Religião
Discernimento de espíritos: Um dom imprescindível
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A Lição de hoje traz um tema que consideramos de suma importância na vida cristã: discernimento espiritual, especialmente com foco na distinção da operação do erro, que, infelizmente, está também presente no arraial do povo de Deus. Nem sempre é possível discernirmos pela percepção humana quem é joio e quem é trigo, ou a origem de uma manifestação incomum, se de procedência divina, humana ou demoníaca. Em meio às batalhas espirituais travadas contra o reino das trevas, o dom de discernimento é vital para que os soldados de Deus permaneçam de pé e ponham em fuga os adversários que sorrateiramente buscam infiltrar-se para arrastar-nos ao erro. Estudemos este palpitante assunto e coloquemos em prática tudo o que o Senhor, por sua Palavra, estará a nos ensinar!
I. Discernir e discernimento
1. Definição
Um dos termos gregos mais comuns no Novo Testamento para discernimento é diakrisis (que é um substantivo), que se deriva do termo krino (um verbo), que por sua vez significa julgar. Segundo o Dicionário Vine, diakrisis significa “distinção, discriminação clara, discernimento, julgamento” [1]. No sentido em que tomamos nesse estudo, como uma dotação espiritual, discernimento é a compreensão adequada e a identificação exata da procedência de uma determinada situação, se de procedência divina, humana ou demoníaca.
2. Duas formas de discernimento
O discernimento das coisas espirituais tanto pode ocorrer de modo ordinário, isto é, comum, quando usamos as faculdades intelectuais otimizadas pela sabedoria divina, como pode também ocorrer de modo extraordinário, isto é, fora do comum, quando somos capacitados pelo Espírito Santo com o dom espiritual de discernimento de espíritos. Veja os exemplos a seguir.
Um professor de escola dominical pode discernir de modo ordinário se a pergunta que um aluno está fazendo é sincera ou se é pegadinha para colocá-lo “contra a parede” e constrangê-lo diante da classe; noutra circunstância, um pastor poderá precisar de modo extraordinário da manifestação do dom de discernimento para que possa julgar com clareza a motivação no coração de um ofertante que lhe procurar para fazer a doação de alta soma de dinheiro – será uma benção de Deus para a igreja, a fim de expandir sua obra? Será a tentativa de barganhar a indulgência de um pecado escandaloso que foi ou está para ser descoberto? Será um laço do diabo para jogar o pastor e/ou a igreja em escândalo financeiro? Como diz a sabedoria popular, “nem tudo que reluz é ouro”!
3. Todos os crentes são chamados ao discernimento
Nenhum crente pode justificar sua ignorância ou atração pelo engano no fato de “não ter o dom espiritual de discernimento”, nem deve também pensar que discernir os espíritos é coisa para supercrentes ou apenas para uns poucos privilegiados da igreja dotados de um suposto poder de “raio-X espiritual”. Não! Todos os crentes são chamados a examinarem meticulosamente a procedência dos fenômenos sobrenaturais que ocorrem entre nós: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1Jo 4.1).
João apela aos “amados”, não apenas aos pastores; aos “amados”, não somente aos teólogos! Noutro momento, ele os chama de “Meus filhinhos” (1Jo 2.1), e para que ninguém se escuse, ele deixa claro a quem se refere: aos “filhinhos”, isto é, às crianças (1Jo 2.14; gr. paidia), aos “pais” (v. 13a) e aos “jovens” (v. 13b). Portanto, todos estão inclusos, ainda que cada um terá um nível de discernimento ajustado à sua maturidade e/ou à operação do dom espiritual em seu coração! Não nos esqueçamos que Deus revelou segredos e antecipou fatos futuros ao então menino Samuel (1Sm 3.11-14), e lembremos também que Paulo disse sobre Timóteo que ele sabia as sagradas Letras desde a sua meninice (2Tm 3.15). Às crianças Deus também dá discernimento!
A todos os crentes está ordenado: “buscai com zelo os dons espirituais…” (1Co 14.1), e essa busca inclui o dom de discernimento de espíritos, que é, sem dúvida, um dom imprescindível, um dos “melhores dons” (12.31) para a Igreja do Senhor, ainda mais em dias de multiplicação da maldade, do erro e das astúcias de Satanás!
