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Deputado de Mato Grosso quer proibir termos como ‘carne de soja’ em produtos alimentícios


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O deputado federal, produtor rural e membro titular da comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, Nelson Barbudo (PSL-MT), protocolou na última semana um projeto de lei que visa proibir o uso da palavra “carne” e seus sinônimos em embalagens, rótulos e publicidade de alimentos que não sejam de origem animal. O parlamentar alega que a nomenclatura utilizada pode induzir o consumidor ao erro, por achar que está ingerindo um alimento nutricional similar à carne animal.
 
A Sociedade Vegetariana Brasileira se manifestou em relação ao projeto. “Vemos com bons olhos a postura de se deixar as coisas mais claras na publicidade de alimentos. Por isso, seria coerente se também fosse proibido colocar propagandas de animais felizes, sendo que a realidade é totalmente inversa”.
 
No texto, o deputado defende que termos como bife, hambúrguer, filé, bacon e linguiça, por exemplo, sejam restritos apenas a “tecidos comestíveis de espécies de açougue, englobando as massas musculares, com ou sem base óssea, gorduras, miúdos, sangue e vísceras, podendo os mesmos serem in natura ou processados”.

Como justificativa da proposta, o texto faz alusão a uma decisão favorável da Assembleia Nacional Francesa, de 2018, de proibir que a nomenclatura de produtos à base de plantas seja associada a produtos de origem animal, o que configuraria propaganda enganosa e, de uma forma geral, resultaria em uma concorrência dos produtos de origem vegetal com os de origem animal.


Deputado federal Nelson Barbudo (PSL-MT) é autor do projeto de lei. Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados. 

O presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira, Ricardo Laurino, avalia que o crescimento do mercado de proteínas alternativas à carne e de produtos vegetarianos e veganos, de uma forma geral, contribuiu para a criação do projeto de lei. “É algo que está acontecendo não só aqui no Brasil, mas em outros países onde as proteínas vegetais estão ganhando um mercado enorme, de forma muito rápida. E não são só as proteínas, as carnes. Os leites vegetais, por exemplo, nos Estados Unidos, foi algo muito forte que pegou os produtores de leite desprevenidos”, diz.

O casal João Lucas e Wanessa Rodrigues, proprietários do restaurante Raposa Vegana, na capital, acreditam que a nomenclatura, na verdade, facilita para os consumidores que desejam substituir os produtos de origem animal por produtos de origem vegetal e não causam confusão com relação ao valor nutricional. “Na verdade não vai lesar o consumidor porque em relação ao valor nutricional, valor de proteína, ferro e algumas vitaminas, muitos produtos são fortificados com essas vitaminas e alguns produtos tem a mesma quantidade ou até mesmo similar aos produtos de origem animal, outros têm até maior valor nutricional do que os produtos à base de proteína animal. Esses nomes na verdade facilitam para o consumidor em saber de como ele vai substituir o produto de origem animal por seu substituto de origem vegetal, acho que acaba facilitando porque a pessoa não precisa pesquisar onde poderá usar, porque a resposta já estará na embalagem”, diz João Lucas.
 
Para o empresário, a questão que deveria ser abordada é em relação a saúde. “A questão principal que deveria ser abordada é que muitas vezes os produtos à base de origem vegetal são mais saudáveis porque tem baixo teor de sódio e de colesterol porque produtos de origem vegetal não possuem colesterol, diferente dos produtos de origem animal, assim como na questão de gordura também, que se você for comparar um embutido de origem animal com um produto de origem vegetal, você vê que o vegetal não tem tantos malefícios para a saúde como os de gordura animal em si”, afirma.
 
MERCADO EM CRESCIMENTO

Pesquisa do IBOPE Inteligência conduzida em 2018 apontou que 14% da população brasileira se declara vegetariana, um crescimento de 75% em relação a 2012, quando a última contagem havia sido feita. De acordo com o primeiro Relatório de Mercado focado no mercado plant-based (à base de plantas) no Brasil, lançado este ano pelo The Good Food Institute, quase 30% dos brasileiros — cerca de 60 milhões de pessoas — decidiram reduzir o consumo de produtos de origem animal nos últimos anos.
 
Segundo a pesquisa, o chamado mercado de alimentos saudáveis no país é o 5º maior desse setor no mundo, com crescimento de 20% ao ano — enquanto a média mundial anual de expansão do setor é de 8%.

No entanto, o levantamento aponta que, como ainda existem poucas opções de proteínas alternativas disponíveis no Brasil, a projeção de demanda desses produtos é feita a partir do que os consumidores que estão reduzindo o consumo de alimentos de origem animal dizem sentir falta.

Mesmo com esse mercado relativamente pequeno, as tendências do setor indicam que a demanda por proteínas alternativas não está sendo atendida atualmente e se mostra como um nicho promissor para novas empresas e produtos do segmento.

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