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É preciso falar sobre saúde mental no trabalho em tempos de Covid-19


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Porque o “ser” está além daquilo que se “faz”, aponta especialista
Estamos diante de um caos mundial, que no Brasil tem reverberado em efeitos preocupantes. Em levantamento realizado em julho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 12.428 milhões de pessoas estavam desempregadas na quarta semana de junho e esse é um número que infelizmente só tem aumentado.

Segundo levantamento publicado também em julho, 716 mil empresas fecharam as portas por conta da pandemia. Estamos falando de milhares de famílias enfrentando necessidades, de pessoas em seus trabalhos com medo de perder o emprego a qualquer momento. O país tem retomado as atividades ainda em período emblemático diante do surto de Covid-19.

Como empresário, com mais de 35 anos de vivência no mundo corporativo e como consultor à frente da MORCONE Consultoria Empresarial desde 2015, lido com o dia a dia de empresas que estão enfrentando essa fase conturbada e hoje trago um artigo sobre um tema fundamental que é a saúde mental no trabalho em tempos de Covid-19.

Quando a saúde mental começou a ser mais discutida no ambiente profissional

O trabalho possui um papel importante quanto se fala em saúde mental. Na construção social, há uma série de crenças como a de que o trabalho forma o caráter, torna o ser humano merecedor de recompensas sociais, etc. Quando alguém te pergunta sobre quem é você, provavelmente falará sobre o que faz, sobre trabalho, sobre atividades que desempenha, ou seja, o trabalho constitui parte do que o ser humano acredita ser.

Nos anos 1950 começava-se a falar em psiquiatra social e no trabalho como um campo de estudo que poderia englobar uma série de disciplinas como: sociologia empírica, sociologia das organizações, ciências de gestão, psicofisiologia do trabalho, medicina do trabalho, etc. Alguns dos nomes mais importantes desse estudo são dos psiquiatras franceses Paul Sivadon e Louis Le Guillant.

A saúde mental no trabalho em tempos de covid-19 é um tema que tem sido cada vez mais discutido, porque com esse problema de saúde pública tão grave, tivemos que enfrentar mudanças bruscas em nosso estilo de vida, precisamos nos adaptar a condições diferentes das quais estávamos acostumados, algumas pessoas precisaram praticamente começar do zero uma vivência on-line ou rever hábitos no modelo de trabalho home-office. Como podemos lidar com esse momento, mentalmente saudáveis?

Em minha experiência em consultoria, frequentemente lido com gestores que estão enfrentando, para além de problemas relacionados ao negócio, problemas relacionados a crenças limitantes ou padrões comportamentais negativos.

Você, SER, está além do que acha que é pelo que FAZ

Sintomas psicológicos vão surgindo diante de uma pandemia e de suas fases. Na primeira fase, o medo é uma das reações mais presentes, quem não enfrentou logo no começo do isolamento um medo beirando a pânico de ser contaminado pelo vírus? Além disso, o isolamento social foi mexendo com a saúde mental das pessoas. A ausência de contato físico e a mudança brusca de comportamentos só foi intensificando os problemas de saúde mental entre os brasileiros.

Mas consequências também surgem no ambiente de trabalho. Como mencionei, o modelo de trabalho home office que será mantido ainda por muitas empresas até que a situação de contaminação se estabilize no Brasil, também representa um propulsor para o desenvolvimento de problemas na saúde emocional, afinal, uma nova rotina foi inserida bruscamente na vida de milhares de profissionais e lidar à distância com questões que eram resolvidas em ambiente de trabalho físico e presencial, pode gerar em muitas pessoas a sensação de não pertencimento, ou seja, de perda de identidade enquanto profissionais na empresa.

Faz parte da liderança o trabalho de integração da equipe mesmo à distância e a educação para o conceito de ambiente de trabalho muito além do físico, mas baseado na escuta ativa, na solidariedade e conexão, mesmo que distante.

Pessoas que já enfrentam problemas como síndrome do pânico, ansiedade e depressão, em um cenário atípico como esse, se encontram ainda mais vulneráveis e, algo que julgo fundamental orientar, é que não se deixe de falar sobre questões psicológicas no trabalho, esse é o momento de unir forças, de prestar apoio, de gerar uma rede de auxílio, além do profissional.

Empresas precisam ainda mais se conectar a quem são os seus colaboradores. Quais problemas de saúde mental enfrentam? Reuniões não devem ser canal apenas para falar de aspectos profissionais, mas de aspectos pessoais, de como cada um tem lidado com as mudanças que tiveram de ocorrer devido à pandemia.

O trabalho, claro, é parte do que somos, é um exercício que realizamos como seres humanos, mas, não somos o trabalho, não somos o empresário, o desenvolvedor de softwares, a responsável pelas Relações Públicas, a representante comercial, etc… Somos além do que exercemos enquanto profissionais, somos seres únicos e temos as nossas peculiaridades, somos muito sonhadores ou muito metódicos, somos generosos ou precisamos ainda lidar com o egoísmo nosso de cada dia, mas de uma maneira geral, somos o que somos, de uma maneira ampla, além do que achamos que somos por conta de nossas atividades enquanto profissionais.

Exerço funções profissionais como empresário e consultor empresarial, mas para muito além disso, sou pai, esposo, acredito no potencial humano, sou até certa medida idealizador, tenho medos, mas procuro não escondê-los, mas encará-los, sou complexo, como todos nós seres humanos.

A saúde mental no trabalho em tempos de Covid-19 precisa ser pauta no ambiente dos negócios e pode, inclusive, ser pauta proposta em reuniões pelo conselho de administração das empresas.

Por muitos anos, as pessoas escondiam os seus problemas psicológicos do ambiente de trabalho porque “não era bem visto”, mas hoje vemos que cada vez mais pessoas dentre a população mundial sofre de algum distúrbio, em muitos casos, decorrente de fenômenos sociais.

Os problemas de saúde mental no trabalho em tempos de Covid-19 não podem ser ignorados, as empresas precisam tratar de questões que envolvam o bem-estar de seus colaboradores. Um ambiente, ainda que à distância, que mostre solidariedade e respeito a cada um como ser individual, é fundamental.

E não apenas os colaboradores, mas os gestores, aqueles que estão à frente das empresas, em posições de liderança, também precisam encarar os seus problemas de saúde mental. A ansiedade, depressão, síndrome do pânico, bipolaridade, fobia social, entre outros problemas, não podem mais ser ignorados.

Trabalho e saúde mental são indissociáveis, afinal, empresas são formadas por pessoas, e seres humanos têm as suas particularidades e problemas. É preciso mais escuta nas empresas, para que as pessoas possam falar não apenas sobre o que fazem, mas sobre quem são e como se sentem.

Carlos Moreira – Há mais de 35 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria) e CCO (Diretor Comercial e de Marketing). É empresário há mais de 15 anos e sócio e fundador da MORCONE Consultoria Empresarial.

Assessoria
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