4. Um dom para hoje
Como dom espiritual, assim como as línguas, profecias e as curas, o discernimento de espíritos não foi concedido a todos os crentes, embora todos possam busca-lo com zelo, como já dissemos. Paulo menciona esse dom em 1Coríntios 12.10, quando diz que o Espírito Santo (a fonte dos dons) concedeu “…a outro, discernimento de espíritos”. Na verdade, no texto grego toda a expressão está no plural, discernimentos de espíritos, como que apontado para múltiplas dotações espirituais para o crente, a fim de capacitá-lo para emitir julgamento adequado diante das mais variadas circunstâncias.
Donald Gee, um dos primeiros teólogos pentecostais no século passado, ensinava que “Esse dom espiritual é um dos protetores da Igreja contra o engano e o fingimento, quer pelo poder demoníaco (como a jovem em Filipos – At 16); ou pela hipocrisia (como Ananias e Safira – At 5); ou por ambos (como Simão, o mágico – At 8)” [2].
Visto que Satanás não deixou de ser o pai da mentira nem desenvolveu afinidade pela verdade (Jo 8.44), antes, continua aqui e ali travestindo-se como anjo de luz e até movendo seus emissários, como os feiticeiros do faraó, na realização de coisas miraculosas; e visto que os homens ignorantes e desviados da verdade continuam indo “de mal a pior” (2Tm 3.13), sempre inventando meios esdrúxulos de ganharem fama, poder e dinheiro, muitas vezes até mesmo manipulando e torcendo as Escrituras e simulando o poder do Espírito, logo, o dom de discernimento de espíritos continua tão necessário a nós que queremos andar na verdade quanto foi nos primórdios da Igreja!
II. A adivinhadora de Filipos
1. Uma jovem escrava de satanás
O texto bíblico diz que em Filipos, no caminho que já se tornara comum para o círculo de oração à beira do rio (onde Lídia havia se convertido ao Senhor), Paulo e seus companheiros de viagem (ao menos Silas, Timóteo e Lucas estavam com ele) se depararam com “uma jovem que tinha espírito de adivinhação” (At 16.16). Aquela jovem tinha “senhores” de quem era escrava e a quem rendia muitos lucros com sua prática de adivinhação; mas havia outro “senhor” ainda pior, escravizando-a, espiritualmente: Satanás, inimigo de todo bem.
Orlando Boyer pontua que a expressão “espírito de adivinhação” traduz-se literalmente por “um espírito de Pitão, a serpente monstruosa, de cem cabeças que vomitavam fogo, da mitologia [grega]. O Espírito Santo, ao empregar a palavra nesta narrativa, identificava as manifestações do espírito que possuía esta jovem com as que as profetisas, ou pitonisas, pronunciavam em Delfos, inspirados por Pitão” [3]. Champlin explica a origem do uso mitológico das palavras Pitão ou Pitom (gr. phyton), e diz que “o nome pitom (…) veio a indicar adivinhações, ou, por extensão, o demônio profetizador, isto é, alguma espécie de espírito maligno ou deus que pode falar por meio de algum ser humano, a fim de predizer o futuro ou dar informações consideradas importantes” [4]. Isto é suficiente para reafirmamos que sobre aquela moça atuavam mais que truques ou perturbação psicológica, mas verdadeiramente demônios enganadores!
2. A tentação travestida de elogio
O texto bíblico não diz que Paulo foi ao encontro da jovem, tendo-a avistado ou tomado conhecimento dela. Antes, diz o texto reiteradamente que “nos saiu ao encontro uma jovem” (v. 16) e “esta, seguindo Paulo e a nós…” (v. 17). Semelhante descrição é feita sobre o endemoniado gadareno, de quem o texto bíblico diz: “lhe saiu logo ao seu encontro [ao encontro de Jesus], dos sepulcros, um homem com espírito imundo…” (Mc 5.2). É curioso notar como os demônios se antecipam e buscam comparecer diante dos enviados de Deus. Por que será, já que a presença de um ungido do Senhor constitui-se risco de derrota para os demônios? Não deveriam sentir-se amedrontados e fugir depressa ao invés de sair ao encontro dos homens de Deus? Tenho uma tese: primeiro, os demônios não sairão a menos que sejam expulsos – são soldados que não se rendem, precisam serem derrotados; segundo, os demônios buscarão de todas as formas e com todas as artimanhas, preservar os seus domínios – são obstinados e possessivos; terceiro, um dos ardis de Satanás é buscar fazer acordo de paz com os enviados de Deus, garantindo por meios escusos que não será incomodado por eles.
