Agronegócios
Alteração genética é provável explicação para ‘boi gigante’ da Austrália
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O boi gigante da Austrália virou celebridade na internet e surpreendeu até especialistas. Knickers tem 7 anos, 1,94 m de altura e pesa 1.400 kg, segundo a reportagem da TV australiana 7 News Central Queensland que deu a ele fama mundial.
“Eu já tive a oportunidade de examinar, de ver touros de 1.200 kg, 1.250 kg, que eram animais grandes demais, inclusive impróprios para a cobertura de fêmeas”, lembra o veterinário Enrico Ortolani, que é consultor do Globo Rural. “Mas esté é muito fora da curva.”
As imagens que rodaram o mundo mostram o boi Knickers bem maior do que os “companheiros” de rebanho. Ele é da raça holandesa Holstein-Friesian, que é conhecida pela estatura elevada, e os “colegas” resultam de um cruzamento com a raça japonesa wagyu.
“Isso (um animal como Knickers) seria inviável no Brasil. Apesar de existirem variações dentro da raça e, eventualmente, surgir um indivíduo extraordinário, um touro como esse, de raça leiteira, é raríssimo atingir esse peso e tamanho”, diz Antônio Rosa, especialista em melhoramento animal da Embrapa Gado de Corte de Campo Grande.
Segundo Ortolani, um animal de 7 anos dessa raça holandesa já é considerado bem maduro e tem, em média, 1,70 m de altura, podendo atingir 1.100 kg, 1.200 kg –se não fosse castrado, o que não é o caso.
Para ele, a provável explicação para o gigantismo de Knickers é uma alteração genética.
Cabeceira
“O interessante nessa história é que, quando o sujeito comprou (o boi Knickers), ele já era um animal que destoava da maioria, que a gente chama na pecuária de cabeceira”, explica o veterinário.
O dono, Geoff Pearson, afirmou que o boi gigante foi comprado como líder do rebanho.
O tamanho do animal poderia causar muitas dificuldades, mas acabou salvando a vida dele. Pearson tentou vendê-lo para o abate, mas os frigoríficos locais o recusaram, dizendo que não tinham estrutura para lidar com algo tão grande.
“Às vezes até o ganho que segura a carcaça talvez não seja suficiente para um animal tão pesado assim. Assim como a questão do manejo (de um boi desse porte), que foge completamente do manejo tradicional de um frigorífico”, completou Ortolani. “Sorte dele, né?”
“Aqui no Brasil, do ponto de vista da eficiência econômica, animais pesados demais não são viáveis. Existem indivíduos de até 1,2 tonelada, esses animais não vivem no pasto, se destinam ao melhoramento genético, vão viver em centrais”, diz Antônio Rosa, da Embrapa. “Mesmo assim, não poderiam, por exemplo, inseminar qualquer vaca porque o parto seria difícil.”
Segundo ele, o boi que vai para o abate, que o mercado frigorífico demanda no Brasil, tem de 19 a 22 arrobas, “o que dá em torno de 550 a 600 kg vivo”.