Saúde
É possível ser portador do HIV e viver sem transmitir o vírus?
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Gabriel (nome fictício), 41 anos, foi diagnosticado há um ano e seis meses soropositivo e, desde janeiro de 2019, está com carga viral indetectável, ou seja, intransmissível. Para atingir esta condição, ele seguiu todas as orientações dadas pelos profissionais do ICOM e fez o tratamento adequado, indicado pelo médico infectologista do instituto, Claudilson Bastos, com medicamentos antirretrovirais fornecidos pela farmácia do ICOM. Nos seis primeiros meses Gabriel já estava com baixa quantidade de HIV no sangue, sendo classificado como indetectável.
“Quando fui diagnosticado eu não sabia que existia essa possibilidade de ser indetectável. Eu procurei cuidado imediato, mas na minha cabeça o tratamento para HIV ainda era antigo, e a curto prazo e não dava certo. Foi por meio do Dr Claudilson Bastos que tive a informação e descobri que posso viver com HIV e ter saúde e qualidade de vida”, revela.
Mesmo tendo boas respostas à terapia, Gabriel ainda enfrenta o estigma e preconceito. “Eu não conto para as pessoas que sou soropositivo. Falo que sofri um AVC isquêmico, o que não deixa de ser verdade, mas não digo a eles que tenho HIV”, confessa.
Gabriel mora com seu companheiro, que o acompanha nas idas ao ICOM, ele ainda tem filhos e leva uma vida normal. Tem expectativa de continuar o tratamento e que alcançar a cura, com a evolução das pesquisas sobre o HIV.
Estudos comprovam que paciente com carga viral indetectável não transmite o vírus por via sexual
Segundo o Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais (DIAHV), o uso do conceito está sustentado nas evidências científicas de que as PVHIV em Tratamento Antirretroviral (TARV) e carga viral indetectável não transmitem o vírus por via sexual.
Durante o evento Infecto Bahia 2019 (I Simpósio Estadual em Terapia em Doenças Infecciosas e II Jornada Baiana em IST e HIV), a diretora geral do ICOM, Dra Ceuci Nunes, mostrou que o termo Indetectável = Intransmissível (I = I) está sendo utilizado por cientistas e instituições de referência sobre HIV em todo o mundo e ainda pontuou que o conceito é um ponto positivo para melhorar a adesão do paciente ao tratamento e reduzir o estigma e preconceito ligado à infecção pelo HIV.
Diversos estudos realizados com casais formados por uma pessoa com HIV de carga viral indetectável e uma pessoa soronegativa (sem HIV) mostram que não houve transmissão sexual do HIV. De acordo com o UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS) “com a escolha certa de medicamentos antirretrovirais, os níveis virais cairão ao longo de vários meses para níveis indetectáveis e permitirão que o sistema imunológico comece a se recuperar”.
Carga viral indetectável
Para conquistar a condição de indetectável o paciente deve seguir o tratamento recomendado durante seis meses, e então manter a carga viral indetectável após o primeiro resultado do teste indetectável, sendo recomendado realizar o exame de carga viral a cada seis meses.
Desta forma, o paciente com HIV, que segue o tratamento adequado, pode viver com o vírus e levar uma vida saudável, além de poder viver tanto tempo quanto uma pessoa que não possui o vírus. “É importante lembrar que o paciente com carga viral indetectável deve continuar usando o preservativo para prevenir outras ISTs)”, alerta a médica.
Dra Ceuci também ressalta que o melhor tratamento para o HIV é a prevenção. Atualmente, além do tratamento dos pacientes com o vírus e o uso dos preservativos, existem outras formas de prevenção como a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), uso de medicamentos antirretrovirais para reduzir o risco de infecção em situações de exposição ao vírus, e a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), medicação que impede que o vírus infecte o organismo antes da pessoa ter contato com o vírus.
Mamães em alerta
Apesar dos resultados positivos nos pacientes que seguem o tratamento adequado e apresentam carga viral indetectável, para amamentação ainda não há evidências que justifique a adoção do conceito I = I. O vírus ainda pode ser transmitido para o bebê durante a amamentação, mesmo que a mãe esteja com quantidade indetectável. Sendo assim, as mamães devem continuar o tratamento para o HIV e iniciar o tratamento para inibir a lactação.
Estigma e preconceito
Uma pesquisa realizada pela UNAIDS aponta que maioria das pessoas que vive com HIV e das pessoas que vive com AIDS no Brasil já passou por pelo menos alguma situação de discriminação ao longo de suas vidas. Participaram do estudo 1.784 pessoas, em sete capitais brasileiras, entre abril e agosto de 2019, em sua maioria indivíduos negros e que vivem com HIV, em média, há dez anos.
64,1% das pessoas entrevistadas já́ sofreram alguma forma de estigma ou discriminação pelo fato de viverem com HIV ou com AIDS. Comentários discriminatórios ou especulativos já afetaram 46,3% delas, enquanto 41% do grupo diz ter sido alvo de comentários feitos por membros da própria família. O levantamento também evidencia que muitas destas pessoas já passaram por outras situações de discriminação, incluindo assédio verbal (25,3%), perda de fonte de renda ou emprego (19,6%) e, até mesmo, agressões físicas (6,0%). Os dados fazem parte do Índice de Estigma em relação às pessoas vivendo com HIV/AIDS – Brasil, realizado pela primeira vez no país.
O diretor interino do UNAIDS no Brasil, Cleiton Euzébio de Lima, destaca que “a discriminação tem se demonstrado como um dos grandes obstáculos para o início e adesão ao tratamento, além de ter um impacto negativo nas relações sociais nos âmbitos familiar, comunitário, de trabalho, entre outros”.
Veja campanha do Ministério da Saúde com depoimento de pessoas que estão indetectáveis.