Educação
Alunos da Escola Estadual Professor Roberto Pires fazem teatro para fiscalizar qualidade de escolas em Porto Velho
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Duas bailarinas dançam pronunciando frases críticas à corrupção. De cara, a peça teatral atrai a atenção do público estudantil reunido no pátio da Escola Estadual de Ensino Fundamental Professor Roberto Pires. À frente, o “Anjo Rafael” e “Lúcifer” fazem o julgamento de um grupo de pessoas “mortas no acidente com um ônibus”. Céu e inferno os esperam.
Na apresentação ocorrida nesta quinta-feira (12), o grupo teatral integrou-se aos objetivos do aprimoramento da gestão pública e à transparência, dois dos temas preconizados pelo projeto Estudante Auditor, de inteiração entre escola, família e sociedade.
O projeto que utiliza estudantes como agentes do controle social e estimula o protagonismo juvenil resulta de parceria entre a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) e a Controladoria Geral do Estado (CGE), prevendo ações dos alunos a respeito das condições dos ambientes escolares.
Na sequência da minipeça, ao som da música Heavy Metal do Senhor, de Zeca Baleiro, as almas chegam para serem julgadas. “Chame aquele que gosta de condenar a todos”, diz uma voz. Entra “Lúcifer” com o tridente de isopor, pintado de vermelho.
Um por um, os “mortos” vão dizendo virtudes e vícios que tiveram na Terra.
– Você ajudava seus amigos – pergunta o diabo.
– Claro que não – responde o primeiro.
– Tá vendo, Clara, essa alma é um poço de egoísmo!
Entra a próxima alma, ao som da música Pecado capital, de Paulinho da Viola:
– Fazia coisas boas?
– Eu era auditora fiscal, fiz muitas palestras em bairros – responde a menina explicando que o tributo fiscal distribui bens à sociedade, entre os quais, a construção de escolas, a iluminação pública, o saneamento básico.
– Você tem o seu lugar na barca do céu. A próxima alma!
– Eu fui prefeito, me ajudei muito. Na verdade, não ajudei ninguém, confesso que usei verbas para comprar mansões.
– Essa alma pertence ao capeta! – grita “Lúcifer”, se agarrando a ela. Entra a seguinte:
– Eu era professora, fiz coisas boas, dei aulas pra muita gente.
– Em escola particular ou pública? Reprimiu alunos, foi autoritária?
– Nas duas eu trabalhei, mas passei da particular para a pública e ali fiquei.
– Você tem o seu lugar na barca dos céus.
Encerrado o julgamento, o capeta arrasta suas almas e o anjo conduz as dele até o Céu.
A Escola Roberto Pires tem 1.200 alunos em três turnos e funciona há 33 anos.
“Hoje vocês são torcedores, amanhã serão jogadores e um dia serão também julgados”, diz uma professora no microfone.
Ao final da apresentação, a diretora Helis Vaz dos Reis Chagas homenageou os professores envolvidos no projeto: Alexandrino Rodrigues da Costa, Lurdilene Gomes Amaral, Magda Xisto Reis, Marinete dos Reis Chagas e Rosa Maria dos Santos.
“Vocês serão auditores fiscais por longos dias, deem sequência a esse projeto de proteção aos recursos públicos, multipliquem essa consciência na sala de aula e na vida também”, disse-lhes a auditora Suely Fernandes, coordenadora do projeto na CGE. Ela estava acompanhada de outra auditora, Larissa Ananda.
Segundo Suely, a Escola Roberto Pires está bem cuidada e o engajamento de todos “pode melhorá-la mais ainda”.
Para a subgerente do Ensino Fundamental na Seduc, Mary Kathia, a busca de nova identidade cidadã valoriza alunos, professores e a todos que trabalham nas escolas.
“Eu sou vizinha aqui da escola, já fui companheira de trabalho de algumas pessoas da direção e hoje tenho por ela um olhar pedagógico”, disse Kathia. “Mostrei outro dia ao meu filho Lucas lixeiras quebradas e calçadas arrebentadas, e quando pedi para ele recolher o lixo deixado por um vizinho, ele estranhou, aí eu tive que explicar a ele que isso significava ter consciência ambiental, por isso aquele gesto era importante”, acrescentou.
“MEMÓRIAS DE MINHA AVÓ”
A aluna Letícia Cardoso Vital, 12 anos, 7º ano D, estava feliz. Escolheram um dia especial para homenageá-la pela melhor redação da escola. Também foi aplaudida com palmas, para alegria do pai, o trabalhador na construção civil Nelson Vital.
Letícia escreveu “Memórias de minha avó”. Trecho da redação que concorrerá com outras melhores de diferentes escolas de Porto Velho:
(…) Dona Rosália, de 66 anos, uma mulher que mal sabe ler, porém, viveu períodos importantes da história da cidade onde moramos, como por exemplo, a época em que se construiu a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Ela conta que nessa época, pessoas de diferentes lugares passaram por aqui, ‘gente de língua bem estranha’, diz ela, mas que foram responsáveis pelo início do desenvolvimento do lugar e que muitas famílias que hoje temos aqui foram se formando a partir dessa gente.
Minha avó conta que era muito difícil ir para a escola, por isso não aprendeu muita coisa, mas sempre incentivou os netos a estudarem, pois sempre diz que ‘a gente tem um futuro melhor’. Acredito que até agora isso tem dado certo, do contrário eu não estaria aqui contando essas memórias dela. Ainda tenho muitas histórias que preciso ouvir de minha avó e sei que ainda terei muito tempo para ouvi-as, ali mesmo daquela casa. De janelas abertas, na varanda, ela deitada na rede e eu ouvindo o sussurrar de sua voz cansada e serena”.
O QUE PODE MELHORAR NAS ESCOLAS
? Entrada de área verde, alimentação, auditórios, banheiros, biblioteca, cozinha, depósito de alimentos, laboratórios, pátio e corredores, quadra de esportes, refeitório, salas de aula e sala de informática.
ESCOLAS JÁ AUDITADAS
? Escolas Castelo Branco, Eduardo Lima e Silva e Roberto Pires.
ESCOLAS QUE SERÃO AUDITADAS
? Colégio Tiradentes da Polícia Militar, Centro Educacional Maria de Nazaré, Escolas Flora Calheiros e Murilo Braga.
O QUE É A CONTROLADORIA
A Controladoria Geral do Estado é o órgão estratégico na estrutura governamental. Suas funções consultiva e executiva se ligam diretamente ao Sistema de Controle Interno do Poder Executivo.