Saúde
Desenvolvimento infantil: Como diferenciar um distúrbio do crescimento de nanismo?
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Certificar-se de que o desenvolvimento dos filhos está acontecendo no ritmo correto é uma das grandes preocupações de pais e responsáveis. Mas quem delimita essa régua? E o que fazer quando há algum empecilho nesse processo?
Para começar a responder a essa e tantas outras perguntas sobre o tema, é preciso ter em mente que o desenvolvimento infantil não é linear. Fatores como nascimento prematuro, genética, fatores ambientais e presença de doenças vão influenciar o desenvolvimento da criança.
Dra. Karine Risério, médica pediatra pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e endocrinologista pediátrica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), integrante do corpo clínico do Centro Médico Berrini, explica.
“Por isso, o desenvolvimento infantil deve sempre ser individualizado. De um modo geral, o uso dos gráficos de crescimento padronizados para sexo, idade e população é um excelente instrumento para avaliar se o ritmo de crescimento infantil está adequado para o momento em que a criança se encontra.”
Quais sinais observar
Uma boa forma de acompanhar o crescimento da criança é ficar de olho em sinais como:
- Desaceleração do ritmo de crescimento nos últimos meses;
- Estar abaixo nas curvas de crescimento estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (menos 2 desvios-padrão da média ou menos 1 desvio-padrão do canal familiar);
- Se atentar a sintomas que sugiram alguma doença sistêmica (diarreia crônica, cansaço, febre prolongada, perda de peso, inapetência, etc.);
- Alterações físicas que fujam do padrão de normalidade (encurtamento de dedos ou desproporção entre tronco e membros, fronte proeminente, base nasal rebaixada e arqueamento de membros são exemplos).
Ao notar algum desses sinais, não é preciso se desesperar. O ideal é procurar o pediatra da criança, que irá avaliá-la e solicitar exames caso seja necessário.
“É importante descartar com exames laboratoriais a presença de anemias carenciais, hipotireoidismo, distúrbios metabólicos e até mesmo síndromes genéticas (com cariótipo ou outras análises genéticas). A avaliação da idade óssea com radiografia de mãos e punhos também pode ser útil. A partir daí, exames complementares podem ser necessários”, pontua a dra. Karine.
Caso seja identificado de fato um distúrbio de crescimento, o próximo passo é tratá-lo. Quando identificado precocemente, é possível fazer intervenções sem prejudicar o desenvolvimento da criança.
Há fatores de risco para o desenvolvimento de distúrbios do crescimento?
São fatores de risco para desenvolvimento de distúrbios de crescimento: nascer pequeno para idade gestacional (PIG), prematuridade, antecedente de doenças autoimunes, síndromes genéticas, histórico familiar de baixa estatura, diagnóstico de doenças crônicas, uso crônico de glicocorticoides, infecções de repetição, uso de quimioterápicos ou exposição à radioterapia, entre outros.
Além disso, qualquer doença crônica sistêmica não diagnosticada ou mal controlada pode afetar o crescimento de uma criança. Entre as principais causas de falha no crescimento ou baixa estatura na infância estão deficiências nutricionais, anemia, doenças gastrointestinais disabsortivas que dificultam a absorção dos nutrientes pelo organismo (doença celíaca, fibrose cística, doença inflamatória intestinal, síndrome de má absorção), síndromes genéticas (Turner, Silver-Russell, Down, Noonan, Prader-Willi), displasias esqueléticas (osteogênese imperfecta, acondroplasia, hipofosfatasia) e também doenças endócrinas, como hipotireoidismo, deficiência de GH (hormônio do crescimento), síndrome de Cushing, puberdade precoce e raquitismo.
A dra. Daniela Gomes, médica nutróloga do Hospital Albert Sabin de SP (HAS), destaca a importância da alimentação e de uma boa nutrição na fase de crescimento infantil.
“As deficiências de nutrientes como vitamina A, zinco e ferro na alimentação infantil podem levar ao comprometimento do crescimento. Outra causa importante relacionada a nutrição se dá em algumas situações em que há uma incapacidade de absorção de nutrientes, ou seja, a criança consome os nutrientes de forma correta através de uma alimentação variada, mas não os absorve. Como no caso da doença celíaca, da fibrose cística, da doença inflamatória intestinal, da síndrome de má-absorção e tantas outras.”
São tantos os fatores envolvidos que nem sempre é possível identificar a causa de uma baixa estatura, como explica a pediatra. “Grande parte das crianças com baixa estatura apresentam variações normais do crescimento que incluem baixa estatura constitucional e/ou familiar. Nem sempre a causa de uma baixa estatura pode ser elucidada, a esse grupo definimos como baixa estatura idiopática.”
Qual é a diferença entre distúrbio do crescimento e nanismo?
O nanismo é uma das possíveis causas de distúrbios do crescimento, mas nem todo distúrbio do crescimento está associado a essa condição.
Nanismo é um transtorno que se caracteriza por uma deficiência no crescimento, que resulta numa pessoa com baixa estatura se comparada com a média da população de mesma idade e sexo. Transformada em números, essa medida corresponde a um percentil inferior a três na curva de crescimento estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), ou menor que dois desvios-padrão abaixo da altura média prevista para a idade e sexo, na ausência de causas que justifiquem o retardo no crescimento.
Em geral, o nanismo pode ser classificado em duas categorias:
- Nanismo proporcional: causado por distúrbios metabólicos e hormonais, em especial pela deficiência na produção do hormônio do crescimento ou por resistência do organismo à ação desse hormônio. É chamado assim porque o tamanho dos órgãos mantém a proporcionalidade entre si e com a altura do indivíduo.
- Nanismo desproporcional: o tipo mais comum de nanismo desproporcional é a acondroplasia, uma síndrome genética que impede o crescimento normal dos ossos longos (fêmur e úmero, especialmente), porque acelera o processo de ossificação das cartilagens formadoras de ossos. Assim, as diferentes partes do corpo crescem de maneira desigual. Além da baixa estatura, a pessoa apresenta pernas e braços curtos, cabeça grande e mãos pequenas, características que se tornam mais evidentes, quando comparadas com o tamanho praticamente normal do tronco.
Diagnóstico diferencial de nanismo
O diagnóstico de acondroplasia toma como base o exame clínico e o resultado das radiografias do esqueleto. Os sinais costumam estar aparentes já no nascimento ou logo nos primeiros anos de vida. Mesmo durante a gestação, eles podem ser observados a partir do sexto mês por meio de exames de imagem, como a ecografia e a ultrassonografia. Testes de DNA em amostras do líquido amniótico nem sempre são necessários para fechar o diagnóstico.
É de extrema importância estabelecer o diagnóstico diferencial da acondroplasia com outras formas de nanismo que também provocam baixa estatura e encurtamento dos membros. Quanto mais cedo ele for feito, melhores serão os resultados do acompanhamento clínico que deve ser multidisciplinar, respeitando as peculiaridades de cada quadro.
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