O espírito maligno sabia que uma obra maravilhosa de Deus já havia começado em Filipos, e estava se expandindo da beira do rio para os lares; cedo ou tarde a derrocada do mal seria inevitável. O poder de Jesus aos seus discípulos era para “pisar serpentes e escorpiões e toda a força do inimigo” (Lc 10.17), e breve seria a vez da Pitom ser pisoteada pelo poder de Jesus Cristo através de seus servos. Todavia, astuto como é, o demônio se antecipa, vai à presença dos servos do Senhor e passa a proferir palavras de bajulação: “Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo” (At 16.17). Era verdade o que o demônio dizia, porém, enganosa era a sua intenção! O demônio não se manifestou no corpo daquela moça com gritos e contorções, mas com palavras lisonjeiras.
Essa adulação tinha interesses diplomáticos: eu não mexo com vocês, então vocês não mexem comigo. Pouco se tem atentado para isso, mas o elogio pode ser também um “dardo inflamado” do maligno, para suscitar em nosso coração a paixão pela soberba e a autogratificação, bem como neutralizar nossa autoridade espiritual contra o erro. Jack Deere dizia que o elogio é um teste raro, porém, mais difícil (de vencer) do que a perseguição [5]. De fato, a perseguição logo pode ser identificada como de procedência maligna, devido sua descarada oposição ao evangelho e violência aos evangelistas; todavia, o elogio pode ser aquele traje de satanás, pelo qual ele vem a nós com sapatinho de lã e com presentinho na mão para nos seduzir e enganar. O livro dos Provérbios já nos adverte: “O crisol é para a prata e o forno é para o ouro, mas o que prova o homem são os elogios que recebe” (Pv 27.21). Já parou para pensar que alguns dos elogios que você recebe podem ser tentações do diabo para inchar seu coração, enchê-lo de orgulho, fazê-lo prepotente e desviá-lo da humildade e dependência divina? É conhecida a história de John Bunyan, autor do clássico O Peregrino, que ao descer do púlpito após uma pregação, ouviu uma senhora lhe dizer: “Que esplêndido sermão, reverendo!”, ao que ele respondeu: “Satanás me cochichou a mesma coisa quando eu descia do púlpito”.
Donald Gee nos instrui contra a busca frenética por elogios:
“A busca de elogios e popularidade extravagante pode ser uma outra intemperança de espírito. Todos nós gostamos de ser admirados, e um pouco disso é um maná para a alma faminta e bom para todos nós. Mas pode crescer dentro de nós um desejo desordenado de reconhecimento pelos homens, escravizando-nos de tal forma que não queiramos prestar serviço algum, a menos que sejamos adulados e bajulados; incapazes de desincumbirmos bem no ministério específico que Deus nos deu, ou quando incentivados e entusiasmados por uma audiência e por um público entusiasmados. Nesse caso, estamos numa escravidão miserável, e seriamente debilitados em nossa utilidade” [6]
Peçamos a Deus discernimento, pois nem toda palavra verdadeira dita a nosso respeito provém de um sentimento verdadeiro no coração de quem a profere! Algumas vezes é apenas fingimento humano, outras vezes, porém, é adulação satânica para neutralizar o poder de Deus em nós e assim acomodar o reino das trevas em nossa volta. Não deixemos que o vinho dos elogios nos embriague, senão tropeçaremos! Que em nosso coração haja sempre o temor dos salmistas: “Não a nós Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória…” (Sl 115.1).
3. Depois de muitos dias
É curioso notar que Paulo não repreendeu de imediato o espírito maligno que atuava sobre a jovem. O texto bíblico diz que os elogios sedutores do espírito de adivinhação se prolongaram por “muitos dias” (At 16.18), o que nos faz propor algumas perguntas: (1) Paulo tinha certeza desde o primeiro momento que se tratava de um espírito maligno, e apesar disso resolveu apenas ignorar? (2) Paulo por algum momento acreditou tratar-se de um elogio sincero procedente de um coração descrente? (3) Paulo pensou tratar-se de um elogio sincero procedente de uma escrava convertida? (4) Paulo tinha dúvidas sobre a procedência daquele elogio e preferiu dar tempo para examinar o discurso e a conduta daquela jovem, a fim de tomar uma decisão correta? As respostas não podem ser dadas dogmaticamente, mas parece que os questionamentos (1) e (4) são mais pertinentes. Todavia, a verdade que se assimila com esse texto é que nem sempre a operação do engano será discernida e repreendida imediatamente, mesmo mediante a presença de pessoas dotadas com a maior variedade de dons espirituais, como no caso do apóstolo Paulo.
