Agronegócios
Biotecnologias reprodutivas estimulam crescimento da raça Senepol no Brasil
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Central de fertilização in vitro, oferece soluções em reprodução e comercialização de animais melhoradores
A raça bovina Senepol conquista cada vez mais espaço na pecuária dos países de clima tropical por ser um taurino adaptado às mais adversas condições, do calor à restrição de pastagens. Também é decisivo o papel desempenhado na produção de carne diferenciada em maciez e que apresente marmoreio – aquela gordura presente entre as fibras –, característica que começa a ser vista em provas de ultrassonografia de carcaça. O maior plantel de Senepol do mundo está no Brasil, com mais de 90 mil animais registrados, número que tende a aumentar nos próximos anos, em compasso com a crescente demanda mundial de alimentos.
Afirmação essa endossada pela própria FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), que estima um crescimento de 70% na produção de comida até 2050, volume necessário para alimentar uma população estimada em 9 bilhões habitantes, hoje somos 7 bilhões. Na questão de produção de carne, a ferramenta de cruzamento industrial é uma alternativa viável para elevar a oferta, cenário que torna o Senepol um aliado poderoso.
“Do cruzamento entre o touro Senepol e uma vaca zebuína nasce um bezerro muito precoce, que se desenvolve mais rápido, chegando ao ponto de abate precocemente e resultando em uma carne de ótima qualidade”, explica o engenheiro-agrônomo Aluísio Fávaro, que trabalha há anos com a raça.
Apesar dos números positivos, o volume de genética do taurino adaptado produzido atualmente é capaz de abastecer somente uma pequena fatia de mercado, que necessita de touros rústicos para cobertura da vacada a campo. Contexto este que faz o Senepol experimentar um crescimento exponencial, cerca de 30% ao ano, tanto em número de animais, quanto de novos criadores. As biotecnologias reprodutivas têm um papel fundamental neste desempenho.
“Ferramentas como a FIV (Fertilização In Vitro) aceleram a produção de animais melhoradores ao contar com profissionais qualificados e receptoras selecionadas”, comenta o médico veterinário Wanderley Zoccoloto, um dos pioneiros na execução de protocolos de FIV no Senepol.
Para preencher a lacuna, Aluísio e Wanderley uniram suas experiências e o bom relacionamento com criadores para lançar a Central Senepol LAB FIV (registro no MAPA: SP-81929-8), que tem o Senepol em sua essência, mas atenderá todas as raças bovinas.
Com um moderno laboratório construído nas instalações da Universidade de Marília (Unimar), a Central Senepol LAB FIV tem à disposição outras duas propriedades, sendo uma destinada ao manejo das doadoras de embriões e outra para abrigar a produção própria de receptoras.
A meta do trabalho é melhorar a eficiência dos pecuaristas, direcionando todos os processos, do acasalamento, aspiração e fertilização dos oócitos até a maturação, implantação do embrião e entrega das receptoras. Neste caso, o investimento equivalente a 21@ de boi gordo ou 27@ para quem desejar o bezerro desmamado.
Zuccoloto explica que o bezerro de FIV, às vezes, resulta em partos distócicos, exigindo cuidados. É por isso que há uma preocupação recorrente com a qualidade das receptoras na central, para que tenham os atributos necessários ao parto, e estejam bem nutridas e com o calendário sanitário em dia.
O banco de receptoras da Central Senepol LAB FIV reúne 400 animais, além de outras 700 disponíveis numa propriedade goiana. São vacas paridas ou novilhas de cruzamento industrial, com boa carcaça e produção de leite. “A docilidade e a eficiência também são diferenciais importantes, ajudando a garantir a rentabilidade do negócio”, complementa Aluísio.
Genética e comercialização
A Central Senepol LAB FIV iniciou suas atividades em 2016, selecionando e multiplicando a genética de vários criatórios. No segundo semestre daquele ano, durante leilão da CMI, em Campo Grande (MS), Aluísio Fávaro e Wanderley Zuccoloto anunciaram os serviços da central e conseguiram formar o primeiro time de aspiração com 20 doadoras de criatórios de SP, MG, GO e MS, entre outros estados.
No início de 2018, chegaram outras 50 doadoras, divididas em três lotes, o suficiente para garantir protocolos o ano todo, mesmo às vésperas da seca, quando, normalmente, costuma esfriar o mercado de FIV. Cerca de 2.000 prenhezes já têm chancela da Central Senepol LAB FIV, produtos que serão comercializados apenas em 2019, em dois leilões.
“Além da hospedagem das receptoras e execução da FIV, criamos um canal de vendas para os embriões, iniciativa que beneficiará muitos criadores, inclusive que está começando no Senepol. A partir da seleção e o direcionamento dos acasalamentos, nossa meta é transformar os leilões da central em um berço de genética superior”, projeta Fávaro.
Projeto este amadurecido em 2017, quando Zuccoloto e Fávaro garimparam 12 criatórios elegendo as melhores doadoras para aspiração. Elas atingiram resultados acima da média e foram negociadas por seus proprietários durante a Exposição Agropecuária de Uberlândia – Camaru. O diagnóstico reprodutivo completo do gado, como exemplo a produção de oócitos por aspiração, influenciou a decisão de compra dos investidores e o evento movimentou cerca de R$ 357 mil.