmente é possível tratar a doença. A Auxiliadora Bezerra é dona de casa e foi ao posto de saúde realizar a consulta com o especialista. Ela conta que estava com marcas pelo corpo, que é um dos sintomas da hanseníase.

“Resolvi vir aqui pra procurar alguma composição, alguma melhora e se era hanseníase. Mas, graças a Deus, foi descartado. E se não fosse, pra mim tudo bem, não tenho preconceito”, diz.

Em 2022, Cruzeiro do Sul notificou 10 casos de hanseníase em grau avançado. Nos últimos anos, as equipes de saúde notaram que a adesão do público para o atendimento é baixo na cidade, devido ao medo da doença e o preconceito que ainda existe, como destaca a coordenadora de vigilância epidemiológica Rafaela Oliveira.

“A maioria dos pacientes que a gente diagnosticou durante esses anos, são pacientes em estágios avançados da doença. Quanto mais cedo se iniciar o tratamento, menos sequelas o paciente vai ter, e não vai ter sequelas se ele trata inicialmente”, ressalta.

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