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Como funciona “bilhar cósmico” que impedirá colisões de asteroides na Terra
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Sem tempo, irmão
- Se um asteroide passa por um buraco de fechadura gravitacional, ele irá colidir com a Terra
- Cientistas querem evitar essa passagem, batendo no asteroide com uma nave
- Apophis e o Bennu são asteroides com mais chances de baterem no nosso planeta
- Já foram calculadas três táticas para desviá-los; Apophis pode ser testado em 2029
Você tem medo que um asteroide gigante acabe com a vida na Terra? Calma, cientistas podem ter a solução para suas aflições: sinuca. Isso mesmo. Uma equipe do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) bolou um novo plano para impedir impactos cataclísmicos em nosso planeta. É, basicamente, um bilhar cósmico e superpreciso.
Daqui a nove anos, precisamente no dia 13 de abril de 2029, uma pedra espacial congelada, com cerca de 340 metros de diâmetro (maior que a altura da Torre Eiffel), vai passar raspando na Terra, a uma velocidade espantosa de 30 km/s.
O 99942 Apophis, que ganhou o apelido de “asteroide do juízo final”, deve passar a 33 mil quilômetros de distância da superfície terrestre. Para efeitos de comparação, estamos a cerca de 380 mil quilômetros da Lua. Ele vai chegar mais perto que nossos satélites geoestacionários de telecomunicações, que estão em órbita a 36 mil quilômetros de altitude, podendo até destruir alguns deles.
Ele já havia passado pela Terra em 2013, bem longe, a mais de 14 milhões de quilômetros, e voltará a nos visitar em 2036. Observações iniciais sugeriram que, em 2029, o asteroide poderia atravessar um temível “buraco de fechadura”, como são chamados pequenas áreas no campo de gravidade dos planetas. Eles “puxam” objetos menores para perto, alterando a trajetória deles e criando rotas de colisão.
O resultado? Na passagem seguinte do asteroide, daqui a 16 anos, aconteceria um impacto devastador. Felizmente, essa hipótese já foi descartada nos estudos recentes. Mas não custa se prevenir.
Os pesquisadores do MIT desenvolveram um sistema para decidir que tipo de missão teria mais sucesso em desviar um asteroide que se aproxima. São considerados fatores como a massa, o momento (o “embalo”) e a composição do objeto, sua proximidade com um buraco de fechadura gravitacional, e o tempo disponível até a colisão iminente. A pesquisa foi financiada, em parte, pela Nasa, pelo Laboratório Draper e pela Fundação de Cultura Samsung.
O método foi aplicado nas trajetórias do Apophis e do Bennu, outro asteroide próximo à Terra que está sendo estudado pela missão OSIRIS-REx, da Nasa. Os cientistas consideraram vários cenários em que eles poderiam atingir a Terra nos próximos anos. Os resultados foram publicados na semana passada na revista Acta Astronautica, da Science Direct.
A estratégia está bem longe do estilo do filme “Armaggedon”, com a destruição do asteroide nos últimos momentos antes da destruição da Terra.
“As pessoas, em geral, pensam em estratégias em cima da hora, quando o asteroide já passou pelo buraco de chave e está em rota de colisão”, disse Sung Wook Paek, o líder da pesquisa, em um comunicado do MIT. “O que queremos é impedir que ele passe pelo buraco de chave, anos antes do impacto previsto. Seria um ataque preventivo e sem muita bagunça.”
Mas como seria feito?
Em 2007, a Nasa comunicou o governo norte-americano que, em caso de um asteroide em rota de colisão, a maneira mais efetiva de impedi-lo seria lançar uma bomba nuclear no espaço. A onda de força da explosão iria empurrar o objeto para longe, mas nós teríamos de lidar com uma “chuva” de resíduos nucleares. Por isso, é uma solução controversa.
A segunda melhor opção seria o “pêndulo cinético”, que quer dizer basicamente bater no asteroide para mudar sua órbita, em vez de destruí-lo. Para isso, são usados um ou mais projéteis, como naves ou foguetes, em altíssima velocidade. “É como jogar bilhar”, explicou Paek. Para a tática dar certo, porém, é necessário um enorme nível de precisão, que até agora não existia.
Cedo ou tarde, a Terra estará na mira de um asteroide destruidor de planetas. Então faz muita diferença se as chances de evitar o impacto são de 90% ou de 99,9%. Foi nesta precisão que os cientistas do MIT trabalharam.
O código de simulação desenvolvido pela equipe identifica qual tipo de missão tem maior possibilidade de sucesso em desviar um asteroide, para que ele nem passe por um buraco de fechadura —conhecido, cientificamente, como fenda de ressonância gravitacional.
“É como abrir uma porta que não consegue ser fechada. Se o asteroide passar por ela, é altíssima a probabilidade de colidir com a Terra em um futuro próximo”, ressaltou Paek.
O mapa de decisão criado pelos cientistas considera três táticas:
- Realizar um pêndulo cinético diretamente;
- Mandar uma nave para medir o asteroide e calcular o projétil necessário, disparado depois;
- Enviar duas naves, primeiro uma para medir o asteroide e outra para empurrá-lo levemente para longe da Terra, para que um projétil maior seja lançado contra ele na sequência.
As simulações com o Apophis e o Bennu consideraram diversas distâncias entre cada asteroide e seu respectivo buraco de fechadura e calcularam uma região segura para o desvio, para evitar tanto o impacto com a Terra como a passagem por outro buraco de fechadura próximo. Outro fator considerado foi o tempo disponível para se preparar e agir.
Por exemplo, se calculamos que o Apophis vai passar por um buraco de fechadura daqui a cinco anos ou mais, há tempo suficiente para a terceira e mais elaborada opção (mandar duas naves, para medir e empurrar, e depois um projétil). Se há entre dois e cinco anos para se preparar, a segunda opção é mais viável (uma nave para medições e, então, o projétil).
Se há menos que dois anos, porém, já pode ser tarde demais. A única opção é enviar um grande projétil. “Mas pode ser que a gente não consiga atingir o asteroide com nesse prazo”, disse Paek. O caso do Bennu é parecido, mas, devido à OSIRIS-REx, cientistas já conhecem bastante sobre sua composição. Então, enviar uma sonda de reconhecimento, antes de lançar o projétil, não é essencial.
Com a ferramenta de simulação já construída, os cientistas agora irão estudar outros cenários e táticas. “Em vez de aumentar o tamanho do projétil, podemos calcular múltiplos lançamentos e enviar diversas naves menores para colidir com o asteroide, uma a uma. Poderíamos, também, lançar projéteis a partir da Lua ou até usar satélites antigos como pêndulo cinético”, exemplificou Paek.
Aguardamos ansiosos as primeiras tentativas para esse plano tão ousado; serão nove anos de espera bem longos.
Fonte: www.uol.com.br