Cacoal
Carinho de professor ultrapassa sala de aula e o faz adotar aluna em Cacoal, RO
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A história de Ester Cortês Kertez, de 11 anos, estudante de Cacoal (RO), município a 480 quilômetros de Porto Velho, poderia ter terminado como a de muitos órfãos que ficam no abrigo até a maioridade, porém um pedagogo foi cativado pela meiguice da menina e mudou o destino dela. Da habitual dedicação como professor de xadrez, Rogério Kertez, desenvolveu outro amor, o de pai e quando Ester tinha apenas seis anos, ele e a esposa, a bancária Simone Rodrigues Cortês, decidiram adotar a menina. Com a chegada da aluna, que agora é filha, a família está completa há quase quatro anos.
Rogério é professor há 10 anos e a dedicação no trabalho sempre o colocou como um profissional que vai além das paredes de uma sala de aula. Sempre disposto a ajudar os alunos, não foi diferente com Ester. Rogério a conheceu enquanto dava aulas de xadrez.
A menina chegou a mudar de escola, mas logo voltou, e para o professor, que já sabia da história de vida de Ester, o destino já dava sinais que eles teriam uma ligação maior que somente a de professor e aluna.
“Deus já havia escrito, a gente só fez parte do cenário”, diz Rogério — Foto: Magda Oliveira/ G1
“Eu até me emociono em falar, pois acho que Deus já havia escrito, a gente só fez parte do cenário. Hoje, tudo que faço é pela Ester. Continuo na minha missão do dia a dia de ajudar muitas crianças que passam pelas nossas mãos. Umas vezes cumprimos com sucesso, outras a gente sente que poderia ter feito mais. Mas no caso da Ester, ela está aqui e sabemos que é uma missão para o resto da vida, não só como professor, mas como pai”, avalia Rogério.
Adoção
O casal se inscreveu no Cadastro Nacional de Adoção em abril de 2014 — Foto: Magda Oliveira/ G1
Casados há nove anos, Simone conta que o desejo do casal era ter uma família com filhos. Chegaram a tentar a gravidez natural durante muito tempo, como não deu certo, decidiram procurar ajuda médica especializada, fizeram uma fertilização, mas não obtiveram sucesso. Quando decidiram pelo tratamento também veio a decisão que a fertilização seria feita uma única vez caso não desse certo, adotariam uma criança.
“Quando não conseguimos a gestação pela fertilização, passamos a conversar mais sobre a adoção. Paralelo a isso, o Rogério conheceu uma aluna na escola e ele sempre falava dela. Então eu fui conhecendo a Ester pelo olhar do Rogério”, contou Simone.
Após muita conversa, resolveram colocar a ideia em prática. O casal se inscreveu no Cadastro Nacional de Adoção em abril de 2014. Após essa inscrição, as coisas começaram a caminhar rapidamente, segundo o casal.
“Eu costumo dizer que minha ‘gestação’ durou oito meses, pois esse foi o tempo que conseguimos a guarda da Ester. Foi um período de ansiedade, conhecimento, preparação, até o grande dia em que ela chegou na nossa casa e transformou nossa vida”, detalhou a mãe.
A interação familiar se tornou tão grande que Rogério afirma que muitas vezes esquece que a Ester chegou no meio do ‘percurso’.
“As vezes tenho a sensação que ela nasceu aqui. O xadrez foi o nosso cupido”, diz o professor de forma carinhosa.
“O xadrez foi o nosso cupido”, afirma o professor. — Foto: Magda Oliveira/G1
Ester ficou no abrigo de Cacoal durante dois anos. Todas as tentativas de encontrar alguém da família foram esgotadas e somente após a perda do poder familiar, foi que a criança foi colocada para a adoção.
“Eu sempre quis uma família. Eu lembro que no abrigo eu sentava no balanço e pedia a Deus que me desse uma família. Falei um dia com a psicóloga que queria que o professor de xadrez fosse meu pai. Eu amo tanto eles que não tenho nem palavras para dizer. No abrigo a gente brigava por roupas, pelo banho, aqui na minha casa não é assim. Aqui tudo é meu”, conta Ester.
Abrigo de Cacoal
Ester foi adotada aos seis anos — Foto: Arquivo pessoal / Ester Cortês
A guarda provisória da Ester, foi feita em uma audiência realizada no próprio abrigo de Cacoal, no dia 19 de dezembro de 2014, com a presença do juiz e da promotora. De acordo com a coordenadora do abrigo de Cacoal Pingo de Gente, Sônia Maria Carvalho Selhorst, atualmente o local conta com 13 abrigados de 0 a 17 anos incompletos, sendo que apenas dois estão aptos a serem adotados.
“Eles chegam por meio do Conselho Tutelar e do juiz da infância e da juventude, por sofrerem maus tratos, abandono, violência doméstica e drogas. A pessoa interessada em adotar deve ir até o fórum da criança e juventude fazer um cadastro, passar por uma entrevista psicossocial, fazer um curso e daí então ficar apto a adotar, sendo inscrito no Cadastro Nacional de Adoção, explicou Sônia.