É comum as pessoas cobrarem decisões apressadas do pastor da igreja ou líder de departamento na congregação local, todavia, às vezes é preciso “dar tempo ao tempo” para que as coisas se revelem com maior clareza. Como as razões da angústia da mulher sunamita estavam inicialmente ocultas ao profeta Eliseu (2Re 4.27), muitas vezes Deus permite que um véu se ponha entre nossa dúvida e a resposta, e as razões disto podem ser as mais diversas. Crentes há que pensam equivocadamente que todo pastor deve ter um olhar de raio-X para ver até pecados ocultos dos membros e aplicar-lhes a devida disciplina. “O pastor não está vendo isso não?”, perguntam os mais insatisfeitos. Outros há que pensam que o pastor deve ter uma decisão sempre pronta debaixo do braço para informar de imediato quem está certo e quem está errado numa determinada contenda. Certamente, ao pastor ou líder que ora e que tem a Palavra de Deus como lâmpada para os seus pés e luz para o seu caminho (Sl 119.105), Deus dará a resposta, mas ela poderá vir somente depois de “muitos dias” como foi a Paulo no caso da jovem pitonisa, ou como foi a Josué no fatídico caso de Acã, que ocultou peças proibidas em sua tenda. Nas palavras do apóstolo Paulo: “Os pecados de alguns são evidentes, mesmo antes de serem submetidos a julgamento; ao passo que os pecados de outros se manifestam posteriormente” (1Tm 5.24, NVI).
III. Desmascarando os ardis de Satanás
1. A libertação da jovem adivinhadora
Após os muitos dias de assédios feitos pela boca da jovem escrava, Paulo de tal modo incomodou-se (o texto grego sugere enfado, como que dizendo: Paulo, cansado de tanta adulação…) e se votou ao espírito maligno ordenando no nome de Jesus que saísse daquela jovem (v. 18). Demorou muitos dias para o apóstolo do Senhor dar a palavra de ordem, mas não demorou nenhum dia sequer para o demônio cumpri-la: “na mesma hora, saiu”. A promessa de Jesus foi: “em meu nome expulsarão demônios” (Mc 16.17), e a promessa agora, reivindicada por um crente santo e fiel, estava cumprida.
O texto não nos informa se aquela moça veio a se converter ou não, até porque a despeito de sua libertação do poder do demônio, ela continuava sendo escrava de seus senhores humanos, que talvez a tenham impedido com ameaças de seguir os cristãos. Mas o fato é que a porta de salvação estava aberta para ela, e agora ela já não estava mais sobre os domínios de espíritos malignos para a impedirem de entrar por esta porta.
2. A necessidade do dom de discernir
Donald Gee, que vivenciou dias áureos da expansão missionária pentecostal, faz-nos importante alerta: “Satanás irá destruir o avivamento mais próspero se esse dom não intervier. Algumas vezes o evangelismo dotado sofre terrivelmente pela falta de discernimento nas coisas espirituais” [7]. Certamente, os demônios se acomodariam e os apóstolos do Senhor teriam suas forças espirituais diminuídas se não fosse o discernimento espiritual operando ali, clareando os espíritos que operavam nas trevas e habilitando os servos do Senhor a repreendê-los e afugentá-los.
Em dias de tanta apatia espiritual e desinteresse pelo estudo das Sagradas Escrituras, além da proliferação do engano, especialmente entre os crentes (veja-se quantos falsos ensinos e quantos falsos profetas existem por aí!), creio que as palavras do renomado pregador inglês do século 19, Charles Spurgeon, são por demais adequadas:
É doloroso observar quantos estão prontos para abraçar qualquer coisa, bastando que lhes seja apresentada com ardor. Engolem remédios de todo e qualquer charlatão espiritual que tenha suficiente convicção mascarada para parecer sincero. Não sejam crianças no entendimento, mas submetam tudo à prova cuidadosamente, antes de aceita-lo.
