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Agronegócios

Dependência de fertilizante da Rússia pode gerar perdas ao agro de Mato Grosso


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Especialistas do setor econômico apontam para um cenário de mais crise para o Brasil a partir do conflito entre Rússia e Ucrânia, que desequilibra as relações comerciais internacionais. Mato Grosso, fiel da balança na construção do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, deve sentir com mais impacto os reflexos da guerra no leste europeu. Isso por conta da dependência dos fertilizantes russos usados na produção da safra de grãos local.

Em 2021, conforme os dados divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o estado importou 8 milhões de toneladas de adubo, por meio dos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR). A maior parte veio da Rússia. “O Brasil precisa ficar muito atento a essa questão dos fertilizantes”, alerta Luciano Vacari, do IMAC – Instituto Mato-grossense da Carne.

A preocupação é quanto ao cloreto de potássio. Em 2021, o país gastou mais de US$ 1,3 bilhão na compra do produto.

“É o principal insumo para a nossa produção, que já está em falta. Já está absurdo de caro. Estava em US$ 320 e hoje já passou de US$ 850 a tonelada. Vai ter impacto direto no custo de produção. É um desastre”, afirma Neri Geller (PP-MT), ex-ministro da Agricultura, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

No contexto geral para o país, a previsão é de mais inflação, aumento de preço de combustíveis, consequentemente do frete e dos alimentos.

Mato Grosso será mais afetado do que a maioria dos estados brasileiros, por conta dos fertilizantes. Todo o país vai sofrer por conta da alta dos combustíveis, do petróleo, mas MT, que é o maior produtor agrícola do Brasil, sofre mais pelos fertilizantes

Avalia o professor de economia, Maurício Munhoz

A carne de Mato Grosso também é uma preocupação, embora atualmente o maior comprador do produto seja a China. “Ninguém sai ganhando, todo mundo perde. A guerra promove um desequilíbrio nas relações comerciais. A Rússia já foi nosso maior cliente da carne, mas não é mais”, diz Vacari. Entre 2020 e 2021 houve uma queda de 53% na exportação de carne para a Rússia.

O professor de economia Maurício Munhoz, que escreve para o Rdnews todos os sábados, reforça a preocupação com o impacto do conflito para o estado. “Mato Grosso será mais afetado do que a maioria dos estados brasileiros, por conta dos fertilizantes. Todo o país vai sofrer por conta da alta dos combustíveis, do petróleo, mas Mato Grosso, que é o maior produtor agrícola do Brasil, sofre mais pelos fertilizantes. Agora, se a China entrar na briga econômica, Mato Grosso sofre ainda mais, porque todos sabemos que é o principal destino de nossas exportações”, alerta ele, que também é cônsul da Rússia em Mato Grosso.

Até o momento, a China demonstrou “apoio tácito” a Putin e resistiu em classificar a ação militar de “invasão”. No posicionamento público, o governo chinês disse entender as legítimas preocupações de segurança da Rússia.

Ontem, na reunião da Onu, a China se absteve na votação que buscava aprovar resolução contra a invasão promovida pela Rússia. O Brasil fez um duro pronunciamento e votou favorável a medida, que acabou sendo vetada pela própria Rússia.

Putin argumenta que medida adotada por seu exército não se trata de uma ocupação, mas de uma tentativa de desmilitarizar a Ucrânia, por conta da crescente onda neonazista neste país. Também exige que o país prometa nunca integrar a Otan.

Momento é de cautela

Presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore, também comentou o assunto nesta semana, após retornar de uma viagem para Dubai, onde o protagonismo do agro mato-grossense foi destaque em uma feira internacional de negócios. Para ele, a situação no Leste europeu terá impacto diretamente no preço dos combustíveis e no valor de produção, com destaque para o encarecimento da importação de fertilizantes.

“Mais de 20% dos fertilizantes utilizados no país vem da Rússia e daquele conglomerado, os portos utilizados são de lá. Então, a gente pode ter esse impacto também no custo”, disse ele.

Cadore acrescenta que a agenda da diretoria da Aprosoja-MT nos Emirados Árabes e no Irã foi justamente para tentar buscar novos para baratear os custos dos fertilizantes.

“Então a gente acompanha com apreensão o passo a passo (conflito Rússia X Ucrânia) é que vai nos dizer o que de fato vai acontecer. E obviamente, agora, nesse primeiro momento é um momento de cautela. O produtor deve procurar fugir do ambiente especulativo, não é hora de fazer negócio”, orientou.

Vacari defende  que a solução para o Brasil e Mato Grosso é justamente a ampliação do mercado consumidor da produção local, diversificando também os fornecedores. Dessa forma, o país e o estado não ficam reféns de conflitos e guerras locais ou de maior porte. “A duras penas estamos aprendendo que o melhor para nossa economia é a diversificação das relações comerciais”, diz.

Rdnews.com.br

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