Medicina
Bateu a cabeça? Entenda os riscos e saiba identificar os sinais de alerta
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Desde aquela pancada em um teto mais baixo até uma queda de mau jeito, bater a cabeça é, no mínimo, desagradável – e, a depender da intensidade do impacto, pode ser bem preocupante.
Nesta reportagem, você verá o que é esperado e quais são os sinais de alerta de que algo não vai bem no corpo depois de bater a cabeça:
- Bati a cabeça. Preciso ir para uma emergência?
- O que é esperado depois de uma batida na cabeça?
- Quais são os alertas de perigo depois de uma batida na cabeça?
- Eu posso dormir depois de bater a cabeça?
- Existem partes da cabeça que trazem maior risco se receberem pancadas?
- Existem pacientes que correm mais risco ao bater a cabeça?
- Como evitar?
- Tive uma batida na região do pescoço. O que fazer?
1) Bati a cabeça. Preciso ir para uma emergência?
Não necessariamente, explica o médico neurocirurgião José Francisco Pereira Jr., sócio da clínica DFV Neuro em São Paulo.
“Saber as orientações ajuda a diminuir essas inseguranças e evita preocupações desnecessárias”, pontua o médico.
Por outro lado, ele lembra que “se o paciente ou quem estiver junto sentir-se inseguro mesmo que já saiba as orientações, é sempre melhor procurar atendimento para orientação profissional, mesmo que seja para ouvir que está tudo bem e não necessita exames”, recomenda.
2) O que é esperado depois de uma batida na cabeça?
Pereira explica que, mesmo em uma batida de cabeça leve, é normal que alguns sintomas apareçam imediatamente e que outros eventualmente persistam. Por exemplo:
- vertigem ou tontura;
- perda de consciência breve (se a pessoa “apaga” na hora da pancada, mas volta a si rapidamente);
- dor de cabeça persistente, mas que não cresce em intensidade (pode ser leve ou moderada, mas não fica mais forte com o tempo);
- vômitos: são bastante comuns em crianças. Se a pessoa vomitar uma vez só, é normal;
- zumbido no ouvido;
- dificuldade de memória de curto prazo: a pessoa pode não lembrar do que aconteceu quando bateu a cabeça ou de algo que lhe foi dito logo após a batida. Também é possível que ela nunca se lembre da batida em si;
- alterações de humor: é normal que a pessoa se sinta mais agitada ou tenha um pouco de insônia, por exemplo, durante alguns dias. Isso não indica, necessariamente, que algo mais grave está acontecendo;
- sangramento nasal.
Outro fator que pode indicar que não foi uma pancada grave é a intensidade da batida – por exemplo, se decorreu de uma queda da própria altura (um tropeço, por exemplo).
3) Quais são os alertas de perigo depois de uma batida na cabeça?
Por outro lado, alguns sintomas indicam que pode, sim, haver um problema mais grave, explica o médico:
- Perda de consciência por mais que alguns poucos minutos.
- Suspeita de crise epiléptica (de convulsão): se a pessoa se debateu ou perdeu urina, por exemplo.
- Vomitar várias vezes.
- sinais de problemas neurológicos: se a pessoa está confusa, falando de uma forma confusa ou não consegue falar, mexer ou sentir uma parte do corpo.
- Se surgem novos sintomas ao longo do tempo: se a pessoa está bem e, ao longo do dia, “ela começa a sentir alguma coisa nova – isso pode ser um sinal de alerta para procurar atendimento”, explica Pereira.
- No caso de bebês, que não conseguem vocalizar os sintomas, é preciso manter a atenção para irritabilidade além do normal ou falta de apetite.
- Sangramento pelo ouvido ou saída de líquido claro, seja pelo nariz ou pelo ouvido, porque pode haver uma fratura na base do crânio
4) Eu posso dormir depois de bater a cabeça?
Sim, diz o médico, mas existe uma necessidade de avaliar a pessoa por um certo período após a batida. Isso vale, principalmente, para crianças e bebês, que podem não ser capazes de expressar os sintomas pós-pancada.
“Não quer dizer que não possa deixar dormir. Pode dormir, é bem comum ter sono depois, mas precisa eventualmente fazer uma reavaliação”, frisa Pereira.
Por exemplo: se a pessoa (ou a criança ou o bebê) bateu a cabeça e está bem, mas foi dormir, “daqui a alguns minutos, você tenta dar uma ‘acordadinha’. Pode voltar a dormir, não tem problema. Vai ver de novo daqui a uma hora como ele tá. Se está bem daqui a uma hora, duas horas, pode ir aumentando o intervalo entre as avaliações”, explica o médico.
Isso serve para verificar se o sono é normal ou se a pessoa está com perda de consciência, por exemplo.
“A diferença entre alguém dormindo e em coma muitas vezes é difícil perceber, a não ser que você tente acordar a pessoa”, diz o neurocirurgião.
5) Existem partes da cabeça que trazem maior risco se receberem pancadas?
Mais ou menos.
Isso porque o risco maior de fraturas no crânio é no osso temporal – aquele que fica logo à frente da orelha (veja imagem abaixo), porque é a área mais fina.