E aos pastores e pregadores Spurgeon aconselha em seguida:
Peçam ao Espírito Santo que lhes dê o dom de discernimento, de modo que possam conduzir os seus rebanhos para longe das campinas venenosas e leva-los a pastagens seguras [8]
O sentimento de Spurgeon é compartilhado pelos genuínos servos do Senhor, autênticos pastores, pregadores e ensinadores da Palavra de Deus. Vejamos como Reinhard Bonnke, um dos mais renomados evangelistas pentecostais do nosso tempo, descreve a mesma situação:
Somos advertidos a avaliar o que é dito ou feito, pois os crentes não devem aceitar tudo o que ouvem, em especial aquelas palavras que, supostamente, vêm do Senhor, ou que falam de Deus. A aceitação sem muito critério das chamadas profecias, e as reivindicações do conhecimento e revelação sem que haja uma verificação adequada, é considerada tolice na Bíblia. Entretanto, infelizmente, isso é bastante comum. É espantoso como as pessoas são tão ingênuas! Constantemente, vemos alguém sendo enganado, às vezes, em pequenas questões, produzindo incontáveis novas seitas e fanatismo. E isso muitas vezes levando até mesmo a tragédias e mortes. [9]
3. Os caminhos para receber o discernimento
Já dissemos que o discernimento pode operar de modo ordinário (pela maturidade) ou de modo extraordinário (pelo dom espiritual). Explicaremos um pouco mais sobre o modo ordinário do discernimento espiritual, visto que dessa forma todos os crentes podem investigar a origem das manifestações espirituais em sua volta.
A maturidade cristã, alcançada paulatinamente pela oração constante, pelo estudo regular da Palavra, pelo discipulado sólido, pela comunhão com Deus e com sua igreja, além de conhecimentos obtidos do cotidiano, é o caminho ordinário, isto é, comum, para que todo crente tenha uma aguçada capacidade de discernimento. É neste sentido que o texto de Hebreus fala: “Mas o alimento sólido é para adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal” (Hb 5.14). Em virtude disso é que o Espírito Santo está interessado em nosso desenvolvimento (Fp 2.12), crescimento (Ef 4.15; 2Pe 3.18) e progresso (1Tm 4.15), para que não sejamos mais meninos inconstantes (Ef 4.14), nem tenhamos uma mentalidade infantil que facilmente se deixa enganar (1Co 14.20).
Igualmente, a Palavra de Deus, estudada com regularidade e profundidade, é um poderoso auxílio ordinário na tarefa de discernir os espíritos, já que ela é “viva e eficaz, mais penetrante que qualquer espada de dois gumes, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12). Não à toa ela está contada entre os equipamentos da armadura de Deus, como já vimos no estudo de Efésios 6. Em meio às batalhas espirituais desta vida, o cristão que não tiver afinidade com as Escrituras caminhará às cegas e facilmente cairá nas armadilhas dos adversários. Satanás não precisa de muitas astutas ciladas para apanhar e aprisionar um crente ignorante de Bíblia! Por outro lado também, o crente que não examina as Escrituras, deixa de conhecer a vontade de Deus, perde de viver ricas experiências com o Espírito Santo, devido preconceitos e doutrinas de homens nas quais foi acostumado. Bem disse um ex-presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson: o homem se priva do melhor que há no mundo, quando deixa de ler a Bíblia sagrada! (Cito-o em meu livro Biblifique-se: formando uma geração da Palavra).
Crentes sem discernimento espiritual tanto podem abraçar o erro, como largar a verdade; tanto podem cair no poço do engano, como se privar de mergulhar nas águas do Espírito; tanto podem aceitar a oferta do diabo, como rejeitar os dons do Espírito; tanto podem perder, como podem deixar de ganhar! Quantos estão vivendo na periferia da fé, navegando em águas rasas, sofrendo de nanismo espiritual, porque têm seus olhos vendados e sua mente turvada pela ignorância. Que Deus lhes dê a correta percepção das coisas relacionadas ao mundo espiritual!
Conclusão
Concluirei este estudo tomando por empréstimo as palavras do pregador Spurgeon: “Diletos irmãos, quem pede ao Senhor que lhe dê visão límpida com a qual veja a verdade e distinga os seus frutos, e graças ao constante exercício das suas faculdades obteve capacidade para julgar acuradamente, está preparado para ser comandante das hostes do Senhor”. Minha oração pelos meus irmãos de fé é como a de Eliseu por seu moço Geazi: “Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja” (2Re 6.17). Amém.
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Referências
[1] Dicionário Vine, 7° ed., CPAD, p. 568
[2] Donald Gee. Como receber o batismo no Espírito Santo, CPAD, p. 106
[3] Orlando Boyer. Espada Cortante 2, CPAD, p. 537
[4] R. N. Champlin: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, vol. 5, Hagnus, p. 287
[5] Jack Deere. O poder do profético, Carisma, p. 162
[6] Donald Gee. Op. cit., p. 93
[7] Donald Gee. Op. cit., 106
[8] Charles Spurgeon. Lições aos meus alunos, vol., 1, PES, p. 41
[9] Reinhard Bonnke. Os dons e o poder do Espírito Santo em ação, Bello Publicações, p. 173