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Doria provoca crise interna no PSDB às vésperas da decisão de novo candidato
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O PSDB enfrenta uma crise interna às vésperas de decidir qual será seu candidato à Presidência da República — as prévias estão marcadas para o dia 21. As informações de bastidores são de que haverá uma debandada se o novo escolhido for o governador de São Paulo, João Doria. Ao menos 14 dos 29 deputados deixariam a sigla. Os outros postulantes são o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto.
Na ala pró-Doria dentro do PSDB, o racha é descartado. Segundo fonte ouvida pelo Correio, essa suposição é recorrente: surgiu, também, nas prévias para a prefeitura e para o governo do estado, mas na prática, o partido se fortaleceu em São Paulo, sob o comando de Dora, nos dois âmbitos.
Para o líder do partido no Senado, Izalci Lucas (DF), o que ocorre é um comportamento natural em toda disputa. Para evitar debandadas em massa, ele explicou que dentro da sigla existe uma “regra”, cujo princípio é de que, após a votação, todos devem se unir. Por isso, não vê a questão como urgente. “São três perfis que estão disputando, é natural ter esses dilemas antes das prévias, isso é a democracia”, frisou. “Depois tem de ver, mas, quando se criou essa regra, independentemente de quem ganha, todo mundo se une. O compromisso é união. Tem de respeitar as regras, todo mundo entrou no partido sabendo delas.”
Conforme destacou o cientista político Valdir Pucci, “o PSDB é um partido que, tradicionalmente, desde o segundo mandato do Fernando Henrique Cardoso, briga muito internamente”. “Isso acaba prejudicando a sua própria ação no processo eleitoral. Então, basta ver que o partido se divide e não apoia o seu próprio candidato durante o processo.”
O especialista afirmou que a tensão não diz respeito somente ao governador de São Paulo. “Existe uma ameaça não só se o Doria ganhar, mas também se Eduardo Leite ganhar. Partidários de Leite podem deixar a legenda, e vice-versa. Na verdade, isso faz parte da guerra de bastidores no PSDB.” Para ele, independentemente de quem vença as prévias, a sigla terá de fazer um trabalho de reconstrução de pontes internas.
Problema
David Fleischer, professor de ciências políticas na Universidade de Brasília (UnB), especialista em partidos políticos e sistemas eleitorais, ressaltou que na política cada um decide pensando na própria reeleição. “É mais comum um deputado ter um reduto para concentrar seus votos. Por exemplo, em uma cidade onde já foi governador, ele tem os votos do local garantidos e mais de uns três ou quatro municípios próximos. Se mudar de partido, não vai se prejudicar, porque o vínculo dele com o eleitorado não é referente ao partido e, sim, ao próprio nome”, frisou.
Na avaliação de Fleischer, o PSDB tem um grande problema, que é o de repetir candidatos do estado de São Paulo para a corrida ao Planalto, ocasionando mal-estar. De acordo com ele, quando os tucanos resolveram diversificar, com o nome de Aécio Neves (MG), em 2014, chegaram muito próximo de elegê-lo. Então, isso estimulou deputados a quererem nomes de outras regiões.
Correio Braziliense