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Cães e gatos usavam máscaras durante a gripe espanhola. E agora, devem?
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Como se não bastasse a distância dos humanos, agora temos que nos cuidar em relação a outros seres amados, os animais de estimação. Um estudo feito por cientistas chineses e publicado pela revista científica Nature assegura que gatos podem ser infectados pelo coronavírus e contaminar outros; cães também podem ser infectados, mas são menos suscetíveis ao vírus. Os especialistas do Harbin Veterinary Research Institute afirmam ainda que galinhas, porcos e patos não pegam o vírus.
A Organização Mundial da Saúde Animal esclarece que os estudos ainda estão sendo aprofundados, mas que “não há evidências de que animais infectados por humanos tenham algum papel na disseminação do Covid-19. Os contágios acontecem de pessoa a pessoa”
A equipe de cientistas, liderada pelo infectologista Bu Zhigao, inoculou o vírus no focinho de cinco gatos. Em dois deles, sacrificados seis dias depois, foram encontrados partículas infecciosas no trato respiratório superior. Os outros três gatos infectados foram colocados em gaiolas ao lado de animais sadios e um deles testou positivo para o coronavírus. Nenhum dos animais, porém, desenvolveu sintomas da doença. Já entre os cachorros, dois dos cinco animais inoculados expeliram material genético viral em suas fezes, mas não foram infectados pelo vírus.
O achado deixa os donos de gatos de orelhas em pé: em 1918, durante a pandemia da gripe espanhola, animais domésticos aparecem em fotos usando máscaras ao lado dos seus donos.
Devemos fazer o mesmo agora? As máscaras para cães e gatos, claro, já viraram um negócio na internet mesmo antes de algum estudo definitivo sair. Enquanto as máscaras para humanos desapareceram, as vendas de máscaras para animais explodiram à medida que a pandemia se alastrou. Onde há uma oportunidade, há um capitalista…
Nas redes sociais da China, desde que começou a pandemia, em janeiro, apareceram várias imagens de pessoas com seus cães e gatos usando máscaras improvisadas nas ruas.
O temor de que os animais de estimação possam contrair o vírus começou após surgirem notícias sobre cães e gatos infectados pelos donos. Em março, as autoridades de Hong Kong fizeram um alerta aos donos de pets para que evitem beijar os bichinhos depois que um lulu-da-pomerânia testou positivo para o corona. Apesar de assintomático, o cãozinho de 17 anos morreu de causas desconhecidas ao deixar a quarentena e ser devolvido à sua dona, uma mulher de 60 anos que havia recebido alta da doença dias antes.
“Donos de animais devem lembrar de adotar práticas de higiene (inclusive lavar as mãos antes e após tocar animais e sua comida, assim como evitar beijá-los) e manter o ambiente da casa limpo e higienizado”, informou o Departamento de Agricultura de Hong Kong. “Pessoas infectadas devem evitar contato com animais.”
Outro cachorro de Hong Kong, um pastor alemão, também testou positivo para o coronavírus no começo de março. Na semana passada, ainda na ex-colônia britânica, um gato testou positivo para o coronavírus, mas sem sintomas da doença. Já havia aparecido outro gato na Bélgica infectado pelo vírus. Em uma coletiva de imprensa, as autoridades belgas disseram ser “um caso isolado”, mas o gato aparentemente foi contaminado pelo dono, que ficou doente após retornar de uma viagem à Itália. Uma semana depois, o gatinho apresentou problemas respiratórios, diarreia e vômitos.
“Donos de pets devem lavar as mãos antes e após tocar animais e sua comida, evitar beijá-los e manter o ambiente da casa limpo e higienizado. Pessoas infectadas devem evitar contato com animais”, informou o Departamento de Agricultura de Hong Kong
Agora foi um tigre, a fêmea Nadia, de 4 anos, que apareceu com coronavírus no zoológico do Bronx, em Nova York. É o primeiro caso de infecção em tigres no mundo. Outros felinos de grande porte do zôo também apresentam sintomas respiratórios. É possível que eles tenham sido infectados por um cuidador contaminado com o vírus, mas assintomático.
“Embora com diminuição do apetite, os felinos no zoológico do Bronx estão se saindo bem sob os cuidados veterinários e estão alegres, alertas e interagindo com seus cuidadores. Não se sabe como a doença se desenvolverá em grandes felinos, já que espécies diferentes podem reagir de forma diferente às novas infecções, mas continuaremos a monitorá-los de perto”, disse o zoológico em um comunicado.
Em artigo no site The Conversation, a pesquisadora em Imunologia e Cirurgiã Veterinária Sarah Caddy, da Universidade de Cambridge, afirma que ainda não há razões para os proprietários de animais se preocuparem, principalmente porque há zero evidências de que eles possam transmitir o vírus a humanos (até agora, a transmissão é de humano para humano).
“Várias questões precisam ser respondidas antes de qualquer conclusão”, diz a pesquisadora. “Muitas pessoas estão se perguntando se o coronavírus detectado no gato realmente é SARS-CoV-2 ou se poderia ser um coronavírus exclusivamente felino que tem infectado gatos ao redor do mundo há décadas. O coronavírus felino é muito diferente do SARS-CoV-2 em termos genéticos. Então, é preciso que o teste correto seja feito para que se possa diferenciar os dois vírus.”
A Organização Mundial da Saúde Animal reforça que os estudos em torno do assunto ainda estão sendo aprofundados, mas que atualmente “não há evidências de que animais infectados por humanos tenham algum papel na disseminação do Covid-19. Os contágios acontecem após contato de pessoa a pessoa”. Os cuidados são os mesmos que em qualquer época: lavar as mãos depois de tocar os animais e suas coisas. Neste momento também é importante mantê-los dentro de casa, assim como nós estamos.
Nada de máscaras para os bichinhos, pelo menos por enquanto.
/www.brasil247.com/