Justiça
Delator afirma que Taques pediu dinheiro para JBS e relaciona evento a encontro com Silval; veja
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Um dos nomes mais falados nos últimos anos no Brasil, e lembrado por escândalos de corrupção, o empresário Wesley Batista, se reuniu com o atual governador Pedro Taques em 2014. Na ocasião, o então candidato chegou a pedir dinheiro para o empresário, um dos sócios do grupo J&F. A informação foi passada por Alan Maluf em sua delação premiada, que perdeu o sigilo nesta sexta-feira (19) após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo o delator, em 2014, antes do término das eleições, Wesley Batista esteve em Cuiabá, e lhe foi apresentado por Fernando Mendonça, que é primo de Wesley e vizinho de Alan. Em uma primeira conversa, Alan já solicitou ajuda financeira para a campanha de Taques.
Depois disso, aconteceram outros dois encontros, sendo que em um deles, na casa de Alan, o próprio governador esteve presente. Neste dia, Wesley deixou claro que tinha intenção de investir em Mato Grosso, construindo novas unidades da Friboi. No entanto, esses investimentos acabaram não acontecendo. “Foi uma conversa para aproximar o então candidato ao empresário”, diz o documento.
Depois dessas conversas, Alan foi para São Paulo para conversar novamente com Wesley, desta vez sobre a abertura de uma conta para tomada de recursos para sua empresa e também para questionar sobre a possibilidade de ajuda na campanha. No entanto, o empresário afirmou que não teria como ajudar na campanha de Taques, e nem com sua empresa.
Reunião com Silval
Na oitiva do empresário, cujos vídeos Olhar Direto teve acesso, o promotor que colheu o depoimento de Alan Malouf cruzou as informações com as repassadas por Pedro Nadaf e que também envolviam a JBS, concluindo as colaborações não confluíam.
Alan explica que em reunião entre Pedro Taques e Silval Barbosa (leia aqui) houve um pedido de doação de R$ 10 milhões. Na ocasião, Pedro Nadaf, apontado como operador de Silval Barbosa, teria sinalizado que o grupo tinha um saldo na JBS e prometeu tentar viabilizar isso para repassar para a campanha de Taques.
“Isso nunca foi contextualizado com Wesley”, diz Malouf ao defender a informação trazida à Justiça. “Se foi passado da JBS para o Silval ou o Pedro Nadaf, nós não ficamos sabendo”, completa.
Wesley Batista é um dos donos do grupo J&F, proprietário da JBS junto a seu irmão, Joesley Batista. Os irmãos foram presos em setembro de 2017, acusados de usar informações privilegiadas para lucrar no mercado financeiro, mas Wesley foi solto em 21 de fevereiro de 2018, depois que a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) substituiu a prisão preventiva dos irmãos por medidas cautelares.
Desde então, Wesley cumpre pena em sua casa. Seu irmão, Joesley, segue preso pois, em setembro, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, havia apresentado uma nova denúncia contra ele, por obstrução de Justiça.
A notícia de que executivos do grupo J&F tinham fechado um acordo de delação chegou a fazer a bolsa despencar e o dólar subir, o que, segundo o Ministério Público, gerou um ganho de R$ 238 milhões aos irmãos.
A denúncia
Em 19 de abril de 2018, foi homologado o acordo de delação premiada, firmado entre o Ministério Público Federal e Alan Ayoud Malouf, com a finalidade de obter elementos de prova contra os investigados na Operação Rêmora, conduzida pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso.
No requerimento de homologação do acordo, o Ministério Público Federal esclareceu que o relator revelou dados de um esquema de arrecadação de verbas, captadas mediante a doação de empresários, e a formação de chamado caixa dois, destinadas à campanha eleitoral de Pedro Taques ao Governo do Estado de Mato Grosso, em 2014.
Segundo asseverou, o retorno aos doadores consistiria na celebração de contratos, regulares ou não, com o Estado de Mato Grosso. O MPF também destacou a existência de vinte cadernos anexados ao acordo de colaboração premiada, nos quais está descrita a interlocução do delator com o governador e outras autoridades que detêm a prerrogativa de serem processadas no Superior e no Supremo, entre elas o deputado federal Nilson Leitão.
Malouf ainda apontou um esquema de desvio de recursos públicos, por meio de fraudes a licitação, no âmbito da Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer de Mato Grosso, durante a gestão do então secretário Permínio Pinto Filho.
Outro lado
Confira abaixo a íntegra da nota emitida pela assessoria do governador Pedro Taques:
Conforme já declarado desde 2016, o governador Pedro Taques nega a prática do chamado “Caixa 2” em sua campanha eleitoral ao Governo de Mato Grosso em 2014 e tampouco autorizou vantagens indevidas a qualquer empresa durante o exercício do mandato. Apesar de citado por delator em acordo de delação premiada, Taques não é réu no processo da chamada “operação Rêmora” e terá direito a ampla defesa nos autos. O governador já constituiu advogados para atuar no processo e garantir que a verdade prevaleça.