Imagem mostra onde fica o osso temporal — Foto: Reprodução/Wikipedia (Licença CC BY-SA 2.1 JP)
Só que há um detalhe, segundo explica o neurocirurgião: não necessariamente as lesões nessa parte da cabeça ou por pancadas são as mais graves.
“As lesões traumáticas mais graves não estão relacionadas a fraturas. Estão relacionadas ao mecanismo de desaceleração do crânio”, explica. “Às vezes a pessoa nem bateu propriamente a cabeça, mas teve algum tipo de solavanco, e as lesões mais graves costumam vir daí”.
Isso é o que acontece, por exemplo, quando você pisa no freio de um carro com força e o cérebro “chacoalha” dentro do crânio. Esse choque pode causar dois tipos de lesões muito graves: as lesões axonais difusas e o hematoma subdural agudo. Veja abaixo:
- Lesões axonais difusas
São lesões microscópicas nos axônios – uma parte dos neurônios, as células cerebrais. Quando ocorrem, os axônios ao longo do cérebro são danificados. Podem ocorrer em bebês quando eles são sacudidos (“síndrome do bebê sacudido”), por exemplo.
A lesão axonal difusa pode não ser vista numa tomografia e tem potencial de ser gravíssima,explica José Francisco Pereira Jr. Isso porque os neurônios podem morrer, causando inchaço no cérebro e aumentando a pressão dele no crânio (pressão intracraniana).
- Hematoma subdural agudo
É um tipo de hematoma – acúmulo de sangue – que surge entre a camada média e a camada externa do tecido que reveste o cérebro (meninge).
O neurocirurgião explica que essa lesão não costuma estar relacionada a uma fratura, aparecer junto com uma fratura – costuma estar relacionado com desaceleração ou com o impacto do próprio cérebro dentro da caixa craniana pela desaceleração.
Pereira afirma que, no caso de uma lesão mais grave, o paciente vai apresentar alterações neurológicas que indicam a necessidade de uma tomografia.
“Muitas vezes a gente não sabe ainda o que vai encontrar [na tomografia], mas esses sinais neurológicos que indicam a tomografia são mais importantes até do que a própria tomografia”, explica.
“Alguém que chega grave, em coma, no hospital e tem uma lesão axonal difusa, a tomografia pode ser normal em alguns casos. Só que o fato de ter chegado grave já levanta um alta suspeita que tenha tido essa lesão axonal difusa. Você vai tratar esse paciente como grave pelo menos até que ele tenha essa recuperação do nível de consciência. Até que se prove o contrário, se ele chegou comatoso, você trata como traumatismo craniano grave”, afirma.
6) Existem pessoas que correm mais risco ao bater a cabeça?
Sim. Os idosos, por exemplo, ou pessoas que sofrem de doenças neurológicas como Parkinson – isso porque os reflexos de proteger a cabeça vão ficando mais lentos ou deixam de existir (no caso de Parkinson) quando a pessoa sofre uma queda.
“A ação de proteção de queda é reflexo: geralmente as pessoas que estão em condições físicas vão ter mecanismos de proteção – o corpo tem sistemas que conseguem notar alterações na gravidade: reflexos protetores, flexão dos braços. O problema maior é identificar pessoas que tenham dificuldade com esses reflexos”, afirma Pereira.
7) Como evitar?
Veja algumas dicas para evitar as pancadas na cabeça de forma geral:
- No caso de idosos ou de pacientes com Parkinson, o ideal é promover um ambiente seguro, para evitar as quedas – como evitar tapetes, não usar chinelos que saiam facilmente do pé, evitar riscos como escadas e iluminar bem os locais (no caso de o idoso acordar à noite para ir ao banheiro, por exemplo).
- Dentro do carro, evite sentar no assento em que não há apoio para a cabeça (normalmente, o do meio no banco de trás).
- Já para as crianças e bebês, é importante remover obstáculos que possam levar a acidentes e, no caso de bebês a partir dos 3 meses – que já conseguem rolar –, não se afastar da criança em locais onde ela possa cair.
- Também é importante não sacudir o bebê, para evitar as lesões que ocorrem quando o cérebro bate com força no crânio. (Essas lesões costumam acontecer quando o bebê está chorando muito e quem cuida da criança a sacode com força, por frustração; não costuma acontecer por brincadeiras leves de balançar a criança).
- Para pancadas na região do pescoço (veja próxima pergunta), é importante evitar mergulhos em águas rasas ou onde puder haver pedras.
8) Tive uma batida na região do pescoço. O que fazer?
Se bateu a cabeça e relata dor no pescoço – depois de um mergulho em água rasa ou de um acidente, por exemplo – é importante não mexer a pessoa e procurar ajuda médica, ressalta José Francisco Pereira Jr.
“Mesmo que ela esteja mexendo tudo, a dor no pescoço é um sinal de alerta. O recomendado é que a pessoa fique onde está, tente não se movimentar. O que pode acontecer é a pessoa ter feito uma lesão instável. As lesões instáveis da coluna podem fazer com que a coluna se movimente. Nesses casos o melhor é tentar não se movimentar até que seja atendido pelo resgate, que nesses casos deve colocar um colar cervical até que se descarte lesões”, explica.
G1.globo.com