Mato Grosso
Em 30 anos, Cuiabá perdeu mais de 55 mil hectares de vegetação nativa
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Nos últimos 30 anos, Cuiabá perdeu o equivalente a 55.763 hectares de sua vegetação nativa, em razão de novos loteamentos, obras de infraestrutura e atividades agropecuárias. Isso significa dizer, que ao longo dos seus 300 anos, a capital mato-grossense perdeu o equivalente a 17% das áreas verdes de seu território (uma área de 3.291 km² ou 329.177 hectares).
Dados como estes, disponibilizados pelo Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo do Brasil (MapBiomas), fazem parte da “Análise da perda de vegetação nativa no município de Cuiabá”, um estudo elaborado pelo Instituto Centro de Vida (ICV). “O que a gente encontrou foram mais de 55 mil hectares de vegetação perdida e convertida para outro uso, principalmente, para o agropecuário, mas também para obras de infraestrutura e também de loteamentos urbanos e rurais”, reforçou o engenheiro florestal Vinícius Silgueiro, coordenador de Geotecnologia do ICV.
De acordo com Silgueiro, a vegetação removida equivale a duas vezes e meia a extensão da zona urbana da cidade, que soma 24.412 hectares. Ou ainda 714 vezes a área do Parque Estadual Mãe Bonifácia, na região do bairro Duque de Caxias. “Na realização desse trabalho, a gente observou, olhando para a área urbana, algumas dessas regiões onde o impacto se deu de forma mais expressiva, especialmente, em virtude de algumas obras de infraestrutura como, por exemplo, Avenida das Torres, que liga a Avenida Dante Martins de Oliveira, até o bairro Pedra 90, e ao fazer todo esse cruzamento na cidade, ela (Avenida das Torres) também proporcionou loteamentos regulares e irregulares”, observou.
Observou-se ainda um grande avanço sobre áreas de preservação permanente (APP), das margens dos rios, como o “Cuiabá” e o “Coxipó” e, os córregos, como o “Barbado”, que foram bastante impactados pelas ocupações irregulares. Dessas invasões, por exemplo, nasceram bairros como o Jardim Vitória, Florianópolis, Renascer e DR. Fábio, entre outros. “Os impactos são bastante grandes. A perda de vegetação é algo sentido por todo cuiabano. Todos que passam por Cuiabá sentem o forte calor que a cidade tem. O microclima local já ocorre o conhecido fenômeno ‘Ilha de Calor’ e essa perda de vegetação só acentua esse processo”, reforçou.
Se não bastassem os impactos causados pela expansão urbana, há ainda os efeitos das obras de infraestrutura. “Somente para abrir espaço aos trilhos do almejado Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), obra do pacote da Copa do Mundo de 2014 e que não foi concluída até hoje, foi necessário retirar cerca de 2.500 árvores”, aponta.
Os impactos negativos refletem ainda nos recursos hídricos. “O provimento de água para abastecimento da área urbana é bastante atingido visto que essa invasão das áreas de vegetação nativa se dá em áreas de preservação permanente”, frisou. “O que chama bastante atenção é que Cuiabá a gente vai encontrar nos próximos anos se uma cidade ainda verde ou uma cidade cinza?”, indaga.
Mas, o estudo aponta saídas para que a cidade chegue bem aos seus 400 anos. Para isso precisa buscar o equilíbrio entre as necessidades de expansão urbana e ter como prioritárias as questões relativas à preservação de áreas verdes, à recuperação de áreas degradadas e a fiscalização do cumprimento às leis ambientais e de ocupação do solo.
Pelo mundo, cita o ICV, muitas cidades estão a promover grandes transformações sociais por meio de soluções baseadas na natureza. Um exemplo citado é Nova York, que até 2030, cada habitante da cidade terá um espaço público verde a 10 minutos de caminhada. “Em Campinas, onde serão criados 43 novos parques lineares, nenhum morador deve ficar a mais de 24 quadras ou 2 km de uma área de lazer”.
O ICV lembra ainda que, Cuiabá nos últimos 20 anos, registrou investimentos na implantação de parques, como o Mãe Bonifácia, Zé Bolo Flor, Massairo Okamura e, mais recentemente, Tia Nair e das Águas, como avaliações em geral positivas dos frequentadores. O diagnóstico, porém, é que ainda faltam mais áreas disponíveis para contato com a natureza.
“Cortada por rios e córregos, a cidade poderia se beneficiar de um programa de implantação de parques lineares, que são áreas protegidas nas margens de rios que, além de evitar os impactos de enchentes em casos de chuvas extremas, ainda ajuda a compor uma rede de proteção com base na malha hidrográfica”, aponta o ICV.