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Agronegócios

De marcas globais ao atacadão, a China vai fechando o cerco sobre a oferta de defensivos


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Ao tentar deixar a agricultura com mais opções de agroquímicos para expandir a produção e a produtividade, autorizando em tempo recorde o uso de mais moléculas, o governo acelera – talvez inadvertidamente – o combate ao controle da oferta mundial que já se dá com a consolidação de vários grupos. E da China é que vem o maior risco.

O gigante asiático vai vender caro seu apetite crescente por commodities agropecuárias globais, sendo dono de muito do que se usa contra pragas nas lavouras mais competitivas e tecnificadas.

Não fosse apenas ter comprado a Adama e depois a Syngenta, se colocando entre os players dos defensivos, os chineses estão em um processo rápido de fusões internas entre fabricantes de produtos finais e de produtores de matérias-primas. Desde 2015 vem caindo o número de empresas que pulverizam o fornecimento ao atacadão mundial.

O movimento começou com os ajustes, pelo menos oficialmente, que Pequim quer fazer nas políticas ambientais, que não existiam durante o boom da industrialização. E aquelas empresas que não se adequarem vão sendo fechadas ou terão que mudar de donos. Oficiosamente, concentra o fornecimento.

“E na China, decida-se e cumpre-se”, diz Jones Yasuda, CEO da Companhia das Cooperativas Agrícolas (CCAB-Agro), que presta serviços de inteligência sobre a necessidade de registros de defensivos pelo governo e também na importação de produtos genéricos da China para as 22 cooperativas que estão na sua aliança.

O governo de Jair Bolsonaro registrou 211 novas moléculas desde janeiro – para desespero de ambientalistas nacionais e internacionais -, em alinhamento com os pedidos e promessas de campanha junto ao eleitorado do agronegócio – e com apoio da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), de onde saiu, da presidência, a ministra Tereza Cristina do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

E boa parte teve o gancho técnico da CCAB-Agro, que hoje tem capital majoritário da francesa InVivo, também na Europa operando para cooperativas.

O feeling de Yasuda sobre os propósitos da China, para onde vai várias vezes ao ano e esteve na comitiva recente viagem da ministra, é de que em no máximo 2/3 anos, o número de empresas cairão para 50, entre produtores finais e de insumos. Mais do que encurtar a oferta global, já que a China é obrigada a exportar diante de uma agricultura de pouca expressão em commodity, é ter o controle desse fornecimento.

O primeiro ponto é o desafio dos preços, que se elevarão para os produtores, naturalmente sempre que o fornecimento é mais concentrado. O segundo é o poder de barganha que o país terá ao impor exigências nas relações de trocas.

Ainda que os chineses sejam compradores líquidos de soja, milho, algodão, café e açúcar – para ficamos na agricultura – ou seja, eles necessitam mesmo para alimentar uma massa populacional, o Brasil também é obrigado a vender. Mais de 1/6 da nossa produção é exportada.

CNPJs globais

A China ficou com a Adama e a Syngenta, em termos de nomes globais, mas detém várias outras menores que também fornecem para o mundo.

A Alemanha, que já tinha a Basf, viu a Bayer ganhar mais peso ao incorporar a Monsanto.

Os americanos ficam com a FMC e a Corteva (da fusão entre Dow Agrosciences e DuPont).

Por fora, os indianos comem pelas beiradas com a UPL.

Enfim, os CNPJs globais que já eram pequenos e vão ficando em número menor.

E quando muda um endereço, no Brasil o registro de defensivo de determinada titularidade se perde. Há que se começar do zero, o que para muitos é uma incoerência, desde que se mantenha os princípios legais e exigências de conformidade na produção.

“É outro ponto que precisa ser revisto na lei brasileira de registros de moléculas”, completa Jones Yasuda, CEO da CCAB-Agro.

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