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ANÁLISE: Lula perde chance de reforçar papel de mediador da guerra na Ucrânia
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Seja por incompatibilidade de agenda ou por questões de segurança — como alegaram Brasil e Ucrânia —, o fato é que o presidente Lula perdeu uma oportunidade de um encontro com Volodymyr Zelensky para endossar, na prática, o seu discurso de tentar contribuir para buscar a paz na guerra que se desenrola há 452 dias no país invadido pela Rússia.
A hesitação inicial em aceitar o convite do presidente ucraniano para um encontro bilateral em Hiroshima, durante a reunião do G7, passou a impressão da qual o Brasil justamente quer fugir — a de que está mais alinhado à Rússia.
A estratégia do governo em sua política externa tem sido a de perseguir a tradição de neutralidade e atuar como mediador de conflitos.
Não por acaso, o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, foi despachado recentemente para visitas à Rússia e à Ucrânia. Seria então mais do que natural Lula acolher de imediato uma reunião com Zelensky, como fez o primeiro-ministro Narendra Modi, da Índia, grande comprador de energia e armamento russos e que se absteve na ONU de condenar a invasão.
O premiê indiano sentou-se frente a frente com o presidente ucraniano, ouviu seus argumentos, e ainda saiu como defensor da paz, conforme suas palavras no fim do encontro:
“A guerra na Ucrânia é uma grande questão no mundo. Não considero que seja apenas uma questão de economia ou política, para mim, é uma questão de humanidade. A Índia e eu faremos tudo o que pudermos para resolver a guerra.”
Assim como o Brasil, a Índia integra o Brics, com a China, Rússia e África do Sul.
O governo brasileiro não apoia o envio de armamento a Kiev nem o endurecimento das sanções a Moscou. Por isso, a presença em Hiroshima de dois membros do bloco reticente em condenar a Rússia foi encarada como uma manobra estratégica dos organizadores da reunião de cúpula.
A presença de Zelensky no G-7 não chegou a ser uma surpresa. Ele vem de um périplo por países europeus e de uma reunião com líderes da Liga Árabe com dois propósitos: convencer os aliados de se comprometerem com a coalizão de caças para turbinar sua contraofensiva, e persuadir os indecisos de que está na hora de tomar partido.
O presidente ucraniano deixa o Japão fortalecido. Manteve em seu entorno o foco da reunião das economias mais ricas.
Conseguiu a promessa de Biden de enviar mais um pacote de ajuda para a Ucrânia e, mais importante, dobrou a resistência do presidente americano em mandar caças F-16 para o país e treinar seus pilotos, sob a condição de que os aviões de guerra atuem apenas em território ucraniano.
Quanto ao Brasil, restou a defesa de Lula de conhecidas demandas, como a reforma do Conselho de Segurança da ONU, o multilateralismo e o diálogo para evitar o uso da força.
Embora tenha ressaltado, mais uma vez, sua condenação à violação da integridade territorial da Ucrânia, o presidente brasileiro acabou ironizado por Zelensky, que não apareceu para a não agendada tentativa de encontro entre os dois. “Eu acho que ele deve ter ficado desapontado.”
Seria uma chance para Lula deixar Hiroshima como ator imparcial e mediador da paz que ambiciona ser.
G1